Profissionais da saúde dos três clubes da capital conversaram com o Superesportes sobre impactos da COVID-19 em jogadores de futebol (Foto: Fernando Moreno/AGIF)

 
Diferentemente do que se observou nos primeiros meses de pandemia, a COVID-19 tem sido cada vez mais grave para jovens e adultos. Neste cenário, o cuidado precisou ser redobrado também no futebol. O Superesportes conversou com profissionais dos times de Belo Horizonte, que falaram sobre os principais impactos da doença em jogadores.



 
No futebol mineiro, o Atlético foi o clube com mais casos de COVID-19 desde o início da pandemia. Ao todo, 34 pessoas, entre membros da comissão técnica e atletas, foram infectadas. Alan Franco, meio-campista equatoriano, foi um dos mais afetados pela doença e levou alguns meses para recuperar o condicionamento físico.
 
O América teve 32 casos e um dos mais recentes foi o mais severo. Leandro Carvalho, atacante recém-contratado do Ceará, testou positivo para o coronavírus pouco depois de sua chegada ao clube. Após retornar, o jogador passou mal durante treinamentos e também durante sua estreia, diante da Caldense, quando vomitou em campo.
 
Entre atletas e membros da comissão técnica, o Cruzeiro registrou 15 casos de COVID-19 desde o início da pandemia. A Raposa foi um dos clubes do Brasil que menos sofreu com baixas por conta da doença.
 

América

 
Em entrevista ao Superesportes, André Jafeth, médico do América, detalhou o procedimento-padrão do clube em relação aos casos de COVID-19. Ele destacou o monitoramento constante dos atletas infectados.



 
“Os principais impactos nos jogadores, além de questões gerais, como os sintomas, é mais a questão do afastamento. Os atletas têm que cumprir esse afastamento sem nenhuma atividade física. Eles têm que ficar sem treinar. Então, ocorre uma perda de condicionamento. Temos que ter atenção com possíveis alterações cardiológicas também”, disse.
 
“A gente vem seguindo as recomendações dos órgãos superiores, e do que a gente tem na literatura em cima dos cuidados. Em primeiro lugar, o isolamento. Depois que eles completam esse período de isolamento - de no mínimo dez dias, mas podendo estender um pouco mais em alguns casos recomendados -, esses atletas são avaliados clinicamente, fazem os exames cardiológicos. Com os exames normais, eles são liberados para o retorno às atividades, mas a gente mantém uma atenção, um acompanhamento. Qualquer queixa, a gente faz uma nova avaliação e vai fazendo esse acompanhamento dos atletas”.
 

André Jafeth, médico do América (Foto: Divulgação/América)


André Jafeth também pontuou que atletas profissionais de futebol têm menores chances de desenvolverem complicações mais severas com a COVID-19 por não estarem diretamente associados ao grupo de risco da doença.



 
“Com relação aos atletas, a gente tem um público que não entra na classificação de grupo de risco, por assim dizer. Não tivemos nenhum caso mais importante. Foram todos sintomas relativamente mais leves. Alguns sentiram um pouco mais, mas já é um grupo que, teoricamente, não é considerado de risco. Por faixa etária, a questão da atividade física, por exemplo”, disse.
 
“Acho que a maior dificuldade, o maior impacto é com relação à saúde geral mesmo. É uma coisa nova, que as pessoas têm aprendido cada vez mais sobre. Pode ocorrer sim algum acometimento muscular, a questão da falta do treino - tem atleta que emagrece, perde massa magra. Agora, alterações pulmonares não tivemos muitas entre os atletas. A limitação é que os atletas se sentem mais cansados. Isso aí, às vezes, é alguma questão cardiovascular, às vezes, coisas metabólicas que ainda vamos conhecer com o tempo. Mas acho que é um conjunto. A maioria dos atletas que temos acompanhado não tem uma recuperação demorada, passando também pela questão do condicionamento”, completou ao Superesportes.
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Atlético

 
Em entrevista ao Superesportes, Haroldo Christo, médico cardiologista do Atlético, destacou a sensação de fadiga dos jogadores que contraem a COVID-19. Ele também ressaltou a dificuldade para recuperar o condicionamento físico.



 
“O principal impacto tanto em atletas quanto em não-atletas é a sensação de fadiga que se segue à COVID. Além de levarem mais tempo que o habitual para recuperar o seu condicionamento físico, os atletas também apresentam dores musculares com maior frequência. Assim como na população geral, pressupõe-se que atletas com doenças associadas (por exemplo, asma, diabetes, etc), possam vir a ter complicações mais graves e frequentes”, analisou.
 

