Uma dívida de R$ 500 milhões (ainda abaixo do montante de outros clubes mineiros e brasileiros, entre eles, o Flamengo da Rede Globo) é algo escandaloso. Repugnante aos olhos de um clube sem qualquer mancha de caráter em toda a sua história centenária. Um caos construído agora, em mandatos passados, por décadas e sob a égide de pulhas que se revezaram para aproveitar da falta de punição interna para favorecer-se ou simplesmente não se comprometer com o futuro financeiro do clube.
Mente e tem interesse político quem diz ser algo apenas da atual diretoria. Mentem os atuais mandatários do clube ao atribuírem culpa apenas às gestões passadas. Esses atores, ora inimigos, ora cúmplices, são os ingredientes do caldo podre capaz de ter gerado esse câncer milionário e perto de ser incurável.
Mas eles são a consequência, a multiplicação do tumor. A verdadeira célula cancerígena e que precisa ser extirpada é o sistema político arcaico do Cruzeiro. Ele não permite que os verdadeiros proprietários da instituição (os sócios do clube) e os que formam o seu maior patrimônio (a torcida cruzeirense) possam votar, fiscalizar, cobrar, mudar e ditar o que querem para aquilo que eles próprios financiam e amam, muitas vezes, acima de tudo.
Inaceitável assistir pessoas bem intencionadas serem expulsas por esse sistema que abre as portas para a corrupção e a exploração do clube. A instituição precisa “começar de novo” e ser entregue definitivamente ao seu verdadeiro dono e sua razão de existir: o povo.
O Cruzeiro Esporte Clube construiu sua história sem sequer um traço de canalhice, ao contrário de alguns diretores, dos clubes que sempre tiveram o objetivo de destruí-lo (sem conseguir com as próprias pernas, o que sempre os tornarão minúsculos) e da própria Rede Globo (que deve muito mais do que R$ 500 milhões e não a bancos, mas sim ao governo, ou seja, a você cidadão honesto). Imaginar o meu clube amado no patamar da falta de caráter desses atores, tem dilacerando meu coração celeste, acanhado de decepção e consolado apenas pelos escudos do Cruzeiro e do Palestra tatuados para sempre no meu peito.
Não sou um “idiota útil” a repetir o ingênuo discurso de que não existe motivação financeira e política por detrás dessa avalanche de denúncias que surgiu exatamente na semana da CPI do Mineirão e pós-bienal de títulos nacionais. Porém, também não sou conivente com a mazela em que se transformou a administração do Cruzeiro. Porque o Conselho Deliberativo do clube, que ousou ser gigante frente ao eixo que financia a publicidade e audiência da Rede Globo (SP e RJ), nunca poderia ter se dado ao luxo de ser omisso aos indícios de crime e às irresponsabilidades das suas seguidas diretorias e assim, entregar armas para o jogo covarde da mídia nacional. Agora, isso nos fará sangrar até a saída do último patrocinador e da derradeira joia das divisões de base.
Portanto, é chegada a hora de nós, torcedores-patrimônios e sócios-donos do Cruzeiro, sem nenhuma ligação política dentro do clube, sairmos das redes sociais; da posição de massa manobra de correntes inimigas; da omissão a salários – absurdamente - milionários a dirigentes que se dizem “cruzeirenses”; do ópio do bom resultado em campo e da passividade frente a um técnico que recebe uma fortuna e nos trata como idiotas quando lhe pedimos um futebol arte e ele, na sua empáfia, não consegue arrancar isso de um grupo de medalhões, se esquivando da sua incompetência.
Cabe a nós torcedores de arquibancada, sócios-torcedores e cotistas do clube tomarmos as rédeas dessa situação vexatória, pois técnicos soberbos, diretores irresponsáveis e/ou aproveitadores passam. Nós e o Cruzeiro ficaremos.
Nesse mar de lama, somente nós mesmos, que bancamos o clube com nosso amor, temos a legitimidade para lutar por um novo estatuto, onde tenhamos poder de voto. Onde implementemos – de dentro pra fora - mecanismos de transparência e controle e um conselho ativo, independente e realmente fiscalizador. Onde coloquemos para correr qualquer um que atente contra o estilo de futebol arte que fez da Academia Celeste o único gigante de Minas Gerais. Se tem algo que deu errado não é o Cruzeiro, mas sim, o distanciamento da conduta de seus gestores da real história da instituição.