Poucas forças no universo são mais poderosas e redentoras do que o perdão. Não me refiro aqui ao perdão do senso comum, cotidiano às pessoas de bem que qualquer um de nós pode exercer, como a um motorista que te fecha na rua, a um garçom mal-humorado que não atende direito, a um amigo que esqueceu a sua data de aniversário. Coisas assim. Refiro-me ao perdão sublime. Aquele que aquece a alma de gente especial, gente iluminada, gente que se distancia de nós, que somos comuns, pela sua capacidade de sublimar o mal que lhe fazem, e mesmo assim perdoar do fundo do coração, querendo bem a quem lhe causou tanta dor. Existe um cerne neste tipo de perdão. É a crença de que, não importa até onde lhe possam ter machucado, um dia, você terá a capacidade de ver que não foi culpa sua e neste dia existirá a cura para todo o mal.
Infelizmente, a maioria de nós estaciona numa das pontas. Ou ficamos superficiais e indiferentes (o que faz da nossa vida um tédio profundo), pela falta de coragem de enfrentar o caminho, ou nos tornamos vingativos e cruéis a ponto de, uma vez que estamos seguros, nos voltarmos a quem está caminhando, desejando que caia!
E o perdão está no meio. Quando estamos mais equilibrados. É neste momento mágico que surge outra força poderosa da natureza. A reconciliação.
Não necessariamente com quem te fez mal (porque perdoar não é a mesma coisa que esquecer), mas com sua própria capacidade de voltar a ficar sereno, continuar existindo e sendo uma pessoa boa, apesar de tudo.
Infelizmente tendo a dizer: a maioria de nós, individualmente, não verá a face deste sentimento. É da natureza humana pender para um dos lados.
Porém, e sempre há um porém, existe uma terceira força inexorável inerente aos humanos. O poder da coletividade! Este sim é capaz de conduzir um grupo não só à redenção, mas à reconciliação genuína. Porque não importa quanta dor esteja envolvida, há um amor comum (no sentido coletivo da palavra) que une, empurra e salva. Claro que a coletividade pode levar ao desastre também, mas vamos nos ater à boa causa!
Falo do tipo de amor que reúne um grupo tão heterogêneo de pessoas como as que torcem pelo mesmo time de futebol. E quando esta gigantesca família se reúne para achar o ponto de perdão e reconciliar-se com seu objeto de amor, não há quem impeça a caminhada.
Vimos 58 mil pessoas no Mineirão domingo empurrando o Cruzeiro. Representando outros milhões espalhados por todo o mundo. Essa torcida não só perdoou seu time, mas se reuniu com ele nesta jornada para fora do inferno. E se essa energia continuar fluindo, não há quem os segure.
Que bom seria se conseguíssemos individualmente exercer esse poder que se mostra tão grande quando vem da coletividade, de podermos perdoar, e finalmente nos reconciliarmos. Viver seria caminhar por uma estrada firme e segura, apreciando a paisagem e desfrutando da benção que é estar neste mundo, e não andar por uma corda bamba sob um precipício, torcendo para que ninguém a balance, ou novamente a tire de baixo de nossos pés.
Mas preferimos viver presos. Uns na teimosia, outros na esperança. Uns na ilusão, outros na solidão.