Robinho estava no Milan na época do crime de violência sexual (Foto: Iconsport)
Risadas e muita convicção que "não daria em nada". Essa foi a postura de Robinho ao saber sobre os primeiros depoimentos de amigos na investigação sobre estupro que culminou na sua condenação a nove anos de prisão na Itália.
Os áudios de grampos feitos pela Justiça italiana foram divulgados em uma série de podcasts do 'UOL'. O primeiro episódio mostra as ligações em que Jairo e Ricardo Falco, os primeiros a serem chamados, contaram para o jogador sobre seus depoimentos.
Na época, eles pareciam convictos de que a investigação não daria em nada. Tenso, Jairo, relatou que a moça que acusou o grupo de estupro coletivo 'denunciou geral'. Robinho ria.
Jairo: Ela denunciou geral. Os caras me chamaram para depor.
Robinho: risos.
Jairo: Eu to falando sério. É sério. Os caras me chamaram para depor. Ela deu nome de todo mundo.
Robinho: Eu tô fora! [risos]
Jairo: Eu sei. Mas você tá fora? Deu o nome do Galan, do coisa todo... Cê tá rindo?
Robinho: [Risos] Pau no cu deles que pegaram a menina. Eu não fiz porra nenhuma. Não conheço.
Jairo: To falando com você o que me falaram... Cê ta rindo. Tô falando sério. Eles vão te chamar, eles têm seu número.
Robinho: Eu também, por isso que eu to rindo. Não estou nem aí. A mina estava totalmente embriagada.
(...)
Robinho: Pau no cu dos que comeram a mina, que se foda, você não comeu, eu não comi. Não toquei na menina.
Jairo: Eu não vi, eu não tava la dentro, tava tocando. Acabei de tocar, fui embora. Eu tava no meu carro. Falei ó: sua mulher tava lá, tava. A mulher dele tava lá, tava. Foram embora mais cedo, de taxi, um carro ficou com o Robinho, outro com os amigos. O que eu sei é isso. Você pegou seu carro e foi embora e deixou eles lá. Pronto acabou, é isso que tem que falar.
Em outro trecho das mais de 10 horas de conversas anexadas ao processo em que os acusados aparece, Robinho faz uma ameaça sobre um eventual encontro com a depoente.
Robinho: 'Vou dar um soco na cara dela. Dar um murro na cara dela, falar 'porra o que eu fiz contigo?'
A mulher, albanesa, era amiga de um dos amigos de Robinho, Ricardo Falco, que também foi condenado. Quando chamado para depor, Falco avisou o amigo.
Robinho: Cês foram comer a mina lá, agora aí ó... Vai... [ri]
Ricardo Falco - Já tá sabendo né
Falco: Os caras me ligou aqui mano
Robinho: Quem te ligou?
Falco: Os cara da polícia, mano!
Falco: Pra fazer o que? ir lá depor?
Depois de comparecer à delegacia, ele faz outra ligação. Além de acreditar que a denúncia não renderia muitos desdobramentos para ele e Robinho, ele ainda disse que a jovem poderia, se quisesse, ter chantageado o jogador.
Falco: Eu falei assim, vou ser sincero para o senhor, ela tava bêbada na festa, tava com um amigo nosso lá, deu uns beijo e saiu fora com o cara, depois encontrei ela no fim da festa, dei até uma carona para ela lá. Ele 'é, o Jairo falou isso mesmo, que ele viu ela sozinha'. Mas esse negocio de três, quatro [homens] não existe não. E outra, se ela tava lá, é porque ela quis, independente de estar bêbada ou não, porque ninguém é louco.
Robinho: E outra coisa, Jairo foi lá, ficou com a cabeça um 'trevo'. Eu falei, 'Jairo, ninguém é responsável pela mina. Ela sabe o que ela ta fazendo. E outra coisa, o cara te ligou por que te conhece. Tu não é obrigado a... Vai me ligar pra que? Eu vou falar o que? O bagulho faz um ano. Não lembro o que eu comi ontem no almoço, vou lembrar o que aconteceu há um ano, tava lá me divertindo, o que eu tenho que ver.
