Luca Kumahara ainda tem compromissos com a equipe feminina (Foto: Divulgação/CBTM)


O sobrenome Kumahara sempre foi sinônimo de conquistas para o Brasil no tênis de mesa feminino ao longo dos últimos anos. Entretanto, você não vai mais ouvir falar em Caroline Kumahara e sim em Luca.



 


O atleta, em entrevista ao Ge, afirmou que se identifica como homem e que agora quer ser chamado de Luca, ainda que continue competindo na categoria feminina enquanto não pode jogar pelo masculino.

"Eu nunca me entendi como menina, eu nunca me senti uma menina. Então, desde criança, desde as primeiras lembranças que eu tenho, eu sempre me senti um menino [...] Eu não tive essa fase do "será"? Teve a fase do tentar me encaixar no que socialmente é mais aceito, a cis-heteronormatividade, mas eu sempre me senti um menino mesmo, desde criança", disse.

Segundo Luca, o fato de nunca poder ser ele mesmo foi um dos principais motivos para tomar a decisão de mudar o nome e se identificar como homem.




"Eu pensei: 'Poxa, eu não preciso viver assim para sempre'. Porque era uma questão que eu tinha muito me conformado que ia ser dessa forma. Eu me entendia de uma forma, mas para o mundo, o mundo ia me enxergar de outra forma. Eu nunca ia poder ser eu mesmo. Esse momento foi crucial para eu tomar essa decisão de falar para o mundo, as pessoas podem fazer essa adaptação. A gente pode passar por essa transição, passar por essa mudança e eu continuar fazendo minhas coisas, continuar vivendo do esporte", afirmou.

Luca diz que teve apoio irrestrito da família, de amigos e da própria equipe técnica da seleção brasileira de tênis de mesa para se tornar o primeiro atleta trans da modalidade. 

Mesmo assim, o planejamento, de acordo com ele, é cumprir seus compromissos com a equipe e disputar as Olimpíadas de 2024, em Paris, representando o time feminino.




"Eu ainda tenho objetivos para cumprir com a seleção brasileira feminina. Tenho uma ideia de hormonizar, mas ainda não sei quando e não quero traçar algo, porque pode mudar com o tempo. Então quero cumprir com meus objetivos com a seleção. Quero continuar contribuindo como puder, o máximo que eu puder e depois a gente vê o próximo passo", disse.

Apesar de ter compromissos com a equipe feminina, Luca afirma que tem o desejo de jogar no masculino e lamentou a dificuldade de ter que esperar por isso.

"A minha ideia é que eu vou competir um dia no masculino [...] Enquanto esse dia não chega, eu decidi tornar isso público, para tornar esse desconforto de ainda não poder jogar no masculino menor. É bem difícil a decisão [continuar jogando no feminino]. Porque para mim é uma coisa muito importante que eu estou esperando há muito tempo para fazer. Então, assim, ter que esperar mais por questão profissional é bem difícil. Mas é colocar na balança e saber que é uma decisão para vida toda", finalizou.

A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa já manifestou apoio à decisão de Luca Kumahara e começou a usar pronomes masculinos para se referir ao atleta. No âmbito internacional, a Federação Internacional de Tênis de Mesa tem seu primeiro caso de um jogador trans, mas se mostrou aberta à mudança do nome.

Luca é um dos nomes mais fortes da história do tênis de mesa feminino do Brasil. O atleta já participou das Olimpíadas de Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020.