'A Fé do Cruzeiro': torcedor é candidato pelo Patriota (Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Esporte e política caminham lado a lado mais uma vez. Nas eleições deste ano, ao menos 13 candidatos por Minas Gerais têm ou tiveram vínculos com clubes profissionais - seja como atleta, dirigente, jornalista ou torcedor. A maioria é ligada a partidos de direita ou centro-direita.




Os 13 "candidatos do esporte" profissional identificados pelo Superesportes são homens. Desses, dez estão em partidos ideologicamente associados à direita ou à centro-direita: Podemos (três candidaturas), Patriota, Republicanos, PL, PSDC, PSDB, Cidadania e União Brasil. Os outros três se ligam a siglas de centro-esquerda: PSD, PV e PDT.

A lista de candidaturas relacionadas ao esporte profissional tem ex-jogadores de futebol e vôlei (Ceará, João Leite e Maurício Souza), dirigentes, ex-dirigentes e ex-conselheiros de clubes (Alexandre Kalil, Sérgio Santos Rodrigues, Sérgio Sette Câmara, Alencar da Silveira Júnior e Fabiano Cazeca), torcedores ("A Fé do Cruzeiro" e "Zacagalo") e comunicadores (Vibrantinho, Mário Henrique Caixa, João Vítor Xavier e Álvaro Damião).

"É muito difícil, hoje em dia, a gente entender qual candidato é de direita, centro ou esquerda pelo partido político. Os partidos maiores viraram uma grande mistura de elementos de centro, de centro-direita, de centro-esquerda e direita...", analisou a pesquisadora Regina Helena Alves, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel).




"Escolhe-se alguém que tem muita exposição em um determinado lugar da vida cotidiana. O Tiririca (deputado federal pelo PL em São Paulo) é o grande exemplo de candidatos que são escolhidos por partidos e não candidatos que escolhem o partido. E nada disso é feito através de uma proposta programática, de se ligar à proposta política do partido. É uma tentativa de corrida atrás dos votos de quem tem uma visibilidade em determinadas áreas", completou.

As pautas dos candidatos do esporte filiados a partidos de direita e centro-direita variam. Há quem defenda medidas neoliberais, como a redução da estrutura estatal; outros apostam em temas caros ao bolsonarismo e falam em "defesa da família tradicional", com posicionamentos LGBTfóbicos.

As exceções ligeiramente à esquerda são encabeçadas por Alexandre Kalil (PSD), candidato ao governo e apoiador do presidenciável Lula (PT). Embora muito associados ao centro, o presidente do América Alencar da Silveira Júnior (PDT) e o jornalista Mário Henrique Caixa (PV) completam a lista, já que são filiados a partidos considerados de centro-esquerda.





'Atleticano vota em atleticano' e 'cruzeirense vota em cruzeirense'?


Boa parte dos candidatos ligados ao futebol utilizam na campanha a imagem do clube a que são associados, como Sette Câmara (ex-presidente do Atlético), Sérgio Santos Rodrigues (presidente do Cruzeiro), o ex-jogador Ceará (com passagem pela Toca da Raposa) e os torcedores "A Fé do Cruzeiro" e "Zacagalo".

Escudos das equipes se fazem presentes nas redes sociais e nos materiais impressos dos políticos. Há, em alguns casos, discursos como "atleticano vota em atleticano" ou "cruzeirense vota em cruzeirense".

"É uma correlação que destrói um pouco a lógica e a importância da política, porque vira torcida de futebol, paixão pelo time. E isso não é bom para a política e muito menos ainda para a política eleitoral", argumentou Regina Helena Alves.

Há, ainda, candidatos em Minas Gerais ligados ao esporte não profissional. São professores de educação física, empresários e até pessoas que usam a palavra "esporte" no nome que aparecerá na urna.