Pensei muito antes de escrever estas primeiras palavras que publico aqui. Pensei na responsabilidade, no privilégio e na oportunidade de falar com você, leitor, sobre temas tão corriqueiros e ao mesmo tempo tão importantes, como deve ser o futebol na sua vida. Em muitos momentos, talvez o mais importante. Aquilo que te leva para outra dimensão, o que dá aquela sensação gostosa de pertencimento a um grupo. Torcer por um time de futebol não é simplesmente uma questão de escolha, mas uma doutrina, um conjunto de valores que devem ser seguidos e que frequentemente passam de geração a geração.
Por isso, antes de tudo, quero estabelecer aqui um compromisso. Tratarei disso com o máximo respeito que o tema merece no seu coração. Isso estabelecido, preciso que compreenda que nem sempre o que será dito estará alinhado com o que você pensa. E isso faz parte do nosso pacto. Porque nem sempre o que se diz é aquilo que se quer ouvir, mas, sim, o que precisa ser dito. Vamos concordar e discordar. Vamos encontrar e preencher lacunas, vamos abordar temas sensíveis ou frívolos. Mas sempre, e essa é a minha palavra, com respeito. Porque é disso que o mundo está precisando.
Enquanto escrevo estas palavras, o mundo está em guerra.
Desta vez, a guerra está mais próxima e não é travada apenas nos fronts de batalha, mas na esfera econômica, nas palavras, nas imagens e, evidentemente, no obscuro mundo da internet. Mais uma guerra sem sentido com baixas terríveis e vergonhosas para todos os humanos.
Pensávamos que uma pandemia, uma ameaça comum a todos os povos seria o suficiente para nos unir em torno de uma causa comum: a sobrevivência da raça humana. Não foi.
Escrevo e imagino. Se nenhuma dessas barbáries foi suficiente para nos sensibilizar da necessidade de empatia, de tentar entender o ponto de vista do outro, de nos fazer entender como somos capazes de causar sofrimento a alguém, como poderia um simples jogo de bola fazer isso? Como pedir que adversários não se tornem inimigos e não se lancem à disputa como se fosse uma questão de vida ou morte?
Talvez entendendo de que se trata de um jogo. Um simples jogo, ou melhor dizendo, um jogo simples que aprendemos a amar.
Digo isso porque mais uma vez estamos às vésperas de um encontro mágico. Vem aí mais um clássico entre Atlético e Cruzeiro, o jogo que nunca acaba. O encontro que mobiliza milhões de corações e traz para o campo não só o momento, mas a história. E cada um desses milhões de torcedores e torcedoras tem seu próprio clássico dentro de si. E, apesar disso, mais uma vez nos preocupamos não só com o lindo espetáculo que os protagonistas nos oferecem, mas com as consequências inimagináveis da batalha travada pelas ruas, em nome dos dois gigantes.
Então, não seria hora de apelar para o mínimo senso de pertencimento e pedir, mais uma vez, encarecidamente, aos que não entendem o espírito da coisa, que, por favor, não se matem?
Não façam guerra onde ela não está. Não destilem ódio vazio por causa de um jogo.
Amem seus clubes, exaltem seus times, desfrutem o espetáculo. Mas que a última palavra seja aquela de que o mundo mais precisa: paz.
Muitas vezes em nossas vidas, somos atingidos pela sensação de que é tarde demais… Mas quando há verdade no desejo, nunca é tarde demais!