O vice-presidente de futebol do Cruzeiro, Itair Machado, encontrou-se com o presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, propondo o clássico no Mineirão, pelo Estadual, com torcidas dividindo o estádio. Ele perguntou ao presidente Wagner Pires de Sá se teria carta branca para tal e o presidente foi categórico ao autorizá-lo. Bacana essa parceria e, mais ainda, a atitude dos dirigentes, encontrando-se, conversando, mostrando que a rivalidade fica apenas no campo de jogo. Itair é um cara visionário. Sempre gostei muito dele, desde a época em que o conheci, como presidente do Ipatinga. Quando assumiu o Cruzeiro, e foi bombardeado, eu lhe disse para trabalhar com seriedade e critério que ele cairia nas graças da torcida. Até aqui, tem feito trabalho muito bom, com erros, é claro, pois não existe dirigente perfeito. Porém, tem usado a melhor das armas: o diálogo.
É um sonho meu, e de todos os torcedores do bem, ver o Mineirão dividido pelas duas torcidas, sem brigas, sem guerras, sem mortes. De um lado, a força de uma torcida apaixonada e fiel, a alvinegra. Do outro, uma torcida também apaixonada e colada no time, a azul. Dessa forma, vamos mostrar aos bandidos travestidos de torcedores que o país vai mudar. E, como no futebol há muito bandido infiltrado nas chamadas torcidas organizadas, chegou a hora de separar o joio do trigo. Reunir os líderes, como é ideia de Itair, e mostrar que a divisão do estádio será um avanço e que só vai depender do comportamento deles. Temos que voltar aos bons tempos do futebol, onde apenas a gozação saudável tinha espaço.
Sérgio Sette Câmara, advogado brilhante que é, está disposto a sentar-se mais uma vez com Itair para dar continuidade à proposta. Até mesmo o banco de reservas, que fica colado no bandeirinha, o Cruzeiro abrirá mão para o Galo, quando for ele o mandante. Portanto, meus caros leitores e leitoras, caminhamos para a paz nos estádios de Minas Gerais, e essa iniciativa do Cruzeiro é louvável e tem o meu aplauso. Espero mesmo que se confirme e que a Polícia Militar, a melhor do país, dê todas as garantias. É lindo ver o Mineirão com as duas torcidas, incentivando suas equipes. Tivemos isso em décadas passadas, com mais de 100 mil pessoas no Gigante da Pampulha.
O futebol precisa de gente com cabeça boa, moderna, com decisão. Sempre tivemos dirigentes sérios, comprometidos com o futebol e com seus clubes. Gestões espetaculares, como a de Alexandre Kalil, o maior e mais vencedor presidente da história do Atlético, Gilvan de Pinho Tavares, único bicampeão brasileiro de forma consecutiva, e por aí afora. Agora, temos de um lado o presidente Wagner Pires de Sá, a quem não conheço, mas tive as melhores referências por sua honradez, honestidade e competência; e do outro, Sérgio Sette Câmara, um dos caras mais retos que conheço. É hora mesmo de eles se sentarem e aparar qualquer tipo de aresta, em prol de um futuro melhor para suas equipes e suas torcidas. Que todos possam se sentar à mesa, bater o martelo e decidir um clássico da paz, com o Mineirão completamente lotado e dividido nas cores azul e branco, preto e branco, na mesma proporção. Se isso acontecer, de verdade, daremos um passo gigantesco para o futebol mineiro voltar a ser admirado e respeitado Brasil afora. Que essa iniciativa não fique apenas no oba-oba e que seja assinado um documento, como um tratado de paz entre os dois clubes e as duas torcidas. O país precisa desse exemplo. Fiquei muito feliz com essa iniciativa e parabenizo todos os envolvidos.
Fim da linha
O Brasileirão termina hoje, sem deixar a menor saudade. O campeão Palmeiras é um time comum, que joga feio e não é referência. Aliás, não temos uma equipe referência no país, o que é lamentável. Talvez seja o Grêmio, de Renato Gaúcho, a equipe que mais joga bonito no Brasil. Sei que tem torcedor que não quer saber de jogar bonito, quer é comemorar títulos. Cada um com seu pensamento. A minha geração prefere os grandes jogos, os grandes craques, ainda que não tenham ganho o troféu. Prefiro a Seleção de 1982, mesmo com a derrota para a Itália, à de 1994, com a conquista da Copa. A de 1982 entrou para a história como uma das maiores do mundo, em todos os tempos. A de 1994, tem brasileiro que nem lembra a escalação. A diferença está aí. Como sou da escola dos saudosos Telê Santana e Carlos Alberto Silva, prefiro perder jogando bonito e dando espetáculo. Futebol feio e pragmático não é comigo.