COLUNA DA ARQUIBANCADA
Eu não acredito. Mas tudo bem
Fred Melo Paiva /Estado de Minas
postado em 24/11/2016 12:00
O Atlético é um time de pelada. Por mais que se tente entender como Marcelo Oliveira chegou a cinco finais de Copa do Brasil, a única coisa que nos fala à razão é o fato de ter ganhado apenas uma dessas finais.
Na noite de ontem relembramos os Mixiricas da vida. Mais do que isso: relembramos as peladas da escola, em que o par ou ímpar imperava sobre todas as coisas, e o bico pro mato era o nosso fundamento favorito.
O Atlético de Marcelo Oliveira é uma piada. Eu adoraria que fosse diferente, até porque o Marcelo foi o maior parceiro de Reinaldo. E eu amo o Reinaldo mais do que minha mãe, razão pela qual eu amo o Marcelo. Desculpa, mãe, mas o Reinaldo é o Reinaldo, e a senhora é a senhora.
Eu também amo Marcelo Oliveira porque amo os desgraçados dessa vida. Sou como Oscar Niemeyer, comunista, esquerdista lisérgico, que tinha na parede de seu escritório uma escritura à lápis: “O fodido não tem vez”.
Um atleticano que tenha ganhado dois campeonatos com o Cruzeiro merece toda a nossa solidariedade. Pobre Marcelo Oliveira. Se eu tivesse ganhado dois campeonatos com o Cruzeiro, eu ia ali dar uma suicidada e voltava.
Ontem foi de um ridículo atroz. O atleticano é um cara farto dos ridículos dessa vida, sofreu demais com isso, é mais do que o fodido que o Niemeyer falou. Mas o que não é a vida senão o ridículo de vivê-la? A gente cresce de bermuda, todo faceiro, mas termina a existência num Rider, divertindo-se com o Faustão num domingo sem nenhum sentido. A gente é brega e isso é uma beleza.
Somos ridículos, basicamente. Quando amamos, quando sofremos por causa de futebol, essa bobagem. Quando comparamos essa coisa toda com as nossas mães. Desculpa, mãe, o Galo acabou de fazer um gol, você vai achar que isso foi por causa de Santa Rita – eu vou dizer pra você que eu sou ateu. E não acredito em nada nesse mundo que não seja Atlético. Santa Rita é uma farsante: o gol só foi gol porque alguém colocou pra dentro, Santa Rita não podia evitar.
Tanto que o Grêmio fez o terceiro, posso ouvir agora. Santa Rita perdeu, essa derrotada. Não tem Deus. Tem apenas a ciência e o meteoro que exterminou os dinossauros. 2016 é o ano em que o Trump ganhou. O ano do golpe, da ascensão do fascismo, dos inocentes úteis. O ano em que os retardados foram pra rua, consumando-se o triunfo da imbecilidade.
Não há a menor chance de que tudo isso se reverta – o Trump, o golpe, o Grêmio. Não há a menor chance de que dessa pelada resulte uma virada fenomenal. Como convém a um cético total, eu não acredito. Deus olhou pra gente, e pouco se f.... Ele está certo: o merecimento é uma coisa muito séria. A gente não mereceu.
Mas que eu vou para Porto Alegre, eu vou. O atleticano gosta de sofrer, e disso eu não abro mão. O atleticano é antes de tudo um forte. Nada nesse mundo me tira hoje essa minha camisa do Atlético, a número 4 do Nelinho. A camisa do Atlético é, provavelmente, a coisa mais importante do mundo.
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