Ex-presidentes, funcionários, conselheiros e ídolos do Cruzeiro foram pegos de surpresa no começo do mês com a demissão de Rita de Cássia Pereira, gerente de Relações Públicas e Responsabilidade Social, que estava no quadro do clube desde 1994. Assim como outros funcionários de carreira que também se despediram nos últimos meses, ela desconhece o motivo de sua saída.
Em 25 anos, Rita atuou em diversas frentes e participou da implantação ou ampliação de assessoria de imprensa, departamento de marketing, estatísticas do futebol, relações públicas, área de responsabilidade social e de relacionamento, inclusive com ídolos históricos e artistas. Em boa parte do tempo, ela também coordenou a entrada dos mascotinhos em campo em dias de jogos; ações com os mascotes Raposão e Raposinho; e organização de eventos.
No período, trabalhou nas gestões dos presidentes César Masci, Zezé Perrella (4), Alvimar de Oliveira Costa (2), Gilvan de Pinho Tavares (2) e no começo do mandato de Wagner Pires de Sá.
No período, trabalhou nas gestões dos presidentes César Masci, Zezé Perrella (4), Alvimar de Oliveira Costa (2), Gilvan de Pinho Tavares (2) e no começo do mandato de Wagner Pires de Sá.
Surpresa
“Não sei o motivo, não deram justificativa. Aliás, ninguém da diretoria conversou comigo. Quem me chamou para me dar a carta de dispensa foi uma funcionária do Recursos Humanos. Não faço a mínima ideia do motivo, principalmente porque havia começado a fazer um trabalho bacana junto com Herminio Lemos, primeiro vice-presidente, de valorização dos funcionários, para melhorar o clima. Com os associados, tínhamos um planejamento de reaproximação e fidelização. Com a escola de esportes, iniciamos um projeto interessante. O serviço estava andando bem. Talvez eu não tenha me adaptado à filosofia de trabalho deles”, disse Rita de Cássia à coluna Jogo Rápido.
Comoção entre grandes ídolos
A demissão de Rita de Cássia foi sentida especialmente por ex-jogadores e grandes ídolos do Cruzeiro. É que, há alguns anos, a relações públicas iniciou um trabalho silencioso para encontrar todos os atletas que já defenderam o clube. O resultado desse esforço culminou, entre outras ações, com a criação do grupo de Whatsapp Ídolos Eternos, onde todos recebem informações de eventos, homenagens e também interagem entre si.
Mensagens de conforto
Tão logo anunciou sua saída do Cruzeiro, Rita recebeu telefonemas e mensagens de atletas de diferentes gerações. A seguir, alguns deles: Piazza, Dida, Nonato, Ricardinho, Ademir, Douglas, Marcelo Ramos, Paulinho McLaren, Gelson Baresi, Ricardo Pedalada, Toninho Almeida, Heyder, Robson, Aelson, Cláudio Caçapa, Ruy, Donizete Amorim, Luisão, Vitor, Arley Alvares, Tôto, Reginaldo e Gladstone.
“Depois da minha saída, soube que o time máster foi fazer um jogo no interior e o assunto entre eles, durante a viagem, foi a minha demissão e o trabalho que fiz por muitos anos. Vários deles me ligaram e relataram a mesma história. Isso não tem preço”, disse Rita.
Trabalhos mais marcantes
Tostão – “Um dos momentos importantes foi conseguir convencer o Tostão a participar do Hall da Fama do Cruzeiro. Por ser colunista e prezar pelo distanciamento, o Tostão estava afastado do clube e se recusava sempre a participar de eventos. Mas, num trabalho feito junto com o Raul Plassmann, conseguimos levá-lo para ser homenageado. Tudo foi feito internamente, porque Tostão não queria nenhuma divulgação.
Dida – “Uma das coisas que também guardo com orgulho foi convencer o Dida, um ídolo eterno, a conceder uma entrevista à Revista do Cruzeiro. Por muitos anos, ele ficou afastado do clube. Mas conseguimos a entrevista e o trouxemos para dentro do convívio com outros Ídolos Eternos. Quando saí, ele me mandou mensagens muito bonitas e sou muito realizada por ter nele um amigo”.
