A mineira Natália Silva, de 26 anos, faz neste sábado (20) a sua terceira luta no UFC (Ultimate Fighting Championship). Ela enfrenta a americana Victoria Leonardo, pelo peso-mosca (até 56,7 Kg), no card preliminar do UFC Vegas 73 (veja o card completo no fim deste texto).
Em entrevista exclusiva ao Superesportes, diretamente de Las Vegas, Natália Silva contou como começou no MMA (artes marciais livres, em tradução livre). Ela cresceu em Pingo D'Água, município de Minas Gerais com apenas 5 mil habitantes.
Sua "história mais louca que existe" superou preconceito e desconfiança, mas também contou com muito apoio dos familiares, principalmente da mãe Marta Rodrigues da Silva e dos cinco irmãos. Após iniciar no taekwondo, ela estreou no MMA aos 18 anos. Evoluiu com os treinos, conquistou o Jungle Fight e foi contratada pelo UFC, vencendo suas duas primeiras lutas na principal organização de MMA.
- A minha história é a coisa mais louca que existe. Acredito que nasci para ser lutadora, porque comecei por acaso, a convite de uma amiga para fazer taekwondo. Quando comecei a lutar, me apaixonei. Gosto muito dessa competitividade de esporte de luta, que é individual, então seu resultado depende muito de você, do quanto você se dedica - contou Natália, que migrou do taekwondo para o MMA "por acaso", com apenas 18 anos.
- Um dia teve um evento de MMA e meus amigos me chamaram, perguntaram se eu toparia fazer uma luta de MMA. Eu respondi "o quê?", nem sabia o que era isso, falei que eles eram doidos, só sabia chute praticamente. Eles falaram que dava para ir, então eu falei "vamos". Fiz a luta, coisa louca, em 20 dias eu perdi 6kg, fiquei sem comer, não tinha suporte de nutricionista nem nada. Aí fiz a luta em Montes Claros, e não ganhei, óbvio (risos). Mas nessa luta eu pensei "que legal, eu quero isso". Queria lutar para sentir aquela adrenalina de novo. Não tinha um treino adaptado ao MMA, eu era uma presa muito fácil no jiu-jitsu, perdi as minhas lutas no começo, mas essas derrotas me fizeram evoluir. Depois comecei a acompanhar e vi que tinha a oportunidade de me profissionalizar e viver isso, e hoje estou vivendo esse sonho de fazer parte do UFC - acrescentou a mineira.
Nesta entrevista ao Superesportes, Natália também falou sobre a preparação e as expectativas para a luta desta noite, seus objetivos no UFC e como cuida do seu lado pessoal. Confira:
Como foi a reação da família quando você escolheu ser lutadora?
Minha família, mesmo com medo, sempre me deu esse apoio. Bem no começo foi muito difícil, enfrentei preconceito, sou de uma cidade muito pequena que é Pingo D'Água em Minas Gerais, tem 5 mil habitantes, é como se fosse uma rua de Belo Horizonte. Quando comecei a lutar foi totalmente fora da realidade, não tinha tradição de as pessoas lutarem MMA, ouvi muita gente zombando de mim quando comecei a perder, que eu estava perdendo meu tempo em vez de estudar. Mas, graças a Deus, minha família sempre me apoiou e torceu muito por mim. No finalzinho de 2019, fui para Contagem, conheci o Carlos Borracha através de um evento, fiquei morando na academia por mais de seis meses dormindo na maca de fisioterapia. Foi um momento de muito crescimento essa mudança de cidade, me fez crescer muito como atleta, minha evolução é nítida. E também uma evolução como pessoa, porque em Contagem eu já não tinha minha família perto de mim, eram pessoas desconhecidas, tive que me adaptar. Foi uma escolha que mudou minha vida.
Quem são seus ídolos?
Tem muitas pessoas que vejo a história, não gosto nem de citar para não esquecer. Mas uma pessoa que fez muito é o Anderson Silva, e tem a Ronda (Rousey) que abriu o caminho para as mulheres no UFC, ela quebrou paradigmas, abriu as portas, tomou essa frente. E uma pessoa que me inspira fora do mundo da luta é minha mãe.
Como conciliar a rotina de lutadora com os cuidados pessoais?
