Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

O passo a passo da onda azul

Amanhã enfrentaremos a Soberba Futebol Clube, mas também a Aldeia, o recalque da Turma do Sapatênis e nossos próprios sanguessugas

postado em 10/07/2019 08:00 / atualizado em 09/07/2019 21:34

<i>(Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)</i>
Amanhã será dia de medir cada passo do caminhar coletivo em mais uma onda azul rumo ao Mineirão. Andar confiante, vindo dos quatro cantos periféricos de Belo Horizonte ou das rodovias que ligam os trabalhadores do interior mineiro-cruzeirense à capital. Enfrentar o vento frio batendo na bandeira azul e no peito estrelado, até que o coração se aqueça com a certeza do quanto só o Cruzeiro é capaz de fazer uma torcida se legitimar como multicampeã, mesmo diante de tantas tentativas internas e externas de diminuir esse fato indestrutível.

Nunca contamos com ninguém e com nada além dessas nossas próprias pernas de torcedores apaixonados para construir a história do único gigante de Minas Gerais. Façamos dos nossos passos o ritmo da pré-batalha.

Na ânsia de chegar logo à Toca da Raposa 3, estádio construído em 1965 para ser palco da Academia Celeste, se algum pensamento ruim tentar lhe impedir, respire, solte um grito de hexacampeão e ganhe fôlego para retomar a caminhada. Se preciso for, lembre-se que até um passo atrás tem seu papel fundamental em tantas páginas heroicas na Copa (do Cruzeiro e) do Brasil.

Alex transformou o recuo de um passo, com a perna direita, no movimento do gol de letra que deixou sem ar um Maracanã atônito em 2003. Uma semana depois, o mesmo Talento cruzou torto, mas “un pasito” atrás do colombiano Aristizábal foi suficiente para ajustar o corpo e cabecear a bola, estufando as redes e praticamente garantido o título naquele ano.

Foram vários passos atrás dados por Muller, em 2000, quando tentava atrapalhar a barreira do São Paulo e se lembrou de correr até o nosso cobrador e insistir: “Chuta rasteiro”. Geovanni recuou quatro passos, correu e bateu daquela forma para construir a virada mais mágica de toda a história do Mineirão e de um título da Copa do Brasil.

Busque inspiração, seja nos dois passos laterais de Fábio para voar ao encontro da bola no pênalti de Diego, em 2017, ou no dramático passo em falso de Thiago Neves no escorregão do título naquele ano.

Mesmo se você estiver atrasado, preso pelo trabalho ou no engarrafamento do Anel Rodoviário, não desanime. Junte-se a nós no Gigante da Pampulha a qualquer momento, pois foi atrasando a passada que Marcelo Ramos encontrou o ritmo para se posicionar corretamente na falha de Velloso, na noite fria de junho de 1996. Naquele ano, como amanhã, enfrentamos a Soberba Futebol Clube e éramos zebra para a “aldeia”.

Ao dar aquele último passo na subida das escadarias do Mineirão e enxergar o mar azul nas arquibancadas, engula o choro de emoção, guarde as lágrimas não derramadas, molhe a garganta e cante.

Cante sempre por 90 minutos. Pois nós sabemos o que é ser Cruzeiro. Nunca teremos caixas de som a gritar ou políticos a nos favorecer.

Nós somos – e só temos – as nossas próprias pernas desde 1921. Pernas de operários, imigrantes, migrantes, interioranos, pobres, ricos, vencedores com dignidade na vida. Ou simplesmente apaixonados por um clube usado pelos nossos cartolas e odiado pelos dirigentes dos outros, que nunca conseguiram chegar alguns passos próximos da nossa história.

Portanto, companheiro de arquibancada, amanhã, dê um passo de cada vez, porque foi esse seu desejo de caminhar junto ao Cruzeiro, seja onde e como ele estiver, que por seis vezes nos levou a ser o maior campeão do Brasil.

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