
Ter história, Felício, passado, Joãozinho e multicampeonatos conquistados é uma dádiva celeste. Quando isso é transplantado para o clube do coração, nos vem o alívio e o agradecimento a quem nos escolheu sermos Cruzeiro. Eu mesmo, todas as vezes em que o Cabuloso me faz brilhar os olhos, os fecho e penso no meu pai. Digo a ele - seis vezes - em pensamento: “Obrigado, velho! Obrigado por me fazer Cruzeiro e não me destinar ao sofrimento.”
A lembrança é algo tão inerente ao ser humano que até no mundo da virtualidade e das redes sociais, ela virou uma ferramenta importante de interação entre as pessoas. Hoje, por exemplo, consultei o Facebook e ele me trouxe a recordação de uma crônica que escrevi há exato um ano. Nela, denunciei a história deplorável de um torcedor monocromático, calçado de sapatênis, que havia humilhado uma aeromoça porque a companhia aérea desejava uma “semana azul” aos passageiros.
Outro espaço interessante das redes sociais é quando elas traçam a nossa linha do tempo. Claro que para o torcedor do Cruzeiro, tempo, história e vida não começam com o advento da internet ou do Ronaldinho Gaúcho. Por exemplo, não existia Facebook em 1976, quando o eterno capitão Piazza levantou a primeira Libertadores das Américas após a batalha do estádio Nacional, em Santiago do Chile.
Quando Wilson Gotardo ergueu a segunda, em 1997, a internet apenas engatinhava no Brasil. No barracão do “Prédio 13” da PUC.Minas, eu batia os dedos na velha máquina de escrever ainda ao ritmo da festa azul. A tinta da letra moldada em ferro surgia do escuro, escorrendo no papel, lenta e chorada como o gol de Elivélton contra o Sporting Cristal.
Assim, naquela temporada, comemorei o primeiro bicampeonato de tantos que o Cruzeiro viria a me dar. Ronaldinho Gaúcho estava com 16 anos de idade na base do Grêmio. Nem sonhava, que outros 16 anos depois, fundaria um clube em Minas Gerais.
O mesmo Facebook, após se tornar a febre mundial do século XXI e conquistar milhões de seguidores, mostrou as garras nefastas da internet. Deixou de ser um ambiente democrático de troca de informações, histórias e lembranças, para se tornar um mercado obscuro, onde quem tem mais dinheiro pode patrocinar seus produtos travestidos de opinião. Foi quando criou o tal “post patrocinado”. É mais ou menos o que a Conmebol fez com a Copa Libertadores a partir de 1998, quando para encher os cofres em detrimento ao bom futebol, inchou a competição lhe transformando num “espaço gourmet”. Incorporando não só os campeões e vice campeões nacionais de cada país, mas também clubes medianos, convidados ou classificados em seletivas.
Mas não só de lembranças boas ou ruins vive o ser humano e as redes sociais. Somos também o agora, o instantâneo. E hoje, 6 de março de 2019, estamos novamente às vésperas de começar mais uma edição da Copa Libertadores.
Não será daquelas “raiz”, mas terá o seu maior gigante brasileiro, o Cruzeiro La Bestia Negra. O nosso “post patrocinado” não é nem de perto milionário como o dos agiotas do Palmeiras. O time não está jogando por música como se esperava no início da temporada, quando nos reforçamos com Rodriguinho e Cia. Seremos obrigados a assistir aos jogos como visitante via transmissão do Facebook, ou seja, com um atraso entre o lance real e a imagem próximo de um jogo narrado pelo Rubens Barrichello. Mas não há porque compartilharmos o desânimo quando no nosso peito estão as cinco estrelas.
Sendo assim, estamos aqui roendo as unhas de ansiedade, contando os minutos para o início da partida contra o Huracán. Quinta-feira, quando a camisa azul estrelada adentrar o gramado do Estádio El Palacio, vamos evocar Joãozinho para driblar a desconfiança, pois o tricampeonato está aí para ser conquistado.
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