A pergunta que mais ouvi na última semana é esta: “Jaeci, o Atlético tem chances de reverter a vantagem do Cruzeiro?”. Chances tem, pois o futebol é o único esporte coletivo em que o mais fraco pode ganhar do mais forte. Porém é improvável. Vejam bem: improvável, pois o impossível no futebol não existe. Se o Galo tivesse R10, Jô, Tardelli e Bernard as chances aumentariam sobremaneira, principalmente por ser o jogo no Horto. Mas, com Luan, Patric e companhia, realmente é muito difícil acreditar nisso. A não ser que o Cruzeiro faça dois gols contra, no primeiro tempo, e que Fábio falhe, coisa quase impossível de acontecer. Se eu tivesse 10 milhões de dólares, não hesitaria em apostar tudo na classificação do Cruzeiro. Eu não fico em cima do muro, não faço média, não puxo o saco de ninguém. Tem gente que, para fazer média com o torcedor, ilude e cria uma ficção. Não é o meu caso. O time atual do Cruzeiro é mais forte, tem mais grupo, mais banco, mais técnico, mais tudo. Deve garantir a vaga com tranquilidade. E, se bobear, ganha outra vez, mesmo no Horto, onde o Galo é forte e vingador.
Quando as competições pararam por conta da Copa América, eu disse que, naquele momento, se o Galo pegasse o Cruzeiro, passaria, pois vivia momento melhor e exploraria o ápice da crise política do time azul. Porém, a parada fez bem aos jogadores celestes e parece ter feito mal aos atleticanos. O que vimos do Galo, na quinta-feira, foi um filme de terror. Um time desorganizado, sem corpo nem alma. Não há um jogador que seja referência, não há um criador de jogadas, nem um centroavante definidor. Os laterais são fracos e o meio-campo confuso. A classificação no Brasileirão é mais fruto dos adversários ruins que tem pegado do que propriamente de seu futebol. E vale lembrar que os times que disputam a Libertadores, com chances de ganhá-la, estão jogando o Brasileirão com times reservas. Na hora em que entrarem realmente na briga, vão disparar, como está fazendo o Palmeiras e, provavelmente, fará o Flamengo. Até mesmo o Santos, de Sampaoli, tem dado uma aula de futebol. Eu aprovo a chegada dos técnicos estrangeiros e vejo nisso a grande solução para a Seleção Brasileira. Enquanto mantivermos técnicos brasileiros, e gaúchos, nosso futebol vai continuar na lama, mal tecnicamente.
Sei que Mano é gaúcho e que ganhou duas Copas do Brasil com o Cruzeiro, com chances de ganhar a terceira. Porém, é competição mata-mata, onde a marcação se sobrepõe e os gaúchos adoram mandar matar uma jogada, dar porrada, parar o jogo. Eles não gritam, “toca, dribla, vai em direção ao gol”. É a característica do futebol do Sul, e talvez isso explique o fato de os times de lá não ganharem o Brasileiro desde 1996, com o Grêmio. O Inter não ganha há cinco décadas. A última conquista foi em 1979. Outro dia, conversando com uma amiga que adora futebol, ela disse que o “importante foi ver o Brasil campeão da Copa América”, e que “o futebol que eu quero, não existe mais”. Uma pena que os jovens se contentem com tão pouco. Quando o melhor jogador da Seleção Brasileira, Daniel Alves, tem 36 anos, é porque algo de muito errado existe no nosso futebol. Por que não podemos querer aqui um padrão europeu? Os técnicos querem copiar o sistema do Velho Mundo, escondendo os treinamentos, escolhendo quem vai dar entrevista, mas se esquecem de nos dar um futebol como na Europa. Escondem treinos e na hora dos jogos não vemos nenhuma novidade. É o velho futebol pobre, sem imaginação, sem qualidade.
O torcedor atleticano vai ao Horto sonhando com as viradas épicas da época de Libertadores ou da Copa do Brasil de 2014. Só que, naquele período, o time do Galo tinha Ronaldinho Gaúcho, maestro de uma companhia e maior ídolo da história do clube, justamente pelas conquistas. Hoje a gente olha e vê jogadores sem o menor brilho, ganhando fortunas e dando carrinhos com a bola já na lateral. Chega a beirar o ridículo! Se o atleticano vai ao Horto na esperança de ver uma virada épica, pode desistir. Não acredito e não acho quer vá acontecer. Os tempos são outros. Tempos de jogadores medianos para baixo. Tempos em que os caras não ficam depois dos treinamentos aperfeiçoando cobranças de faltas ou aprimorando domínio de bola ou cabeceio. Já vi jogadores matando a bola na canela. Uma vergonha! Bom, que haja pelo menos paz nas arquibancadas. A Polícia Militar de Minas Gerais, a mais eficiente do país, saberá conter os vândalos e os bandidos travestidos de torcedores. Que o VAR não atrapalhe o espetáculo, pois o que temos visto no Brasil são erros e mais erros de quem está atrás das câmeras e deveria minimizar as falhas dos árbitros em campo. Se for para continuar assim, é melhor acabar com o VAR, antes que ele acabe com a pouca emoção que ainda existe no nosso futebol. Nos mais, bom jogo e bons sonhos, torcedores!