Quando a Copa do Mundo terminou num eletrizante 4 a 2, com soberania dos times agudos desmoralizando o insuportável futebol de “posse de bola”, soltei o grito: É CAMPEÃO, FUTEBOL DE GOLS!
Cresceu em mim a esperança de que, a partir dali, técnicos teriam a sensatez de retomar à tendência do velho futebol moleque, ofensivo, sedento por vencer. Onde o objetivo insubstituível seja fazer mais gols. Golear de verdade: 4, 5, 6 a 1. Não como hoje, onde para o “futebol de resultados (magros)”, 3 a 0 é goleada.
Dormi feliz. Sonhando com partidas memoráveis dos tempos em que o futebol brasileiro realmente encantava o mundo. Pelé, Garrincha, Tostão, Romário, Ronaldo Fenômeno e suas jogadas inimagináveis. Escretes goleadores fazendo a burocrática Europa (de posse de bola) se desesperar por não conseguir nos imitar.
Embalado pelo sonho do “para frente, Brasil”, acordei na segunda-feira com o grito ainda ressoando na cabeça: É CAMPEÃO, FUTEBOL ARTE! Na expectativa de reencontrar o meu amor estrelado, depois da forçada separação pela Copa, fui relembrando como o Cruzeiro, desde os tempos de Palestra, sempre foi o clube que mais honrou esse EX-estilo de jogo canarinho do futebol ofensivo.
Os jogadores e técnicos que jogaram assim, entraram para sempre no coração da torcida cruzeirense, como as academias de 1966 e de 2003. Times para os quais não havia outro objetivo se não golear o adversário o quanto antes. Na maioria das vezes, deixando-o aniquilado já no primeiro tempo.
Veio a noite de segunda-feira. Mais de 40 mil dos nossos rumando em direção à casa do Maior de Minas. O Mineirão estava pronto para receber o seu dono, Cruzeiro e nós, seus devotos.
O resultado ao final, todos sabem. Classificação até tranquila, frente à fraqueza do Atlético Paranaense. Passamos de fase graças ao resultado em Curitiba. Quando fizemos 2 a 1 no time, que àquela época, era tido como a grande inovação do futebol brasileiro. Mas que no fundo, com o esquema de posse de bola e derrotas, ficou marcado pela demissão de Fernando Diniz, que chegou a ser alçado pelos cronistas das estatísticas a uma espécie de Pep Guardiola tupiniquim.
Verdade seja dita, o Cruzeiro retornou para o segundo semestre com o seu estilo de jogo que mistura preguiça dos medalhões veteranos e frieza tática. Tem dado certo? Sim. Estamos classificados e temos time para sermos hexa do Brasil, penta brasileiro e tri das Américas ao mesmo tempo. Basta saber se o time de Mano Menezes fará isso com preguiça, frieza ou gols.
Os “clubistas”, ao estilo sapatênis de sofrer, dirão que não se pode cobrar do técnico, jogadores e diretoria. Defenderão a ingrata declaração de Mano Menezes, de que “é fácil torcer quando o time está ganhando de dois, três”.
Contrariando esses, Mano, lhe digo, para nós da torcida do Cruzeiro fácil mesmo é levar 40 mil pessoas ao Mineirão numa segunda-feira quando se é apaixonado por essa camisa estrelada.
Difícil, Mano, assim como vibrar com um futebol de posse de bola, preguiça, estatísticas e frieza, é o seu time fazer dois, três.