Como o atleticano é o torcedor na fase do gin, ou seja, seu vício já se encontra no estágio Amy Winehouse, este é o único clube de futebol do mundo cujo lançamento da nova camisa é cerimônia tão importante quanto a mais importantes das assembleias da ONU. Aboletado diante da televisão na última quinta-feira, me senti um completo idiota ao ver surgir o manto como uma página de classificados.
Quando havia qualquer coisa por demais emperequetada de outras coisas, naquele estilo do camelô que não podendo primar pela qualidade exagera na quantidade, um amigo querido dizia tratar-se, com o perdão do cidadão de bem, de uma “penteadeira de puta”. Eis o estilo da nova camisa, vendida por algum diretor como algo especial, já que, sendo a fabricante francesa, seria oriunda do “berço da moda”. Quando li isso achei que desfilaríamos uma coleção de alta costura. Mas a realidade é dura, pessoal, e no lugar da Vogue nos coube mesmo os classificados.
No estágio do gin, repito, fui às redes ver a repercussão, afinal, o Brasil desmorona mas o que importa é a beca do Galo, que se dane todo o resto, se cortasse 30% da educação para dar ao Atlético eu mesmo já tirava o filho da escola pra ajudar a cortar um pouco mais. Em suma, é a camisa mais linda do mundo porque é a camisa do Atlético, mas, dito isso, é a mais feia que já vi.
Aquele monte de reclames espalhado pelo manto me levou a pensar na ineficácia da propaganda. Eu que sou eu, obrigado a acompanhar o Galo meticulosamente, por compromisso com este jornal e para sustentar o vício, não sei do que se trata a Auto Truck, seria um serviço de guincho? Bamaq (é isso mesmo?), uma fabricante de maquinários agrícolas? Alguma coisa me leva a crer que a Universidade Brasil é um programa governamental de fomento à educação, portanto prestes a falir. Tenho certeza apenas de que a Camponesa era, ou é, uma churrascaria com pista de dança na rua Goitacazes.
De qualquer forma, que permaneçam todos eles e venham muitos outros mais, ainda temos o sovaco vazio, a região lateral do rim, o interior das meias. Pessoas comuns poderiam comprar alguns centímetros cúbicos para anunciar pequenos negócios, a venda de um carro, o obituário de um parente. Num futuro próximo, por que não comercializar tatuagens de henna nos jogadores? A testa é um outdoor a gritar por algum reclame. Ao final das partidas, no lugar de arremessar camisas ao torcedor, poderiam jogar folders de lançamentos imobiliários. Ideias como essas custam milhões. Estou dando de graça, agora é com vocês.
Para ganhar do Flamengo, precisamos de mais e mais patrocinadores. A culpa é da porra do capacetinho, o pássaro em extinção que reside no terreno do estádio, nossa redenção financeira. O cara é um pássaro, pode morar onde quiser, no Mangabeiras, em Trancoso. Mas ele escolheu morar no Califórnia, num entroncamento da Via Expressa. É por isso que Deus não dá asa à cobra.
Se o Cruzeiro tivesse ganhado um terreno para construir um estádio, ao cavucar o chão descobria uma jazida de ouro. Mais ao fundo acharia petróleo. O Atlético, ao capinar o lote, encontrou o paraíso perdido de Darwin. Há pegadas de dinossauros no local, um escavador localizou os restos decapitados de Luzia, abundam recifes de mares ancestrais, um novo Aquífero Guarani foi detectado no subsolo. Quem poderia imaginar que no mato insuspeito escondiam-se as respostas às perguntas fundamentais, doncovim, oncotô e proncovô. O Califórnia será mais famoso que Galápagos.
Diante dessa situação, é bom vestir com orgulho o nosso abadá sagrado, a única armadura possível para enfrentar esse Flamengo favorecido por verbas felpudas, como diria o Carlos Bolsonaro. Flamengo de Walter Clark, Wright, Aragão e Eduardo Cunha. Flamengo da CBF. Vencê-lo, hoje, é ganhar de Thanos, Voldemort e Kylo Ren. Se não estamos vestidos com as roupas e as armas de Jorge, afinal esse aí é padroeiro do Rio de Janeiro, que a nossa página de classificados faça com que o inimigo tenha pés mas não nos alcance. Celebremos todos na Camponesa, logo mais, se Deus quiser.