Para ganhar ritmo e vantagem em competições, nadadores apostam no treino duplo. A estratégia estimula o organismo, que responde mais fácil a mudanças de horário e a intensidade em provas. Geralmente, as sessões são feitas pela manhã e à tarde. Mas, entre os jovens aspirantes da natação que ainda estão na escola, a tarefa é mais árdua. Como precisam dedicar um período do dia aos estudos, o treino deles é dividido em madrugada e tarde. É assim, por exemplo, com um grupo de Brasília. Antes das 5h da manhã, os atletas caem na piscina. Às 16h, retornam para a segunda etapa e, três vezes por semana, ainda completam o treinamento com musculação. O sacrifício, eles juram, vale a pena. Tudo por bons resultados no campeonato brasileiro da modalidade.
Entre os dois treinos, é preciso um descanso mínimo de seis horas para a recuperação. “No treino duplo, trabalha-se o estilo de cada atleta. Ele estimula o organismo a acordar e fazer força”, explica o treinador Hugo Lobo Filho, adepto das sessões duplas, embora reconheça que o método é extenuante para os dois lados: atletas e comissão técnica.
A indicação desse tipo de treino é para nadadores que vão participar de competições que têm atividades nos dois períodos do dia, eliminatórias pela manhã e finais à tarde, por exemplo. O ritmo adquirido no treinamento ajuda no desempenho durante as provas, segundo o especialista. A idade também é um fator a ser considerado. “Por razões de crescimento, adaptações do sono e metabolismo, é indicado para atletas a partir dos 13 anos”, completa.
Outros cuidados são tomados para evitar overtraining e possíveis lesões. Além de acompanhamento nutricional, os atletas fazem exames periódicos e são observados de perto pelo treinador. Dos níveis de cansaço à perda de sono, vários sintomas podem indicar algo errado com o organismo.
Marcelo, Filipe e Guilherme se preparam para o Brasileiro com dois treinos: um antes de o Sol nascer e outro à tarde
Cronometrado
Em dias de treino duplo, do momento que acorda até a hora de dormir, Marcelo Araújo, 14 anos, faz cinco refeições, cai na piscina duas vezes, estuda e, se coincidir, gasta pelo menos uma hora na musculação. “No início, eu senti muito cansaço, o ritmo é puxado, mas fui acostumando aos poucos”, conta o adolescente. Para que os atletas se adaptem ao treino, as sessões duplas começam com uma vez por semana e vão aumentando. A cada sete dias, um treino duplo é acrescentado.
Às 3h50, Filipe Camargo, 15 anos, está de pé. Uma hora depois, ele dá o primeiro pulo do dia na água. “É chato porque depois tem que ir para aula, fico com sono, mas compensa”, avalia. Praticante de natação desde os quatro anos, há três Filipe começou a treinar em dois horários e diz perceber os benefícios. “Fica mais fácil competir. Quando eu vou para a final, meu ritmo é melhor”, pontua.
