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Como o título do Cruzeiro na Série B pode ser significativo para o grupo

Se para para o clube colocar no currículo o título da Série B não é importante, para cada atleta individualmente pode ser muito significativo

Bob Faria: 'Como o título do Cruzeiro na Série B pode ser significativo para o time'
foto: Gladyston Rodrigues/EM/DAPress

Bob Faria: 'Como o título do Cruzeiro na Série B pode ser significativo para o time'



Sempre fiquei pensando como a vida é feita de microciclos. Pequenos objetivos que traçamos desde a hora que acordamos até a hora em que dormimos. Você abre o olho e seu próximo objetivo é levantar-se. Conseguiu? Parabéns! Agora, tomar banho, escovar os dentes, vestir uma roupa... ótimo, estamos progredindo. Sair de casa, tomar rumo do trabalho, da escola, ou seja lá o que você for fazer naquele dia... e, bem, você já pegou a ideia.

Seria simples, mas não é. Não é, porque em volta desses microciclos sempre há objetivos maiores. Queremos mais e somos impelidos a pensar que cada passo nos levará a algo mais e somos inundados por um conceito que é muito vago, mas que todo mundo adora exaltar. Motivação.

Motivação. A palavra vem do latim "movere", que significa pôr-se em movimento. Mover-se. Então nada mais é do que o conceito básico de sair de um lugar (físico ou emocional) para outro. E não há maneira de fazer isso sem encontrar um objetivo. Uma meta.

Às vezes é difícil abrir os olhos pela manhã. Às vezes é difícil querer sair da cama e dar sequência ao dia, mas acho que a maioria de nós, de maneira inconsciente, busca a tal da motivação para fazer o que precisa ser feito. Em cada passo, em cada etapa, em cada pequena conquista nos fragmentos do dia. Até completarmos nossa tarefa - e com sorte - tendo a sensação de termos dado mais um passo rumo ao objetivo maior, e esperamos, se possível dormindo, a próxima fase do jogo.

Não quero parecer pessimista, mas se a gente olhar direito em volta, uma pequena parte dos seres humanos chega a algum lugar. A outra parte vaga pelo planeta em busca cotidiana da tal motivação. Com ciclos de alegria e frustração, nem sempre na mesma proporção, mas invariavelmente em uma dessas duas condições.

Não é à toa que os grandes mestres buscam o estado de perfeição no equilíbrio. Não no êxtase eterno nem na autoflagelação, mas no meio termo entre a felicidade e a consciência de quão difícil é a vida.

Porém, eventualmente, alguns chegam ao tal objetivo. Seja ele qual for.  Méritos totais a quem consegue, porque como sabemos não é fácil.

Mas e quando o próximo estágio é, proporcionalmente falando, menor do que o já alcançado. De onde tirar motivação? De onde vem o combustível para sair daquele estado e buscar algo de novo? Como caminhar sabendo que a paisagem mais bonita já ficou para trás?

Eu só vejo um jeito. Agarrando-se a um outro conceito também muito vago e igualmente utilizado: a esperança.

Esperança, é literalmente, confiança de que algo vá acontecer (geralmente algo de bom) e esperar por aquilo. Eu sei esperar (esperança) e mover-se (motivação) ao mesmo tempo parece um paradoxo. E é por isso que a maioria das pessoas estacionam quando atingem o objetivo maior. Só que a vida continua.

Sempre que penso em grandes feitos, grandes conquistas, grandes realizações, me vêm à mente os atletas de alto nível. Não que grandes mentes da ciência, das artes ou outros segmentos do pensamento humano não sejam bons exemplos. Mas os atletas de grande performance são exemplos perfeitos para este conceito.

Pensem numa equipe de futebol, como o Cruzeiro desta temporada, com o grande objetivo de voltar à Serie A. Conseguiram de forma irrepreensível. Como agora exigir destes atletas o mesmo nível de concentração e esforço? Como mostrar a eles que o título da Série B deve ser alcançado?

Eu tenho uma ideia. Fragmente-se o objetivo a cada um deles. Se para a equipe ou para o clube, colocar no currículo o título da Série B não é importante, para cada atleta individualmente pode ser muito significativo poder dizer que foi campeão!

Isso pode criar motivação para um objetivo que parece menor, e esperança de que da conquista surjam coisas ainda melhores que as vividas nessa temporada. Ficando ou não para o elenco do ano que vem.

E sempre ajuda se pensarmos que ninguém sobe ao topo de uma montanha para ficar lá! Quem faz isso, geralmente sucumbe ao frio e à solidão.

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