Minas revela suposto áudio de suborno a zagueiro na rodada final do Mineiro

Um suposto caso de suborno está agitando os bastidores do futebol no estado. O presidente do Minas Futebol, Edson Ramos, conhecido como Paredão, oficializou denúncia no Tribunal de Justiça Desportiva de Minas Gerais, na tarde dessa quarta-feira, com base em gravação telefônica, alegando que um interlocutor ligado à URT teria oferecido R$ 10 mil para o zagueiro Reginaldo, do clube de Sete Lagoas, cometer um pênalti na última partida da primeira fase do Campeonato Mineiro a favor do time de Patos de Minas. Os documentos serão avaliados pelo procurador-geral do órgão, Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa. A URT ainda não foi notificada oficialmente.

Ao receber a suposta oferta de dinheiro do rival, Reginaldo alertou o presidente do Minas. As gravações foram feitas por eles. Segundo Paredão, outros jogadores do Minas também receberam a mesma proposta. O time de Sete Lagoas perdeu a partida por 3 a 1 e acabou rebaixado para o Módulo II, com oito pontos. Com o resultado, a URT foi a 12 pontos, livrando-se do descenso. Aparentemente, a partida não teve nenhum lance suspeito. Mas o curioso é que Reginaldo cometeu um pênalti.

O Superesportes teve acesso às gravações dos áudios do suposto suborno. São duas ligações. Nelas, o interlocutor da URT identificou-se como Valtinho. Cartolas do Minas acreditam que possa ser o supervisor de futebol da URT, Walter Souza.

“O dinheiro do acerto é mediante a um pênalti. Ele só paga com um pênalti. Tem que fazer um pênalti”, revela trecho das gravações dita pelo suposto interlocutor Valtinho (confira trechos da gravação no fim da matéria). Na conversa, o zagueiro Reginaldo não aceita a proposta. “Mas eu não vou aceitar esse negócio, não. Não vou aceitar porque só de bicho a gente tem seis mil reais", disse.

Em certos momentos da conversa, Valtinho cita o técnico da URT, Luiz Eduardo, como sendo uma pessoa próxima a ele. “A palavra do Luiz Eduardo, por mais que ele seja moleque, eu confio nele”, diz Valtinho em parte do áudio a que a reportagem teve acesso. O treinador não foi encontrado para comentar a declaração.

Revoltado, o presidente do Minas ameaça até paralisar o Campeonato Mineiro, embora seja improvável. “Estava no hotel com a delegação no domingo. Eles subornaram o zagueiro por telefone e a gente mandou gravar. A gente já formalizou tudo na Justiça. Estamos conversando com nosso advogado para tentar paralisar o campeonato até resolver isso. Mas o que queremos mesmo é a moralização do futebol brasileiro. Isso tem que acabar”, protestou o presidente do Minas Futebol, Edson Ramos.

URT desconhece fato oficialmente e já nega envolvimento

A URT ainda não foi notificada pela Justiça. “A URT não foi intimada. A equipe é a primeira interessada em que os fatos sejam apurados. Só posso manifestar quando tiver acesso às provas. A acusação é grave, mas a URT está tranquila e vai esperar ser intimada oficialmente para tomar uma posição”, afirmou Lucas Ottoni, advogado que representa a equipe de Patos de Minas.

O supervisor de futebol da URT, Walter Souza, tomou conhecimento da acusação ainda no último domingo. Antes da partida entre URT e Minas Futebol, o presidente do time de Sete Lagoas revelou o suposto suborno a uma rádio de Patos de Minas. Walter nega participação no caso.

“Eu fiquei surpreso quando eu ouvi o cara (Paredão) dando entrevista aqui citando o meu nome, que eu tinha ligado para os jogadores e que ele tinha a ligação. Eu falei com ele que nunca liguei para jogador nenhum, mas ele falou que tinha a gravação. Então se ele realmente tem gravado vamos comparar as vozes porque eu tenho a consciência tranquila. Eu tenho 20 anos de URT nunca liguei para jogador nenhum para essa situação. Nós já acionamos o departamento jurídico, já fiz no dia do jogo até um boletim de ocorrência pelos impropérios que ele disse aqui na rádio. Me xingou inclusive”, disse Walter Souza ao Superesportes.




Trechos da conversa:

Suposto Valtinho – “Ele concordou que é aquele valor. Só que ele só pode fazer o pagamento amanhã e ele mandou o tesoureiro conversar comigo. Ele vai pegar o dinheiro da renda. Ele não tem outro dinheiro na conta. Ele falou: ‘Walter se quiser eu deposito um cheque’. Eu falei que não queria o cheque, não. Ele falou se você quiser vir pegar o dinheiro à noite você pode pegar o dinheiro comigo... O Luiz Eduardo (técnico da URT) falou pra mim que ele garante o combinado. A parte combinada ele garante 100%”.

Reginaldo – “Mas quanto é?”

Suposto Valtinho – “Ele prometeu R$ 10 mil. Ele falou que tem jogador ai que fecha por três mil reais. E é R$ 10 mil porque é o Reginaldo. Se fosse outro cara seria R$ 3 mil. Segundo ele já fechou com cinco jogadores ai. Pra ele é melhor fechar com quantidade do que com um só”.

Reginaldo – “Você não sabe que é não, né!? Com quem ele fechou aqui?”

Suposto Valtinho – “Ele não entra em detalhe não. De jeito nenhum. Você tem que pensar em você. Você não sabe se vai ficar empregado daqui há uns meses. Segura a sua onda, pensa no seu bolso, eu sei muito bem que oportunidade de ganhar dinheiro pelo lado certo é uma coisa e pelo outro lado, é outra. Só que essas malandragens no futebol existem bem antes de nós existir”.

Suposto Valtinho – “Eu falei com três caras lá, que ligaram para mim. O Luiz (Luiz Eduardo, técnico da URT) falou que tem duas pessoas confiáveis. O tesoureiro que falou comigo, que não sei o nome dele. O cara que está articulando isso dizem que é confiável. Ele falou comigo que assina em baixo para essas duas pessoas. Ele falou 'você pode fechar com o Reginaldo porque está fechado, está definido'...O dinheiro do acerto é mediante a um pênalti. Ele só paga com o pênalti. Tem que fazer um pênalti... A palavra do Luiz Eduardo, por mais que ele seja moleque, eu confio nele. Se ele estiver errado, a gente vai no meio dele... É 100% certo. Ele fazendo a parte dele, o dinheiro está na conta na segunda-feira”.

Reginaldo – “A gente está na mesma situação dele. Mas eu não vou aceitar esse negócio, não. Não vou aceitar isso, não, porque só de bicho a gente tem seis mil. Então eu não vou aceitar esse negócio, não”.