O mais tradicional campeonato de futebol do estado parece ser também o menos atraente para o torcedor. Mesmo no início, o Campeonato Mineiro, que está na 98ª edição, não empolga. Somado o público das 18 partidas realizadas, apenas 41.692 pessoas compareceram aos estádios (média de 2.316 por jogo) – número insuficiente para encher o Mineirão, cuja capacidade será de 64.500.
Em razão disso, a arrecadação com bilheteria também encolhe. Nas três rodadas disputadas, as equipes recolheram um total de R$ 608.836 (média de R$ 33.824 por partida). Pouco maior do que um único jogo do Campeonato Carioca, a semifinal da Taça Guanabara entre Vasco e Flamengo, no Engenhão, com renda de R$ 590.240.
Ouvido pelo Superesportes, o presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF), Paulo Schettino, credita o afastamento do torcedor em função da ausência de um estádio em Belo Horizonte.
“O grande problema é a falta de uma arena na capital. Por mais que Sete Lagoas seja uma cidade próxima de BH e receptiva, lá não é a casa de Cruzeiro e Atlético”, avalia Schettino, desconsiderando os baixos números registrados também pelos clubes do interior. Apenas uma partida das equipes interioranas registrou público superior a três mil pagantes: na primeira rodada, derrota do Democrata-GV, em Valadares, para o América (3.627).
Questionado sobre uma nova forma de promover o torneio, Schettino elenca antigas estratégias que não saíram do papel: “Pensamos em deixar o campeonato mais atrativo resgatando as famosas rodadas duplas. Já tentei fazer, mas é muito difícil. Os clubes não aceitam. Outra ideia é realizar preliminares com jogos da base ou de clubes amadores. As equipes também recusam porque piora o estado do gramado”.
As arquibancadas vazias afetaram diretamente os cofres da FMF. “Como o rendimento com bilheteria caiu drasticamente depois que o Mineirão entrou em reforma, estamos com dificuldades financeiras, já que parte significativa de nossa renda vem de uma cota fixa dos jogos dos clubes do estado que temos direito”, relata o presidente da entidade. “Tivemos, inclusive, que pegar um empréstimo bancário para pagar o 13º salário dos funcionários da FMF”, revela.
A vitória do Guarani sobre o Cruzeiro, por 1 a 0, na Arena do Jacaré, em partida válida pela segunda rodada, obteve o maior público do campeonato: 4.825 pagantes. Além desse jogo, apenas a partida entre Atlético e Boa (4.419), na estreia do Estadual, superou a marca dos 4 mil.
Os dois confrontos com menor público tiveram o América em campo. Como mandante, o Coelho recebeu apenas 439 torcedores na vitória sobre a Caldense na Arena do Jacaré, em jogo válido pela segunda rodada. E na terceira rodada, nessa quarta-feira, no Farião, como visitante, contra o Nacional, com 309 pagantes.
Considerando anormal a ínfima presença do torcedor nos estádios mesmo em início de campeonato, Olímpio Naves, integrante do conselho administrativo do América, propõe que a fórmula seja alterada para se ter um campeonato revigorado. “Está claro que é preciso fazer adequações. Da forma como está será prejuízo técnico e financeiro permanecer por muito tempo. Acredito que a melhor forma é realizar um campeonato mineiro regionalizado, aproveitando as rivalidades locais. Depois, os melhores e os clubes da capital se enfrentariam em uma fase final. Dessa forma, o público vai ter mais estímulo para ir a campo”, sugere - embora não tenha feito de forma oficial à FMF.
Interior
A queda nas arrecadações das bilheterias prejudica em maior intensidade os clubes com menor poder financeiro. Em função disso e acrescido a ineficácia de outras fontes de renda, alguns dirigentes acreditam que a disparidade entre os grandes e pequenos do estádo deve crescer. Para o vice-diretor de futebol do Villa Nova, Nélio Aurélio de Souza, há um efeito cascata que atinge as finanças dos clubes.
“Existe um privilégio descomunal da televisão para com os grandes clubes. Enquanto Cruzeiro e Atlético recebem algo entorno de R$ 6 milhões, a gente (times do interior) consegue apenas R$ 300 mil. Com esse dinheiro não dá para contratar nenhum jogador de destaque que faça com que o torcedor saia de casa e gaste seu dinheiro com ingresso”, afirma o dirigente do Leão do Bonfim, que acredita em um futuro pouco promissor aos pequenos: “Se não houver um socorro financeiro, será difícil qualquer clube do interior de Minas Gerais conquistar um Campeonato Mineiro. Isso sem falar nos torneios nacionais, no qual a diferença financeira com os paulistas é muito grande”, completa.
Outro cartola que faz coro a esse discurso é o presidente do Tupi, Áureo Fortuna. Segundo ele, o Campeonato Mineiro só será atraente a partir do momento em que os clubes do interior conseguirem montar times que façam sombra aos da capital.
“Precisamos de mais recursos. Nós pagamos tudo: passagens, hospedagens, árbitros... Sobra pouco para contratar bons jogadores e pagar salários condizentes com os inflacionados valores de mercado. É preciso valorizar o interior para que o Campeonato Mineiro se valorize como um todo”, frisa o presidente do Galo Carijó.
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1ª rodada | 2ª rodada | 3ª rodada |
Cruzeiro x Nacional Renda: R$ 39.250 Caldense x Tupi Público: 2.832 Renda: R$ 31.155 | América x Caldense Renda: R$ 85.033,25 | Villa Nova x América-TO |