Perder por 4 a 0 em casa significa, quase invariavelmente, que o treinador do time derrotado terá de dar longas explicações e será “bombardeado” por diversas críticas e questionamentos de repórteres. Com Maurício Barbieri, não foi bem assim após a goleada sofrida pelo América para o Figueirense.
Antes do início da entrevista coletiva deste sábado na sala de imprensa do Independência, a assessoria de comunicação do clube mineiro informou que os jornalistas poderiam fazer apenas quatro perguntas - uma para cada presente no local. Os questionamentos sobre o desempenho da equipe na partida da nona rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, portanto, foram bastante limitados.
Resposta
Em contato com o Superesportes, a assessoria de comunicação do América garantiu que a limitação à quantidade de perguntas não tem a ver com o resultado da partida. O clube informa que, a partir de agora, todas as entrevistas coletivas pós-jogo terão este formato, com número limitado e pré-definido de questionamentos - algo bastante incomum em outros clubes e outras ocasiões.
A entrevista
Tem explicação para essa goleada dentro de casa?
“Tem, claro que tem. É lógico que é mais fácil explicar depois, né? Engenheiro de obra pronta tem um monte. Eu acho que a gente tomou um gol cedo, na única jogada que eles tiveram no primeiro tempo, que no meu entender - e segundo conversei com todo mundo - foi um erro do árbitro. Foi falta no João Paulo. E a falta foi clara. Tanto é que eu questionei o assistente e ele me mandou calar a boca e falou que iria me colocar para fora. Questionei o quarto árbitro e ele teve a mesma resposta e a mesma atitude. No segundo tempo, quando informamos eles que a imagem era clara, que tinha sido falta, eles mudaram a postura. Até por isso vocês (jornalistas) me viram indo conversar na beirada do campo com eles. Errar faz parte, é humano, mas errar até certo ponto. O erro técnico é uma coisa, o erro de falta de educação e de critério é outra coisa. Evidentemente, o primeiro gol não pode justificar e nem explicar o resultado. Acho que no primeiro a gente teve o domínio total do jogo. Como eu disse, eles só criaram a chance do gol. No segundo tempo, a gente fez a opção de se abrir um pouco mais, porque precisava buscar o resultado. Por isso, a saída do Juninho e a entrada do Geovane. O Geovane é um meia, não é um segundo volante. A gente não conseguiu impor o jogo. A partir dos 30 minutos, quando a gente tomou o segundo gol, a gente acabou se perdendo completamente no jogo e cedendo os outros gols. São coisas que não podem acontecer e que a gente tem que ajustar para o próximo jogo”
Michel Bastos, na saída de campo, falou que o América teve duas atuações diferentes em cada tempo e que estava com uma dificuldade muito grande para finalizar. Por que essa dificuldade com Rafael Bilu, Belusso e Felipe Azevedo, que já vinham treinando juntos nos jogos-treinos?
“Porque não estava encontrando os espaços, porque o adversário, a partir do momento em que fez o gol, recuou e estava marcando com os 11 jogadores atrás do círculo central. É uma equipe que não cede espaços normalmente, tanto é que eles só perderam um jogo na Série B, que foi para o Bragantino. É uma equipe que se defende muito bem. A gente tinha dito isso, tinha dito que precisava dar velocidade na bola, trabalhar, buscar os espaços com paciência. Até por isso, no primeiro tempo, a gente rodou bastante a bola. E eu entendo a torcida vaiar, porque ela queria que a gente fosse mais agressivo e buscasse o gol. Mas a gente sabia que, se buscasse o gol de qualquer maneira, ia ficar exposto como a gente ficou exposto no final do jogo e acabou levando os gols”
Como você consegue traduzir essa confiança de ir bem nos jogos-treinos, de fazer uma boa intertemporada e chegar aqui e perder o jogo? Como trabalhar essa confiança do grupo para a sequência?
“É sentar, conversar e ajustar. Antes do jogo, falamos que jogo-treino é uma coisa e oficial é outra. O grupo está muito motivado e empolgado para buscar uma vitória. Agora, tem que saber absorver isso, tem que ter maturidade. Acho que a gente precisa conversar de uma outra maneira sobre confiança. Confiança parte de si mesmo. Não preciso que ninguém de fora me dizendo o quanto sou bom, o quanto é bom meu trabalho. Certo? Trabalho, tenho consciência do que estou fazendo. E os jogadores é a mesma coisa. Ninguém precisa esperar vir nada de fora. Eles sabem da competência deles, do histórico deles, por onde passaram, o que já conquistaram. É ajustar dentro de campo e continuar buscando as vitórias. Elas vão aparecer, tenho certeza. A gente evoluiu muito na intertemporada. É uma pena que o resultado do jogo não me permita aprofundar nesse discurso. Essa é a verdade. A gente tem que olhar para dentro agora, tem que ajustar as coisas e pensar no próximo desafio”
Você falou sobre evoluir. Ficou muito abaixo do que você imaginava para o primeiro jogo? Outra coisa é sobre a estreia do Michel Bastos. O que você achou da estreia dele?
“Eu acho que o Michel fez relativamente uma boa estreia. É claro que ele ainda precisa de mais jogos, mais ritmo. Ele acabou fazendo alguns jogos-treino, mas não atuou 90 minutos. Então por isso acho que cai de produção. É normal que ele vá pegando esse ritmo no decorrer dos jogos. Diante de um resultado desse, é difícil de falar de expectativa e rendimento. Acho que no primeiro tempo a gente teve a postura que esperava, apesar de ter tomado um gol no único lance. No segundo tempo, a gente se perdeu após o segundo gol. São coisas que não podem acontecer. Tem que ter mais maturidade, mais cabeça, para manter as coisas no lugar e terminar o jogo de melhor maneira”