Avise o seu amigo do bairro de Lourdes para recolher a faixa de “bicampeão”, devolvê-la à caixa de fantasias, esconder na varanda gourmet a máscara da igualdade e calçar o sapatênis porque o Carnaval acabou.
Já a senhora e o senhor, celestes de corpo, alma e eterna alegria, lhes será sempre permitido adentrar a Quarta-Feira de Cinzas com este sorriso pintado no rosto. Só não se esqueçam de que, para vocês, ser índio, guerreiro, deus grego das batalhas não se trata de adereço momesco. Ser o povo do time não é fantasia passageira. É dádiva, missão e história, para a qual a realidade do pós-festa nos conclama.
A ressaca de Carnaval traz para nós, maiores de Minas, uma contagem regressiva: estamos a duas semanas da partida contra o Racing, a primeira batalha na caminhada pelo inédito título Mundial. O Cruzeiro precisa que regressemos aos nossos postos. E quando assim fizermos, teremos uma surpreendente companhia: Sorín está voltando!
Falta muito pouco para “Juampi” ser anunciado pela diretoria como o Embaixador do Cruzeiro durante a jornada da Libertadores 2018. Nada melhor do que um índio sul-americano, contaminado até o último fio de cabelo pelo amor à camiseta celeste, para nos representar nos bastidores desta que será a verdadeira Libertadores Raiz. Se tudo der certo, caberá a ele percorrer cidades da América do Sul levando seu testemunho de devoção ao Cruzeiro. Ampliando assim o respeito que os hermanos possuem por La Bestia.
Sorín não foi o maior lateral-esquerdo da história do Palestra/Cruzeiro. O posto é incontestavelmente ocupado por Raimundo Nonato da Silva. O menino de Mossoró foi superior não apenas na genialidade de seu futebol. Em termos de títulos, se olharmos para as Américas, inclusive, ostenta não só uma Libertadores (Raiz!!!), como também duas Supercopas. No quesito “humildade”, um 6 a 1 seria pouco...
Mas Juan Pablo Sorín possui um dom único: a capacidade de empreender carisma à sua essência de índio guerreiro. Impossível não se encher de energia ao lembrar de sua entrega sobrenatural em campo pelo Cruzeiro.
Sorín será sempre aquele índio de longos cabelos; de correr desengonçado; da camisa dois ou três números maiores do que seu corpo; guerreando por todos os cantos do campo; fazendo de nós sua tribo e do gramado, sua floresta.
Juampi não vibrava com um gol, ele evocava os deuses . Em transe, sempre corria descontrolado até a geral do nosso estádio, o Mineirão. Ao mesmo tempo em que sorria, sangrava de amor pelo Cruzeiro.
Nas arquibancadas, ainda corre a lenda de que na final da Libertadores de 2009, ele teria pedido ao técnico Adilson Batista para ficar ao menos no banco de reservas. Sabia que sua presença descontrolaria a frieza de Verón. O rancoroso líder do Estudiantes destilava ódio contra ele, pois sempre atribuiu a Sorín o fato de não ter ido à Copa do Mundo de 2002.
Se chance tivesse naquele ano, Sorín guerrearia até a última gota de sangue ou até mesmo a derradeiro espasmo cerebral. Sua alma azul e branca talvez tenha sido o que faltou naquele quase tri.
Com ou sem Juan Pablo, que Tupã nos guie nessa Libertadores!