
Desde a confirmação da contratação, em 5 de janeiro, já se passaram 40 dias. Neste período, o armador declarou amor eterno ao azul (cor que também vestia no futebol árabe), despediu-se dos companheiros de Al-Jazira, agradeceu à recepção dos cruzeirenses em Confins, postou foto com a carteirinha de sócio-torcedor do clube e vem mostrando seu dia a dia na Toca ao lado dos novos parceiros. Assim que a temporada começou, passou a atuar como verdadeiro motivador: vibra com os gols, comemora as vitórias, elogia a atuação do time.
Até arriscou um palpite, levando os torcedores à loucura. “Tô avisando que ninguém vai segurar esse time neste ano, e olha que está só começando! Parabéns, Cruzeiro, tá bonito de ver vocês jogando!”, escreveu. Houve gente já pensando numa final de Mundial com o Barcelona; outro avisou que o salário já estava comprometido com as cervejas que vai tomar para comemorar as taças. Mas a maioria dos comentários foi em forma de apelo: eram pedidos para que Thiago Neves estreasse logo. O fato é que está nas mãos da Fifa o dia em que a torcida celeste, finalmente, poderá ver o armador em ação.
Sair de forma litigiosa do futebol árabe não costuma ser boa ideia. É como mexer em vespeiro – a contrapartida costuma ser pesada. Os dirigentes de lá levam a palavra rancor ao pé da letra, fazendo de tudo para empacar a vida do dissidente. Já houve brasileiro que teve até o passaporte confiscado para não poder sair do país. Outros tantos tiveram de acionar a Fifa para poder atuar, e o próprio Cruzeiro viveu esse tipo de experiência quando contratou Diego Souza, em 2013. O argumento era parecido ao de Thiago Neves para a quebra unilateral de vínculo: os salários atrasados. Thiago ainda alega que vinha sendo impedido de exercer sua atividade profissional, pois estava afastado do grupo principal do Al-Jazira e até bancava um preparador físico particular para manter a forma. Com Diego Souza, o veredicto da Fifa, com a liberação para que ele pudesse atuar pela Raposa, demorou mais de dois meses para sair – 76 dias, para ser mais exata.
O processo, no caso de Thiago Neves, está no meio do caminho. O Cruzeiro entrou com o recurso na Fifa, via CBF, no dia 3 deste mês. A expectativa é de que de uma liberação provisória para que ele seja inscrito saia até quinta-feira. Mas nem o clube celeste confirma esse prazo, temeroso de que ele se estenda mais. Fato é que Mano Menezes já falou mais de uma vez que pretende ter o time definido até o fim deste mês. E é sabido que esse time tem Thiago Neves no meio-campo.
Por mais que fisicamente o armador não esteja no gramado, a vaguinha dele na equipe está lá, guardadinha. Alguém ali está apenas esquentando o lugar para o armador, bem naquele trabalho de flanelinha mesmo. Há quem diga que seja o volante Ariel Cabral, e aí Mano partiria para uma estratégia bem ofensiva, com Thiago Neves ajudando na marcação e tendo liberdade de chegar à frente. Outra aposta é a saída de Alisson, com Thiago tendo função mais ofensiva.
Como é um jogador acima da média, ele não deverá ter problema em encontrar seu espaço. Como o Cruzeiro vem atuando bem, está invicto na temporada e não deu chance para a zebra na Copa do Brasil, o próprio cenário está propício para tudo isso. Até para a espera.