Haroldo Christo, médico cardiologista do Atlético (Foto: Gladyston Rodrigues)


“A principal manifestação pós-COVID é de fadiga/fraqueza muscular. Casos em que há comprometimento respiratório e/ou cardíaco são raros em atletas que tenham tido COVID-19 sem apresentar sintomas. Já os indivíduos que tenham apresentado quadros mais graves, como pneumonia e necessitado internação hospitalar, estão mais sujeitos a manifestar complicações cardíacas e pulmonares”, completou.
 
Também em contato com a reportagem, Cristiano Nunes, preparador físico do Atlético, falou sobre as medidas de prevenção adotadas pelo clube para evitar casos de COVID-19. “É importante ressaltar que o Atlético adota medidas severas, bastante rígidas com relação à prevenção da contaminação por esse vírus para que o nosso ambiente de trabalho seja bastante seguro. Medidas como a realização de exames periódicos, o controle térmico diário, afastamento mediante qualquer tipo de sintoma até um novo exame, higienização das mãos, utilização de máscara, higienização de equipamentos etc”.
 
“Existe uma preocupação muito grande por parte de todos, pelo momento em que o país se encontra em relação a essa pandemia. Temos visto um alastramento muito grande, muitas pessoas sendo acometidas e com sequelas. O mais preocupante são os muitos óbitos diariamente”, agregou.



 
Sobre a preparação física, Cristiano destacou o 'cuidado especial' na recuperação dos jogadores acometidos pelo coronavírus, com intensidade progressiva de treinamentos conforme a evolução do atleta.
 

Cristiano Nunes, preparador físico do Atlético (Foto: Pedro Souza/Atlético)


“Com relação à recuperação física, nós sabemos que as pessoas respondem diferentemente ao vírus. No futebol, é muito difícil os atletas apresentarem sintomas sérios. Aqueles que passam assintomáticos continuam fazendo uma rotina de exercícios estabelecida pela equipe técnica em suas casas, em quarentena, isolados”, explicou.
 
“Aqueles que apresentam alguns sintomas são aconselhados a ficarem em inatividade. No seu retorno aos treinamentos, a carga passa a aumentar gradualmente à medida que ele se sente à vontade para realizar os treinos. Existe um cuidado especial no retorno aos treinamentos para que o atleta consiga recuperar sua condição física, com muito controle”, finalizou.


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Cruzeiro

 
Sérgio Campolina, médico do Cruzeiro, ressaltou ao Superesportes o comprometimento dos atletas do clube com o isolamento social durante a pandemia. A Raposa teve um dos menores índices de casos de COVID-19 nas Séries A e B.
 
“Os clubes de futebol não conseguem ficar fora da realidade do Brasil. Sendo um grupo fechado, a gente é obrigado a redobrar os cuidados, que são fundamentais no controle da COVID-19. Os atletas do Cruzeiro, vendo que a gente controlava com os exames e o rigor no uso de álcool gel e máscaras, já dentro do clube criava-se uma 'bolha de segurança'. Isso se confirmou pelo baixo número de casos. Tivemos um dos menores índices de casos positivos tanto da Série A quanto da Série B”, afirmou.
 
“Nos casos positivos, nenhum atleta teve uma repercussão clínica significativa. Agora, nessa 'segunda parte' da doença, não tem sido muito necessário ficar cobrando dos atletas. Porque realmente a doença tem acometido muitos jovens, atletas, e com repercussões clínicas. Então, os jogadores têm ficado mais cautelosos também fora do clube. Também estão buscando segurança fora do clube. A consciência aumentou bastante”, constatou.



 

Sérgio Campolina, médico do Cruzeiro (Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)


Sérgio também falou sobre os impactos mais observados em atletas profissionais de futebol e destacou a dificuldade na recuperação de massa muscular nos meses subsequentes à infecção.
 
“Nenhum com repercussão cardiológica, pulmonar ou distúrbio de coagulação. Todo atleta, uma vez positivado, a gente faz uma série de exames complementares para evitar esse tipo de complicação. A gente sabe que essas complicações têm surgido a partir do décimo dia, que era antes um dado de liberação dos atletas. A gente tem criado uma cautela acima do que a gente tinha ano passado, na verdade, de controle”.
 
“A doença é sistêmica. Então, aqueles atletas assintomáticos, ou com sintomas leves, a repercussão cardiopulmonar foi muito baixa. Agora, aquele que porventura desenvolveu algum tipo de pneumonia, há sim uma queda de rendimento inicial, nos quatro meses pós-doença - inclusive, com perda de massa muscular. A gente controla muito esse percentual de gordura, e realmente, nos atletas que têm tido uma repercussão clínica, têm tido uma dificuldade maior de voltar para os índices pré-infecção. Isso é fato”, completou Campolina em entrevista ao Superesportes.
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