Ídolos Eternos – “O trabalho de resgate do contato com os ex-jogadores e ídolos foi um dos mais importantes. Fiquei muito emocionada de ver o reconhecimento de todos eles a esse trabalho quando anunciei a minha saída do clube”.
Estruturação de departamentos – “Até o ano 2000, o Cruzeiro já era um clube gigante, mas o que muitos não sabem é que era um clube estruturalmente pequeno. Éramos poucos funcionários, mas nós nos ajudávamos. Quando necessário, todos se envolviam nas ações de outros departamentos. Havia ajuda mútua e isso era o melhor de tudo. Participei disso com orgulho”.
Raposão e Raposinho – “Pensando em fazer algo diferente na final da Libertadores de 1997, eu, o Rogério da FAC e colegas de trabalho pensamos em criar uma raposa para entrar em campo. A primeira versão do Raposão surgiu ali. Mas a fantasia que criamos era tão feia, tosca, e o rosto dele dava até medo. Em 2003, quando o Paulo Nélio assumiu a diretoria de marketing, ele reestruturou o departamento e essa ideia do mascote voltou. Fizemos uma enquete que resultou na criação do Raposão que todos conhecem hoje. Veio depois o Raposinho. Hoje, esses mascotes são fundamentais para crianças e têm uma imagem respeitada, pura. É um legado que ajudei a construir”.
Ações de responsabilidade social – “A participação do Raposão e do Raposinho em projetos sociais, em visitas em escolas, hospitais, creches, asilos, é uma grande conquista. A gente já soube que a presença deles em hospitais, escolas de crianças especiais, como fez diferença na recuperação de um doente ou no desenvolvimento de uma criança ou de um adolescente. Esse trabalho social que o Raposão faz também é muito importante e virou case no Brasil e no exterior. São coisas simples de se fazer e que têm um resultado muito positivo”.
Projeto de Adoçao Tardia – “Hoje, esse projeto não está mais em andamento. Mas um caso em especial mostra a importância do engajamento do Cruzeiro nessa ideia. Foram 28 crianças e adolescentes participando. A maioria deles foi adotada ou entrou em processo de adoção. Um caso em especial chamou atenção: um adolescente, com doença terminal e cadeirante, tinha o sonho de ser adotado. Por meio da campanha que fizemos, uma família de Curitiba conheceu a história dele e o adotou. Meses depois da adoção, ele morreu. Mas só o fato de saber que ajudamos a realizar o sonho dele, já valeu muito”.
Festas históricas na cidade – “Após as conquistas da Copa do Brasil de 1996 e da Libertadores de 1997, conseguimos organizar festas que tomaram as ruas de Belo Horizonte. A estrutura que tínhamos era pequena, mas todos nos envolvíamos. Fizemos muitos daqueles eventos por BH com muito suor. Em algumas oportunidades, como na final do Mineiro de 1997, paraquedistas desceram no gramado do Mineirão. As festas dos títulos brasileiros de 2013 e 2014, e da Copa do Brasil de 2017, também foram marcantes e nos orgulharam muito.”
Gratidão
Apaixonada pelo Cruzeiro desde a infância, Rita de Cássia conta que era levada aos jogos no Mineirão pelo pai e por um dos irmãos. Já adulta, escreveu uma carta ao presidente Salvador Masci, em 1989, dizendo que a década de 1990 seria de vitórias. Em 1994, ela foi contratada por César Masci e participou de uma era de muitas conquistas. “A década de 1980 tinha sido muito ruim. Na carta que escrevi ao presidente, disse que a década de 1990 seria nossa. E realmente foi. A gente ganhou muitos títulos. Trabalhar no Cruzeiro foi um sonho realizado. Eu sempre fui cruzeirense. Acho que nesses 25 anos ajudei o Cruzeiro a ter uma imagem forte. Eu faço parte de todas essas conquistas. Gratidão a Deus.”