Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Lucca, o anjo guarda-metas

Papai do Céu, ao levá-lo, passa a confiar a Lucca a missão de defender e olhar por Elisson e Gisely

postado em 16/11/2018 14:53 / atualizado em 16/11/2018 15:16

Vinnicius Silva/reprodução Instagram Elissomgoleiro
 Era muita festa! Transbordava do Mineirão para as montanhas de Minas Gerais. Abraços e milhares de palmas pela conquista de mais um Campeonato Brasileiro pelo Cruzeiro, em 2014. Em meio à louvação, o mais novo campeão daquela tarde deixou a torcida, subiu as escadas do túnel e foi ocupar seu posto no gramado. A boca dividia-se para conseguir abrigar - ao mesmo tempo - o sorriso de orgulho e uma chupeta. Os olhos brilharam ao enxergar, na linha lateral do campo, o pai a lhe aguardar. Lucca foi alçado aos céus nos braços do goleiro Elisson. 

Os cachinhos do cabelo voejavam ao vento. O pai-goleiro campeão lhe dizia palavras de amor juntinho ao ouvido, para se fazer escutado frente ao ecoar dos cânticos da Nação Azul nas arquibancadas. Para Lucca, era como voar pelas estrelas colado ao seu super-herói.

Elisson começou Cruzeiro. Foi Nacional da Madeira, Villa Nova/MG, Rio Verde/GO, Cruzeiro de novo, Coritiba, Cabuloso mais uma vez, Vila Nova/GO e até Nacional/SP. Instituições que lhe delegaram a função de defender o bastião, o arco contra os gols adversários. Mas, missão sagrada mesmo ele recebeu foi do maior cartola do universo: Papai do Céu. Certa feita, ele chamou Elisson, sua companheira Gisely e um apóstolo para ser testemunha. Na assinatura do contrato, lhe estendeu as mãos postadas sobre a cabeça e disse: “vai ser guarda-Lucca, Elisson”.

A profissão de goleiro, arqueiro, guarda-metas traz duas missões: defender e educar. Prova como uma pessoa, solitária, pode escolher dedicar a vida inteira a defender o coletivo. Mas também mostra quantos erros e tropeços são necessários para amadurecer, seguir lutando e nunca se entregar. 

Levar um gol, muitas vezes, é algo impossível de impedir. Ali, no exato momento do barulho arranhado da bola esfregando o fundo da rede, é preciso se levantar imediatamente, pegar a esfera de couro e jogá-la à frente. O goleiro sabe: mesmo na dor, ela deve voltar ao centro do campo da vida. E ali, ao girar novamente, cheia de memória, histórias e saudades, seguirá o rumo do recomeço, onde as lembranças boas lhe impulsionarão. Farão suas pernas se fortalecerem a cada drible até se permitirem – novamente – um disparo de sorrisos e vontade de viver.

A temporada de Elisson como guarda-Lucca chegou ao fim dolorosamente como um gol arranhado na rede, num placar eterno. Mas assim é o jogo da vida. O cartola máximo, Papai do Céu, resolveu levar de volta seu anjo. Com as mãos sobre os ombros do goleiro-pai, se mostrou grato pela forma como defendeu e educou seu maior bastião por seis anos.

Se o barulho do choro por Lucca ainda ficará no ouvido e no coração de Elisson e Gisely por um longo tempo, aos poucos, eles entenderão o motivo de o cartola do Céu ter resolvido contratar o pequeno de cabelos cacheados para ser agora um anjo guarda-metas. Dando-lhe colo e um manto azul cheio de estrelas.

Papai do Céu, ao levá-lo, passa a confiar a Lucca a missão de defender e olhar por Elisson e Gisely. Por isso, quando novamente ecoar um cântico da torcida, junto virá, bem baixinho, um sussurro do pequeno anjo a dizer: “Vai, papai! Vai, mamãe! Sigam dando felicidade e amor ao próximo. Permitam que a bola retorne ao centro do campo da vida, pois é hora de voltarem a sorrir por mim”.

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