CEO de Negócios e Relação Internacional do Athletico-PR desde o início do ano passado, Alexandre Mattos analisou a mudança estrutural dos clubes no futebol brasileiro. O dirigente, que tem passagens por Palmeiras, América-MG, Cruzeiro e Atlético-MG, disse que o clube paulista dificilmente se tornará clube-empresa.
Mattos ainda classificou o Palmeiras como "clube único" de comentou casos de alguns clubes que veem na SAF (Sociedade Anônima do Futebol) uma salvação. Atualmente, na elite nacional, seis já estão no formato de clube-empresa: Botafogo, Vasco, Cruzeiro, Red Bull Bragantino, Bahia e Cuiabá. O Athletico-PR estuda a possibilidade.
- A SAF do Athletico-PR é diferente das outras. Estamos acompanhando o desenvolvimento das SAFs Brasil afora, alguns clubes colocaram a SAF como salvação pelo investimento financeiro, mas o Athletico, não. O Athletico-PR não tem dívidas, tem uma estrutura entre as melhores, se não for a melhor, na América do Sul, não precisa construir nada. Precisa de investimento para desenvolver jogadores em quantidade, ter essa capacidade maior de busca de jogadores e manutenção - disse Mattos, em entrevista exclusiva ao Superesportes.
- Já temos alguns candidatos, que temos conversado há algum tempo. Tenho certeza que teremos uma oportunidade real muito em breve. O Athletico-PR não tem uma urgência, é um clube extremamente organizado. Claro que quanto antes acontecer, melhor para ter a entrada de investimento para o Athletico ser mais protagonista. Tinha uma previsão bem otimista no ano passado, mas, após a eleição presidencial, até o mundo entender como o Brasil vai ser, deu uma diminuída no ritmo. Aos poucos estamos retomando - acrescentou ele, sem revelar as empresas interessadas em investir no Furacão.
Mattos passou pelo trio mineiro
Mattos iniciou a carreira como dirigente no América-MG e passou por Cruzeiro, Palmeiras e Atlético-MG até chegar ao Athletico-PR. Ao todo, são 11 títulos conquistados no futebol profissional, com elogios e críticas em relação ao seu trabalho, principalmente no Alviverde.
- O Palmeiras é um clube único em todos os sentidos. Só quem trabalha no Palmeiras sabe. Senti na pele o que é ganhar títulos no Palmeiras e que perder também é uma sensação única pelo ambiente, cobrança e exposição. Já falei que tomei pressão até dando volta olímpica, com torcedores na arquibancada cobrando desempenho. É um clube único, onde o amor e a cobrança andam muito próximos. Ganhar é uma alegria fora do normal, mas a cobrança vem na mesma medida - afirmou.
Nesta entrevista exclusiva, Mattos falou sobre a relação com o coordenador Luiz Felipe Scolari e projetou novas conquistas com o Athletico-PR. Ele ainda disse que Flamengo e Palmeiras "dificilmente vão se tornar SAF".
Confira abaixo trechos da entrevista:
Como vê o momento do Athletico-PR?
O Athletico há muitos anos é um clube dos mais organizados em gestão e equilíbrio financeiro do nosso país. Não à toa ele prioriza sempre esse modelo de estrutura e dá resultado, porque a prova é que o Athletico, com menos recursos, consegue resultados expressivos e protagonismo, foi campeão da Sul-Americana e vice da Libertadores no ano passado. Cheguei com a missão de dar um salto nas negociações, de ampliar a rede de captação e relacionamento de mercado, fazer a gestão de futebol, e as coisas estão indo muito bem. Estou bastante feliz, a gente entende que o Athletico-PR vai ano a ano nessa possibilidade de subida.
O presidente Petraglia projetou ser campeão mundial até 2024. É possível?
