Líder do elenco do Santos, o goleiro João Paulo é uma das armas do técnico Odair Hellmann para vencer o Newell's Old Boys, em Rosário, na Argentina, às 21h30 (de Brasília) desta terça-feira (2), pela terceira rodada da Copa Sul-Americana.



O capitão alvinegro conversou com o Superesportes e lamentou a desconfiança atual do torcedor do Santos no elenco. Ele também se mostrou contra priorizar uma competição da temporada e admitiu ficar chateado com o próprio desempenho em cobranças de pênaltis, uma crítica comum do torcedor em 2023.

 

Superesportes: Pelo terceiro ano seguido o Santos encerrou o Campeonato Paulista sem se classificar. A atuação contra o Ituano, na última rodada da primeira fase, foi a pior atuação que você viu o Santos fazer desde que virou titular?
João Paulo: Com certeza. Nos últimos três anos esse foi o nosso pior jogo. A gente não teve oportunidades claras de gols e acabamos sofrendo muito na parte defensiva. Infelizmente o nosso desempenho naquela tarde foi muito abaixo e justamente em um jogo que poderia ter selado a nossa classificação ao mata-mata.

A campanha no Paulista trouxe uma série de preocupação para o torcedor em relação ao Brasileiro. Na sua opinião, o Santos vai brigar exatamente por qual objetivo no Brasileirão?
Aquela partida contra o Ituano foi uma virada de chave na nossa atitude e comprometimento dentro de campo. O Campeonato Brasileiro esse ano, especificamente, vai ser muito difícil. Mas acho que a gente vai brigar por uma vaga na Libertadores. Esse é o nosso maior objetivo. A gente sabe que brigar por título é muito difícil, porque existem outras equipes em um nível melhor financeiramente. Até mesmo em termos de elenco, com jogadores com mais história no futebol. A gente tenta tirar de lado essa essa parte de brigar por rebaixamento, que vem muito da nossa torcida, mas o nosso objetivo é uma vaga na Libertadores.

 

A gente sabe que brigar por título é muito difícil, porque existem outras equipes em um nível melhor financeiramente. Até mesmo em termos de elenco, com jogadores com mais história no futebol.

Incomoda quando você vê o Santos ser apontado pelo próprio torcedor como um clube que vai brigar apenas na parte de baixo da tabela? Isso traz uma motivação extra?
Com certeza! A gente quer mostrar que eles (torcedores) estão errados, que temos valor e qualidade para conquistarmos os nossos objetivos. A gente fica triste pelo fato de o nosso próprio torcedor não ter confiança na gente. É claro que os nossos últimos anos fizeram isso acontecer, mas a gente acredita muito no nosso trabalho.

O Brasileirão, por ser um campeonato longo e que exige regularidade, é mais difícil do que as copas. O Santos vem de um longo período sem títulos. Você é a favor de priorizar as copas para colocar fim nesse jejum de conquistas?
Não digo que sou a favor ou contra priorizar as copas. A gente conversa bastante internamente sobre priorizar sempre o próximo jogo. Tratamos cada jogo como uma final porque sabemos que não temos mais margem para erro em razão dos últimos anos e do longo período sem títulos. O Santos é o clube acostumado a ser campeão. Então a gente encara cada jogo como uma final, independentemente de ser Campeonato Brasileiro, Sul-Americana ou Copa do Brasil.

 

 Você é um jogador muito querido pelos torcedores, mas às vezes precisa conviver com a frustração deles. Te irrita quando a torcida fala que você não pega pênaltis? 

Isso é algo que me incomoda. Não vou mentir. Venho me dedicando muito antes dos jogos. O pessoal da análise me passa os vídeos para estudar os batedores adversários. Vejo os pênaltis, fico convicto de que vou defender baseado nas últimas cobranças, mas o batedor não colabora (risos). Acaba mudando o lado na hora. Mas é algo que me incomoda bastante. Tenho que ter cabeça tranquila, porque sei que essa chavinha vai mudar logo, logo.

