"Talvez não é uma notícia muito boa, de ver a sua modalidade no qual você representou, eu principalmente por 20 anos, ver ficar fora de um Campeonato Mundial. Olimpíada eu já vi que a gente demorou muito para se classificar, mas quando se classificou na primeira não conseguiu medalha, na segundo oportunidade já foi finalista e na terceira pegou uma medalha de bronze, e depois começou a decair. Eu acho que de repente, eu não faço parte da confederação, mas de repente fosse uma grande oportunidade de você começar uma renovação, começar um novo ciclo, fazer uma renovação. Na minha época, quando eu entrei com 16 anos de idade, foi através de uma renovação. E fazer um trabalho de médio a longo prazo", disse Hortência, ao Superesportes, durante o Congresso Olímpico Brasileiro, em Salvador, capital da Bahia.
Esta será a segunda vez consecutiva que o Brasil ficará fora do Mundial - também não disputou em 2018, na Espanha. Campeã do Mundial em 1994 com a seleção, quando foi eleita a melhor jogadora do torneio, Hortência diz que é necessário um bom projeto de renovação.
[VIDEO1]"Porque, do jeito que está, está vendo que não está conseguindo se classificar, não está conseguindo despontar no mercado internacional. Então, eu acho que, de repente, voltar mais para a base, ficar preocupada com a base, sub-15. Agora, quando você fala em renovação, fazer projeto de médio a longo prazo, você precisa ter dinheiro, e para ter dinheiro você precisa ir atrás dos patrocinadores. O patrocinador vai entrar, mas só vai entrar se tiver um bom projeto e fazer aquele patrocinador acreditar naquele projeto, você consegue dinheiro", disse.
"Então, o que que você tem que fazer? O basquete hoje é um esporte popular. Você vê hoje a NBA é um sucesso aqui dentro do Brasil, todo mundo assiste a NBA, então o povo brasileiro gosta de basquete, é um esporte empolgante, é um esporte entre os três maiores esportes do Estados Unidos. Então, assim, acho que quando você tem bom projeto, eu acho que você consegue ir no mercado e você trazer o dinheiro que tanto precisa, porque hoje o que você ouve mais falar é 'ah, não temos dinheiro, não temos dinheiro'", completou.
Com a não classificação para o Mundial, fica a expectativa quanto a um desempenho que possa levar à Olimpíada de Paris, na França, em 2024. Serão quatro vagas em disputa em torneios pré-olímpicos. O formato desses torneios ainda será confirmado, e o Brasil deve disputar um desses campeonatos por conta da atual 16ª posição no ranking da Federação Internacional de Basquetebol (FIBA).
"Você vê um resultado urgente, você não vai conseguir. Você tem que dar um tempo, e isso tem que ficar muito claro. Olha, vamos começar um projeto novo, vamos começar uma renovação, mas tenho que ter uma meta. É daqui quatro, daqui cinco anos? Vou perder até lá, mas depois vou começar a colher frutos. Eu vejo assim, você tem que ter um planejamento onde você tem começo, meio e fim. Você tem uma meta. A meta é para médio prazo? Tá, para quando? Tem que estabelecer essa meta, entendeu?", completou.
Hortência também aproveitou para elogiar o trabalho do atual treinador, José Neto. Ele ocupa o posto de técnico da Seleção Brasileira Feminina desde maio de 2019. "Gosto muito do trabalho do Neto, acho o Neto um grande treinador, acho que o problema não é o treinador".
Basquete nacional
Hortência também comentou sobre o basquete masculino brasileiro, que também não esteve presente em Tóquio, mas é figura constante em campeonatos mundiais. Ela considera que este cenário é mais constante em comparação ao feminino, e a ex-jogadora voltou o foco ao feminino, sua real preocupação no momento.
"Acho que são gerações, gerações diferentes. O basquete, ele mudou muito da época que eu jogava para agora, é outro basquete, totalmente diferente. Na minha época, o pivô jogava embaixo, hoje o pivô arma o jogo. O LeBron James ele joga de pivô, ele joga de lateral, ele arma, ele bate para dentro. Quer dizer, o basquete hoje virou totalmente diferente da minha época, a gente tem que se adaptar. Eu acho que depende da geração, o masculino consegue segurar mais isso, mas mesmo assim está na hora, a gente torce, eu torço muito. Eu sou comentarista, eu quero comentar basquete masculino, quero comentar basquete feminino em alto nível. Então, assim, o basquete ainda, masculino, ele ainda segura um pouquinho mais, o que está mais preocupante hoje em dia é o nível do basquete feminino".
"E essas meninas que estão aí estão segurando, estão segurando a onda. Mas você vê, você vai disputar Pré-Mundial, para ir para o Mundial, sem treinar? Você encontra lá? Eu nunca tinha visto isso antes. Então, fica difícil mesmo, não posso cobrar das meninas, entendeu?", finalizou.