Eu me cuido para me sentir sempre eu. São muitas horas de treino e conseguir arrumar um tempo para cuidar de você é muito importante. Querendo ou não, a luta tem esse lado de muita força. Eu procuro passar essa força, mas sem esquecer do meu lado delicado, do meu lado menina, de gostar de passar um brilho, eu amo cuidar do meu cabelo. Eu luto mesmo, na hora é uma coisa agressiva, porradaria, mas saber que tem seu lado menina, de cuidar, de se olhar no espelho e falar "estou bem hoje" (risos). Não é porque sou fisicamente mais forte que eu vou perder esse meu lado feminino.
Como projeta a luta contra a Victoria Leonardo?
As expectativas são as melhores possíveis, estou muito feliz de poder lutar novamente, e o coração está como sempre, muito feliz em fazer o que eu amo que é lutar.
Como acha que pode ganhar?
É segredo (risos). Mas vou fazer uma avaliação da Victoria. Como pessoa tenho muito respeito por ela, ela passou por duas lesões seguidas no braço, tenho todo respeito e admiração por ela. Tenho certeza que vai ser uma grande luta. Vou entrar com muita vontade, e estou esperando isso dela, com muita vontade, vai ser uma luta incrível.
Como foi a preparação?
Foi feita toda no Brasil, na academia Team Borracha, fiz todo o camp em Contagem, em Minas Gerais, e vim para Vegas para a fight week (semana da luta). Acredito que tudo ocorreu dentro do planejado, dei o meu melhor nesse camp e com certeza estou pronta, com pensamento positivo sempre.
Como vê a disputa no peso-mosca no UFC?
É uma disputa acirrada, todas as meninas que estão no UFC são pelo feito que fizeram na carreira, chegar ao UFC não é fácil, então todas têm potencial para ser campeã. E é o que buscamos todos dias. O nível é muito bom, é uma categoria difícil.
Se ganhar a terceira luta, em qual patamar você chega na categoria?
Eu não sei. E, para ser sincera, não estou preocupada com essa questão, tenho apenas 26 anos, tenho muita experiência para adquirir no UFC, estou trabalhando. Como a gente diz em Minas, eu estou "comendo pelas beiradas", e vou chegando calada. Quando assustarem, vou estar disputando pelo título. Não tenho pressa, só tenho vontade de trabalhar e estou me empenhando para fazer lutas melhores.
Você foi campeã do Jungle Fight. Quais as diferenças para o UFC?
O Jungle Fight são os melhores do Brasil, e o UFC são os melhores do mundo. É uma proporção gigantesca. O Jungle Fight te prepara para o que você for encontrar aqui fora (no UFC). Toda luta é guerra, e o Jungle te prepara para você não se assustar com essa guerra que é. Quando você chega ao UFC, não te impacta de forma negativa, porque você já chega com bagagem.
CARD COMPLETO DO UFC VEGAS 73
UFC Vegas 73: Dern x Hill
Sábado, 20 de maio de 2023
Card Principal - 20h no UFC Fight Pass
Peso-palha (até 52,1 Kg): Mackenzie Dern x Angela Hill
Peso-médio (até 83,9 Kg): Edmen Shahbazyan x Anthony Hernandez
Peso casado (até 54,4 Kg): Emily Ducote x Loopy Godinez
Peso meio-médio (até 77,1 Kg): André Fialho x Joaquin Buckley
Peso-leve (até 70,3 Kg): Diego Ferreira x Michael Johnson
Card Preliminar - 17h no UFC Fight Pass
Peso-leve (até 70,3 Kg): Maheshate x Viacheslav Borshchev
Peso-palha (até 52,1 Kg): Karolina Kowalkiewicz x Vanessa Demopoulos
Peso meio-médio (até 77,1 Kg): Orion Cosce x Gilbert Urbina
Peso-pesado (até 120,2 Kg): Ilir Latifi x Rodrigo Nascimento
Peso-leve (até 70,3 Kg): Chase Hooper x Nick Fiore
Peso-mosca (até 56,7 Kg): Natália Silva x Victoria Leonardo
Peso meio-médio (até 77,1 Kg): Takashi Sato x Themba Gorimbo