Falco: Exato. E o cara falou 'e o Robinho tava também né? Eu falei, tava no pagode. E ele 'mas o pessoal é amigo dele né'. Os cara pirou sabe em mais quem? No Cleitinho [inaudivel] E no Galan. Mas o Galan mano, foi o que menos fez porra nenhuma.
Falco: Vou te falar, eu vc e o galão não fizemos nada. Lembro dos cara falar 'tem oito cara'. Agora, Cleitinho, Rudiney e Alex.. [risos]
Só que a mina foi malanda, e os cara é cabaço também, o Cleiton, os cara tudo tem lá no Facebook, dando esse milho? Deleta, mano. A mina ficou o ano inteiro só correndo atrás. Na hora que os caras começou a falar 'sei que eles tão no Brasil, são amigos do robinho, é Fábio Galan, é Cleiton dos santos, Allan, não sei quem'. Eu falei assim ó, sei que tava com um... Aí ele falou 'não não, Falco'. Eu sei que você não tem nada a ver. Ela falou que vc era amigo dela. Eu falei que eu nao vou salvar ninguém, não to salvando nem minha mãe.
Robinho: Nem eu. Se ele me ligar, eu ter que ir lá, vou assim 'ah, quer ir atrás dos cara, vai lá no Brasil'. O importante é que eu nem conheço essa mina. Ve se ela tem meu telefone, se me beijou.
(...)
Robinho: [Você] Foi bem demais. A mina foi mal para caralho.
Falco: A mina se ela é malandra... Ela foi, sei lá... Não teve nem maldade, entre aspas. Se é mais malandra, pega nois dois dias depois, e fala fiz uns exames, 'ó Robinho, me da um dinheiro ou vou no jornal'. Se a mina fez exame, fodeu.
Robinho: Primeiro, a gente não tocou a mina, quem tocou foi os moleque. E segundo, não tem prova nenhuma. A única coisa é que ela falou com o Cleitinho no Facebook. Ele tá fodido.
(...)
Convencido que tinha tirado o depoimento de letra, Falco falou sobre a família, a vida na Itália e futebol com os policiais.
Falco: Eu falei 'você acha que se eu devesse algo tinha vindo aqui?'. Aí ela falou 'bravo'. Aí virou bagunça. Perguntou como eu tinha te conhecido. (...) Ela falou 'ah, que legal'. Falei ó, falei a verdade por que foi o que eu vi. Me levou para tomar café.
Robinho: Aí ficou doce.
Por que Robinho foi condenado?
Robinho e Ricardo Falco foram condenados por crime de violência sexual em grupo em 2013, na boate Sio Cafe, enquanto era jogador do Milan. O último recurso da defesa foi analisado em 2022 pela Corte de Cassação de Roma, terceira e última instância da justiça italiana, que não permite mais apresentações de recursos. A decisão, portanto, é definitiva.
Na época, Robinho defendia o Milan. Ele, Falco, e outros quatro brasileiros foram denunciados pelo crime. No início, o jogador negava qualquer contato com a vítima. NO decorrer do processo, admitiu contato sexual, mas negou ter cometido violência sexual. O processo se iniciou em 2016, mas ele não apareceu às audiências durante os julgamentos. A primeira sentença foi proferida em 2017. Em 2020, a Corte de Apelação de Milão manteve a condenação, e em 2022, veio a decisão final.
Como não pode ser extraditado, o jogador vive isolado, no Guarujá, litoral de São Paulo. Ele também não pode sair do país, já que há um mandado de prisão internacional emitido pela Justiça da Itália. Em março, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ordenou que o jogador entregasse seu passaporte. A Itália pediu que o Brasil homologasse o a sentença, e o pedido ainda está em análise.