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TIRO LIVRE

Rafael, a grande tacada de Mano

Só neste ano, já entrou em campo 23 vezes. Ficou cinco jogos seguidos sem sofrer gols, sequência que o Cruzeiro não vivia desde 1997. E ainda está se consolidando como pegador de pênaltis

postado em 18/11/2016 12:00 / atualizado em 18/11/2016 17:32

Edesio Ferreira/EM/D.A Press

“Olha a tranquilidade do ‘garoto’ Rafael.” “Que bela defesa do ‘garoto’ Rafael.” Em pelo menos uma dezena de vezes, o ex-zagueiro Ricardo Rocha, ao comentar o jogo entre Cruzeiro e Sport, na noite de quarta-feira, se referiu ao goleiro celeste como garoto. A carinha de menino realmente engana. O fato de ter atuado pouco pelo profissional também pode ajudar a confundir a cabeça de muita gente. Mas Rafael Pires Monteiro, nascido em Coronel Fabriciano, já não é nenhum garoto. E isso pouco tem a ver com os 27 anos completados em junho.

Não é exagero dizer que o goleiro criado na Toca se tornou o grande trunfo do técnico Mano Menezes em sua segunda passagem pelo Cruzeiro. Apenas 18 dias após sua volta, com a equipe em meio a grave crise técnica e patinando no Campeonato Brasileiro, o treinador perdeu ninguém menos que o capitão, o goleiro e um dos principais pilares do time – Fábio sofreu ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho direito no empate por 2 a 2 com o Coritiba, no Independência.

Imagino o semblante de Mano ao receber o diagnóstico de cirurgia e ouvir os médicos do clube dizerem que Fábio só retornaria no ano que vem. Bem ao estilo “nada é tão ruim que não possa piorar”. Mano ia para seu quinto jogo e, mais do que nunca, precisava de uma defesa segura para iniciar a recuperação celeste no Brasileiro. Não bastassem todos os problemas que já enfrentava, deparou-se com um que estava fora do script.

A diretoria cogitou a possibilidade de contratar um jogador mais experiente, para suprir a ausência de Fábio. Mas, bem ao seu estilo zen-budista, de nunca demonstrar desespero nos momentos de aperto ou alegria demasiada nos de êxito, o treinador anunciou toda a sua confiança em Rafael, que seria titular tão logo se recuperasse de lesão na mão direita – Lucas França, também prata da casa, foi escalado em uma partida.

Em bom “gauchês”, foi mais ou menos assim: se não tem tu, vai tu mesmo. Rafael era a saída mais factível, mas, nem por isso, menos arriscada. Se há uma posição no futebol que exige ritmo de jogo para bom desempenho é a de goleiro. Os reflexos precisam estar apurados. É necessário precisão no tempo de bola. E tudo isso se consegue atuando. Última instância na retaguarda de um time, se ele falha dificilmente há alguém para limpar sua barra. Some-se a esse cenário a situação calamitosa do Cruzeiro, com o fantasma do rebaixamento a rondar a Toca, o consequente clima de instabilidade e as cobranças.

Pois Rafael enfrentou não só esses obstáculos. De carona, veio a desconfiança natural sobre alguém que passou a maior parte da carreira à sombra de Fábio. Sem reclamar. Resignado. Quase num sistema de submissão absoluta à condição de eterno reserva do veterano.

As dúvidas foram se dissipando jogo a jogo. Defesa a defesa. Com maturidade à altura de um “garoto” de 27 anos. Na noite de quarta-feira, Rafael completou sua 58ª partida com a camisa cruzeirense. Isso em oito anos de profissional (estreou na vitória por 2 a 1 sobre o América, num amistoso em 29 de maio de 2008, no Horto).

Hoje, ele vive o ápice de sua trajetória. Só neste ano, já entrou em campo 23 vezes. Ficou cinco jogos seguidos sem sofrer gols, sequência que o Cruzeiro não vivia desde 1997. E ainda está se consolidando como pegador de pênaltis: defendeu três das quatro penalidades sofridas pela Raposa nesta temporada, com ele sob as traves. Na única que não pegou, Diego Souza mandou no travessão. Aliás, em seis cobranças como profissional, defendeu nada menos do que quatro. Rafael, que já estava bem crescidinho, finalmente apareceu.

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