 

Mas te incomoda não pegar os pênaltis ou as críticas da torcida sobre o assunto
Não conseguir pegar os pênaltis e ajudar os meus companheiros. O torcedor pode falar o que quiser. Ainda mais nessa era das redes sociais, onde cada um fala aquilo que bem entende.

O Santos fez jogos duros contra Grêmio e Atlético-MG, mas foi muito mal contra o Botafogo-SP. O que falta para esse time embalar?
A gente se classificou na Copa do Brasil por merecimento. Talvez o Botafogo-SP tenha sido superior em uma parte do primeiro tempo, na Vila Belmiro, mas se olharmos o conjunto das partidas vamos ver que merecemos a classificação. Talvez o que esteja nos faltando é uma grande vitória. Fizemos um grande jogo contra o Grêmio, mas perdemos em um lance isolado. Contra o Atlético-MG, se pensarmos que é um dos favoritos no próprio Brasileiro, na Copa do Brasil e na Libertadores, não podemos negar que fizemos uma grande partida. O problema é que ficamos no empate. Quando conseguirmos uma grande vitória vamos deslanchar. Já temos apresentado uma evolução defensiva.

O Odair Hellmann fala muito sobre o peso dos últimos dois últimos anos ao explicar as oscilações do Santos. Você também tem essa percepção?
Sim, com certeza. Temos convivido com essa desconfiança de como vai ser o ano do Santos ou de como o Santos vai entrar no Campeonato Brasileiro. Nos últimos dois anos nós tivemos dificuldades, mas em nenhum momento bateu o desespero de que seríamos rebaixados. Ainda assim, a gente está tentando tirar essa bagagem pesada dos ombros para podermos ter uma sequência melhor. Se conseguirmos uma boa vitória, com o time jogando bem, a tendência é isso acontecer.

Como você vê as críticas que o Ângelo tem sofrido nos jogos do Santos?
O Ângelo é um menino que tem muita qualidade, um potencial enorme. No futebol a parte psicológica é muito importante. Essa pressão de que ele precisa resolver as partidas vem o atrapalhando. Ele pulou muitas etapas. A gente pegou um menino de 16 anos e colocou a responsabilidade para resolver os jogos em cima dele. Além disso, existe muita comparação ao Neymar. Acontece que o Neymar é único. E isso também atrapalha. Temos conversado bastante com ele, passado confiança, porque sabemos do potencial dele.

O Santos passa por uma série de jogos sem vitórias sobre o Palmeiras. A última foi em 2019 e isso tira o sono da torcida. Você também está com o Palmeiras engasgado?
Isso é algo que incomoda a gente também. Ninguém gosta de perder. Muito menos perder clássicos. A gente vem procurando evoluir para quando chegarem esses jogos estaduais termos um rendimento melhor. O retrospecto contra o Palmeiras é algo que incomoda o elenco, mas vai chegar o momento em que a gente vai descontar isso.

Nesse ano a sua esposa teve um problema cirúrgico que exigiu muito de você. Como foi conciliar o trabalho com essa situação pessoal?
Foi um período complicado. É até difícil descrever. Vi que o clube e os meus companheiros precisavam de mim. Foi um momento em que precisei ter a cabeça no lugar. Se eu falar que foram dias fáceis estarei mentindo. Não foram. O treino acabava e eu ia direto para o hospital. Me alimentava mal. Às vezes nem almoçava. A minha rotina mudou muito. Graças a Deus a gente conseguiu superar tudo isso.



A seleção vive um momento de reformulação. Você está com 27 anos. Você entende que se vier a ter oportunidades na seleção terá que ser nesse ciclo de Copa do Mundo?
Minha cabeça está bem tranquila em relação a isso. Sei que se a convocação vier, vai vir por mérito meu. Por estar bem no Santos. Então procuro fazer o meu melhor, estar sempre evoluindo para, em primeiro lugar, ajudar o Santos. Estar na seleção não é algo que me tira o sono. Claro que é um sonho vestir a camisa do Brasil, mas tenho a consciência tranquila. Se eu realmente fizer por onde, isso vai acontecer naturalmente.