Campo do Santa Maria Atlético Clube fica bem ao lado da antiga fábrica (Foto: Arthur Sandes/Superesportes)


 
 
Um clube de 109 anos está prestes a fechar as portas na cidade de São Paulo. A Justiça aceitou o pedido de uma multinacional e determinou a reintegração de posse de um terreno de R$ 86 milhões, e o Santa Marina Atlético Clube vai deixar de funcionar.




O clube é tradicional nos torneios de várzea e de categorias de base da capital paulista. Jogadores como Lulinha e Fininho (ambos ex-Corinthians), Rodrigo Taddei (ídolo da Roma) e o atacante Morato (ex-São Paulo e Vasco) já defenderam o time. Depois de uma disputa judicial de 16 anos, o Santa Marina corre risco de acabar.
 

Por que o clube vai fechar


A disputa é entre o Santa Marina e o Grupo Saint-Gobain. O clube operário nasceu em 1913, da relação umbilical com uma vidraria, no mesmo local que ocupa atualmente. A multinacional se associou à vidraria e entrou na história nos Anos 1960, hoje é dona de toda a área ao redor e tem outros planos para o terreno.  

Desde 2007 o clube e a multinacional disputam na Justiça o terreno de 9,2 mil m², que abriga um campo de terra, uma quadra de salão, vestiários e uma sala de troféus. Tudo fica no bairro da Água Branca, a 750 metros dos centros de treinamento de Palmeiras e São Paulo.
 
Em 2021 o Santa Marina chegou a empacotar os troféus na iminência de uma reintegração de posse, mas o processo foi suspenso de última hora. Neste ano a reintegração voltou à tona, e um oficial de Justiça é esperado no clube nesta quarta-feira (14) para fechar o portão.



 
O processo de reintegração de posse corre na 38ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo. A decisão de 30 de maio “determina a reintegração de posse do imóvel à Saint-Gobain, com a única observação de que devem ser mantidos exclusivamente a preservação do local (imóvel); as suas instalações físicas; e o acerto patrimonial do SMAC que lá se encontra, sem a manutenção das atividades”.
 
 
 

Anos de tensão e fio de esperança

 

Sala apinhada de troféus da base e da várzea terá que ficar intocada até a solução das disputas na Justiça (Foto: Arthur Sandes/Superesportes)

 

Por um lado, o Santa Marina tenta assumir o terreno via usucapião (por tempo de ocupação); por outro, a Saint-Gobain tenta a reintegração de posse por ter adquirido a área da antiga vidraria. A Prefeitura Municipal de São Paulo também está envolvida porque o Departamento do Patrimônio Histórico avalia o tombamento do clube.

 

A esperança do clube é que o processo de usucapião ou o tombamento avance rapidamente, antes que o tempo estrague a estrutura que vai ficar parada, sem uso, por tempo indeterminado. 




 

– Eu nasci e fui criado aqui. Meu bisavô, meu avô, meu pai, minha mãe, minha irmã e eu trabalhamos na vidraria. Nós não invadimos nada – reclama Francisco Ingegnere, presidente do Santa Marina AC.

 

– Este clube existe há mais de 100 anos, desde os Anos 1940 neste terreno. Nós existimos aqui. São várias famílias de funcionários da vidraria, aqui neste terreno. Nós não queremos dinheiro, queremos ficar aqui – completa Ingegnere.

 

Procurado pelo Superesportes, o Grupo Saint-Gobain diz que sempre esteve "disponível e aberta ao diálogo" e que  "será preservado o acervo histórico do clube, até decisão definitiva do Poder Judiciário".