Se há 6+1 anos o adversário do Cruzeiro na última rodada do Brasileirão fosse algum dos outros centenas de atléticos (Goianiense, Paranaense, Acreano, de Alagoinhas...), talvez hoje o futebol de Belo Horizonte estaria atingindo a marca de oito rebaixamentos para a Série B. Mas quis o destino que, naquele 4 de dezembro de 2011, do outro lado do campo da Arena do Jacaré estivesse exatamente ele, o De Lourdes. Essa facilidade fez a história seguir o seu rumo natural e manter a escrita de que time grande não cai.
Por mais que o então presidente daquele clube, Alexandre Dória Kalil, tenha tratado o embate como “o jogo mais importante da história do Atlético”, não havia sentido algum em imaginar o Cruzeiro em local diferente daquele que ocupa desde 1921. Veio Roger, Anselmo Ramon, Leandro Guerreiro, Fabrício, Wellington Paulista e Everton, mas poderia ter sido apenas o manto sagrado a impor a ventura. “O Cruzeiro é muito grande. Se não tivesse nenhum jogador, só a camisa do Cruzeiro ia fazer isso que a gente está fazendo”. Se essa frase do líder Roger, dita antes da goleada, tivesse chegado ao ouvido do presidente de Lourdes, talvez ele não teria se animado tanto em dedicar sua vida a nos destruir.
Águas passadas.
Coincidência ou não, nessa semana de lembrança daquele jogo derradeiro de 2011, tão esperado – e jamais esquecido – pelos atleticanos, também encerrou-se a atual temporada. Ela foi mais uma a confirmar o quanto a história não mente. Enquanto de um lado a capital mineira conquistava o seu 10º título nacional em 2018, do outro atingia a vergonhosa soma de 6 (América) 1 (Sapatênis) rebaixamentos.
A 'aldeia' tenta há anos criar uma equidade, mas os fatos a contradizem. Se não fosse o gigantismo do Cruzeiro, Belo Horizonte e Minas Gerais teriam passado em brancas nuvens neste ano, assim como no passado, no retrasado e por tantas outras décadas.
Porém, 2019 promete ser um ano duro. O Cruzeiro bi, tetra e hexacampeão enfrentará uma sequência de pedreiras e, para tanto, não se pode dar ao luxo de gastar energia em treinos com “cheirinho de soberba venezuelana”, como foi na Country Cup de 2018, simplesmente para alimentar a falsa rivalidade regional. O Cabuloso precisa montar um elenco fortíssimo para honrar o posto de maior vencedor nacional do Século 21. Focado em pegar ritmo rapidamente, com as peças novas escolhidas a dedo e adaptadas ao Manobol. Pronto para ser Campeão de Tudo, e não apenas do mais fácil.
Teremos pela frente um Palmeiras ainda mais inflado pelo dinheiro da agiotagem. O Flamengo, também com os cofres abarrotados, decidido a colocar esse poderio econômico a serviço dos seus demorados títulos. Grêmio e Inter, esses sim motivados por uma verdadeira rivalidade regional, irão se matar para conquistar a Libertadores. Sem contar a velha catimba dos hermanos e a nossa grave crise financeira, que continua sendo negligenciada.
Mas para quem derrubou como um castelo de cartas todas as soberbas de 2018, do medíocre e hilário Otero aos comentaristas do eixo RJ-SP, o balanço dessa temporada deve nos inspirar. Dar-nos a motivação para conquistar ainda mais no ano vindouro.
Se somos tão afeitos à grandeza de nossa história, devemos encarar 2019 como sendo o primeiro dos três anos da contagem regressiva para o centenário. Tempo para sermos tricampeões da Libertadores, pentacampeões brasileiros e heptacampeões do Brasil.
Com esse espírito, nós cruzeirenses vamos nos despedindo de 2018, mas não sem fazermos os pedidos. Dentre eles, o de que diretoria, comissão técnica e jogadores assumam a responsabilidade de encarar a próxima temporada como o início de uma saga épica, para que, ao seu final, cheguemos em 2021 conquistando o mundo e completando 100 anos na Primeira Divisão.