Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Hoje é mais do que torcer

Vençam o Fluminense, inspirados não nos 'seus amigos', mas nas loucuras voluntárias que nós torcedores fazemos para garantirmos a renda para seus salários em dia

postado em 05/06/2019 08:00 / atualizado em 04/06/2019 22:51

<i>(Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press)</i>
O céu no sertão e agreste do Brasil é o mais azul estrelado de todos que já vi. Foi debaixo dele, que, em 1998, aportou Bruno, um jovem magro, com alma de índio xucro e um coração impregnado de amor pelo Cruzeiro. Havia partido do bairro Jaraguá, em Belo Horizonte. Levava na mala centenas de mantos sagrados comprados com seu próprio dinheiro, sem nenhum auxílio do clube ou resultado de mimos de qualquer cartola. Estava participando de uma caravana de estudantes do programa Universidade Solidária, mas tinha uma missão secreta...

No ano seguinte, quando uma nova leva de estudantes mineiros chegou à cidade de Jaqueira, nos grotões de Pernambuco, a surpresa e a revelação: ali estava o município mais cruzeirense do mundo! Era um enxame de crianças e jovens vestidos com as cinco estrelas no peito. 

Já em Ji-Paraná, cidade rondoniana do pedaço mais devastado da Amazônia, Wudson era quase um cruzeirense solitário. Mesmo assim, manteve por décadas intacto o amor pelas cinco estrelas. Desempregado, acreditava ser impossível realizar o sonho de rasgar o Brasil e chegar a Belo Horizonte. Gritar pelo seu time amado no estádio construído para ser o palco da Academia Celeste.

Viu seu clamor ser ouvido nas redes sociais. De cá, Mateus, outro louco celeste, que nunca tinha visto Wudson em toda a sua vida, abraçou a missão quase impossível de trazê-lo. Movimentou grandes cruzeirenses. Não só o trouxe como lhe proporcionou experiências inesquecíveis no gramado, na arquibancada e nos bastidores do clube.

Histórias lindas como a de Bruno, Mateus e Wudson nos encantam. A atitude de cometerem - voluntariamente - loucuras pela instituição me serve de alento nesse momento de inversão de valores. 

Revolta ver que enquanto nos permitimos nossas irracionalidades particulares pelo nosso clube amado, o câncer instalado em seu corpo e criado por diversos atores do passado (e do presente), da atual gestão (e da sua oposição), segue o rito do esquecimento e da omissão de seus conselhos deliberativos. 

Portanto, infelizmente, por um instante, deixo de lado a razão maior de rabiscar meus devaneios, ou seja, a minha profunda paixão por contar histórias protagonizadas pela TORCIDA DO CRUZEIRO, para me dirigir a um dos nossos maiores jogadores do atual elenco. 

Thiago Neves, você ganhou (e ainda tende a ter) meu respeito há alguns anos pelo estilo de jogo digno da Academia Celeste, pelos títulos conquistados e em menor expressão, pelas verdades ditas à Turma do Sapatênis. Porém, TN10, ao entrar no campo na noite de hoje, e nos ver gritando apaixonadamente nas arquibancadas, não nos julgue ingênuos em acreditar, que nos tempos de hoje, um jogador atua “por amor” a uma camisa ou instituição. Por outro lado, também não cometa injustiças perigosas como a de dar a impressão de que não somos nós que “fazemos de tudo para garantir o seu salário em dia e suas premiações”. 

Tem todo o direito de defender seus amigos, mas tome o cuidado para não alimentar a falsa ideia de que são cartolas e não a torcida que garante seus salários em dia. É o Bruno, o Mateus e o Wudson. É o pai que gasta um quarto do salário mínimo para comprar a camisa oficial com seu nome às costas para dar ao filho. É o “seu” Oswaldo, que nem vai muito ao estádio, mas faz questão de pagar o seu cartão de sócio-torcedor cativo. São os redutos celestes espalhados por todos os rincões do Brasil a pagarem o pay-per-view para assistir você e o seus companheiros jogar.

E se um dia faltar, peço que leve aos companheiros o pedido para que não nos culpem e jamais nos punam com um futebol preguiçoso e inconsistente. Porque esse caos financeiro e imoral que a instituição Cruzeiro vive não é nossa culpa. Ela é um tumor gerado por diversas diretorias passadas e dos atuais gestores irresponsáveis e investigados.

Portanto, hoje, jogue por nós, mesmo que não nos veja como “seus amigos”. Seja o líder dentro de campo que nos dará a recompensa de ter o Cruzeiro vivo na Copa do Brasil. Porque, TN10, no caso do cruzeirense, o nosso amor sempre estará em dia e o prêmio que oferecemos ao Cruzeiro e aos funcionários (jogadores ou não) da instituição é #maisdoquetorcer.

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