Por que clássicos não são jogos comuns? Por que são encontros superdimensionados e invariavelmente duram muito mais do que o tempo do jogo? Por que alguns clássicos, mesmo que afastados no tempo por circunstâncias de uma das partes, não perdem o poder de mobilização, o encanto ou a energia da rivalidade? Eu acho que é porque, ao contrário dos jogos comuns, os clássicos são forjados no fogo do tempo, no calor da história, na fôrma do desejo de vitória.
Veja, nenhum clássico nasce da noite para o dia. Quando Shakespeare escreveu Macbeth, ou Romeu e Julieta, não sabia que estava escrevendo um clássico. Mozart em suas óperas ou Beethoven com suas sinfonias não estavam escrevendo clássicos, estavam escrevendo músicas. Sem falar nos Beatles, no Queen ou em Elvis... ou Da Vinci ao pintar sua Mona Lisa, todos estavam fazendo o que deviam fazer, e sua obra escorreu pelo tempo, pelo calor das emoções de milhões de corações e se concretizou sob a forma de algo ao mesmo tempo sólido e intangível.
Assim também são os clássicos confrontos do futebol. Ganharam este status pelos embates épicos que mostraram dentro de campo, pela capacidade de elevar heróis improváveis, subverter expectativas e sedimentar momentos inesquecíveis na memória de quem vê, torce, ou analisa um jogo desses.
Isso não significa dizer que todos os jogos que levam esse rótulo são extraordinários. Muito pelo contrário. Há jogos muito ruins. Mas eles fazem parte da história. Porque a má experiência também escreve linhas importantes, e assim o como o silêncio é fundamental para a expressão do som, e a sombra determina onde está a luz, os jogos ruins também são representativos para a percepção de quando um jogo é bom!
Devaneio aqui depois de um clássico. Atlético 1 x 1 América não foi um grande jogo. Longe de ser aquele lendário encontro de priscas eras, quando era chamado de clássico das multidões. Longe de ser aqueles que definiram campeonatos. Mas fizeram um jogo honesto. Escreveram nas páginas deste confronto umas linhas sinceras sobre o momento de cada um. O Atlético como nau à procura de um porto, e o América tentando se ancorar bravamente na posição em que se encontra. Jogaram como podiam, criaram chances como deviam e erraram como todo mundo erra.
Ao que tudo indica, ano que vem teremos mais clássicos, porque o Cruzeiro está implacavelmente focado e rumo a consolidar um lugar na Série A, onde desde sempre foi protagonista. Melhor para todo mundo, porque teremos mais jogos com status de clássicos, mais embates que envolvem não só o jogo de bola, mas a história que cada um carrega.
Eu gosto de jogos corriqueiros, desses que a gente começa a ver despretensiosamente e quando percebe já está envolvido, realmente interessado em quem vai vencer. Mas acho que como a maioria das pessoas, eu adoro os clássicos! Porque não contam só a história daquele jogo. Assim como músicas, peças, textos, filmes, esculturas, quadros e quaisquer outras manifestações artísticas, que não nascem eternas, mas são eternizadas pela emoção que provocam geração após geração.