Tudo começa com sonho, o Petraglia há mais de 20 anos tinha o sonho de colocar o Athletico no protagonismo. E conseguiu. A primeira meta era ser campeão brasileiro. A partir daí, conseguiu outros títulos. Está faltando a Libertadores, mas já chegou a duas finais. Esse sonho não vai parar, vamos tentar contribuir para alcançar esse desejo que todo torcedor tem. Sabemos que temos essas condições mesmo com investimento menor.
Como tem sido o trabalho com Felipão?
O Felipão é um ídolo de todo brasileiro, campeão do mundo (em 2002), supervitorioso em todos os clubes que passou. Eu já tinha um relacionamento maravilhoso com ele, fomos campeões brasileiros em 2018 juntos no Palmeiras, e agora tenho aprendido muito. É um profissional com uma vasta experiência, é uma convivência satisfatória, de crescimento profissionalmente e pessoal.
Acha que a SAF é a solução para os times? Quais os desafios?
Quando falamos de SAF, o grande desafio é esse: o clube saber quem está comprando e quais são os desejos. O que eu vejo de preocupante no futebol brasileiro é isso, se essa negociação está sendo feita de forma transparente, para não ocorrer uma expectativa diferente e depois uma frustração. Precisa ter essa comunicação interna entre as partes, a comunicação externa de explicar os motivos, e de quem está comprando explicar quais os interesses. Acho que essa comunicação vai ter que ser muito clara.
Isso explica as críticas que Ronaldo já recebeu no Cruzeiro?
É difícil me posicionar sobre o dia a dia, porque não estou sabendo o que está se passando, se as partes se comunicaram daquilo que estava se comprando e vendendo. Aí que pode ter problema.
E o que acha de investidores como os do Atlético-MG?
Tive o prazer de ter a honra de trabalhar com eles, são pessoas extremamente competentes, que salvaram o Atlético-MG naquele momento. Eles salvaram e foram além, porque, além de organizarem a casa, ganharam títulos. Se não tivesse tido aquela entrada de recursos, dificilmente aconteceria isso.
Como vê a superioridade atual de Flamengo e Palmeiras?
São clubes que dificilmente virarão SAF, porque são clubes com outra organização nesse momento, e o futuro vai depender dessa continuidade. No Palmeiras, participei do processo de reorganização (em 2015), sei que tudo que foi feito foi fundamental, e não à toa está aí até hoje. O Palmeiras tem uma sequência de ideias positivas, desde o Paulo Nobre, o Mauricio Galiotte e agora com a Leila Pereira, e com muitos profissionais que tive o prazer de convidar para trabalhar lá. No Flamengo estou vendo de fora, é difícil dizer, mas enxergo exatamente o mesmo, de ter essa continuidade, e isso traz um benefício enorme.
Como é ver o Palmeiras conquistando tudo hoje?
Não tenho dúvida que é uma alegria e uma honra ter passado pelo Palmeiras. Nunca sozinho, sempre com outras pessoas. Sabemos da nossa responsabilidade, de que quebramos paradigmas, quebramos culturas que entendemos que precisavam ser mexidas. Uma alegria enorme com esse legado gigantesco, e esse é o ponto positivo do profissional: sempre trabalhamos no Palmeiras no momento e principalmente no futuro. Sempre deixei isso claro nas entrevistas e acabou que acarretou nesse legado.
O que você pega de tudo isso para fazer hoje no Athletico-PR?
Tudo na vida são os exemplos positivos e negativos, é copiar as coisas boas, ter gestão, trabalhar dentro da sua realidade e, sem dúvida alguma, dar tempo a isso. Algumas pessoas não esperam, a gente vê os profissionais sendo torrados antes de vir a maturidade. Precisa ter bom exemplo de gestão acima de tudo, uma política bem clara de governança e equilíbrio. E o mau exemplo é justamente o contrário, com irresponsabilidade, tomar atitudes por paixão e não por razão. Não que o profissional não tenha que entender a paixão do seu torcedor, que é o consumidor, mas impulsividade, demissões para dar satisfação para a arquibancada só trazem prejuízo financeiro, técnico e na gestão, porque não vai ter continuidade.