Bauermann e Lomónaco são citados na denúncia do MP sobre esquemas de apostas (Foto: Divulgação/Ivan Storti/Santos FC)
O fato de o zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos, não ter cumprido o acordo com um grupo de apostadores para receber cartão amarelo contra o Avaí, no Brasileirão do ano passado, gerou um prejuízo para outro zagueiro, o argentino Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino, que também deveria ser punido com amarelo, no jogo contra o América-MG, pela mesma rodada – ele cumpriu o combinado.
Conversas interceptadas pelo Ministério Público, às quais o Superesportes teve acesso, mostram que Lomónaco foi procurado por um suposto aliciador no dia 26 de outubro e recebeu uma proposta de R$ 70 mil pelo cartão amarelo. O grupo depositou R$ 30 mil de forma adiantada ao jogador. Ele foi avisado que o restante, caso cumprisse o acordo, seria pago após a partida.
(Foto: Reprodução)
Às 18h40, 20 minutos antes do início do jogo, Lomónaco foi alertado, ainda na conversa interceptada pelo MP, que Bauermann não fez o combinado e, portanto, ele também não precisava ser advertido pela arbitragem. O argentino respondeu apenas às 21h13, já após o fim do confronto, informando que havia sido punido com cartão amarelo.
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Pouco depois, em áudio, o suposto aliciador explica o ocorrido.
— Eu ia falar para cancelar, se você conseguisse ver o celular, entendeu? Porque o jogador do Santos, que é nosso, não tomou. Mas sem problemas. Como você tomou, sem problemas, você vai receber normal — disse.
Lomónaco responde, também em áudio, que não estava com o celular na hora da mensagem, e que por isso não viu o alerta. O suposto aliciador, então, pede para que o zagueiro aguarde o término da rodada.
Três dias depois, em 8 de novembro, é Lomónaco quem entra em contato com o grupo de apostadores. Ele pergunta o que o suposto aliciador está fazendo, que responde "trabalho".
A conversa seguinte interceptada pelo Ministério Público já é de janeiro deste ano. O suposto aliciador é questionado pelo zagueiro sobre o pagamento: "Não vai pagar o que me deve?".
— Quanto falta, irmão? R$ 30 mil? Sabe o que aconteceu, mano? Na rodada que você tomou, o Eduardo Bauermann, do Santos, não tomou, e nós perdemos tudo. Então, tomamos red (quando perde o dinheiro da aposta) — justifica o suposto aliciador. Ele continua a explicação em áudio.
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— A aposta que nossa equipe fez na mesma rodada, que você ia tomar amarelo, eu cancelei com os jogadores do Cuiabá. Só com você não deu tempo, porque seu jogo era junto, no mesmo horário do Bauermann. E o desgraçado não tomou amarelo, o filho da p* ramelou e o prejuízo é todo dele. Ele está no débito — disse.
O áudio segue com a justificativa de que o grupo perdeu "no mínimo dois milhões".
— Perdemos muita grana. Ele ramelou nessa missão. Aí na próxima rodada a gente colocou ele para ser expulso. Ele e mais dois. Os outros dois, que foram Dadá Belmonte e mais um, que eu não lembro, foram expulsos. E o Eduardo Bauermann não foi expulso, só foi expulso depois que o juiz apitou. Não adianta nada, perdemos outra operação, duas seguidas — afirmou.
Lomónaco recebeu, neste momento, uma nova proposta de aliciamento. Ele deveria cometer um pênalti no primeiro tempo do jogo contra a Portuguesa, pelo Paulistão deste ano, e em troca receberia, além dos R$ 40 mil que os apostadores deviam, R$ 150 mil (sendo R$ 30 mil adiantados e R$ 120 mil após a realização).
O argentino questiona o que aconteceria caso, mais uma vez, um terceiro não cumprisse a parte acordada. "Por isso só vamos pôr os jogadores 100% certos, jogadores seguros", responde o suposto aliciador.
— Estou falando. Se você não mandar os R$ 40 mil, eu não vou fazer nada. Eu também preciso que vocês sejam seguros — respondeu Lomónaco.
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O zagueiro foi titular contra a Portuguesa, no dia 21 de janeiro, mas não foi advertido com o cartão. A equipe perdeu o jogo por 3 a 0.
Lomónaco está afastado
O argentino Kevin Lomónaco está afastado do Red Bull Bragantino desde o dia 18 de abril, quando foi alvo da operação Penalidade Máxima, que investiga manipulações de resultados. O clube, à época, divulgou uma nota afirmando ter "tolerância zero com qualquer atitude que possa ferir a idoneidade do esporte" e que resolveria o caso internamente.
— O Red Bull Bragantino tomou conhecimento da operação envolvendo esquemas de manipulação em jogos da Série A do Brasileiro e de campeonatos estaduais, e da presença de um atleta do elenco entre os investigados.
O clube tem tolerância zero com qualquer atitude que possa ferir a idoneidade do esporte e vá contra os valores e dignidade de todos que aqui estão.
Nos colocamos à disposição das autoridades durante a investigação e trataremos internamente a situação legal envolvendo o atleta — diz o comunicado.
Bauermann não cumpriu dois acordos
Além do jogo contra o Avaí, em que deveria ter recebido cartão amarelo, Eduardo Bauermann descumpriu o acordo feito para a rodada seguinte, contra o Botafogo, em que deveria ser expulso. Ele recebeu cartão vermelho, mas já ao fim da partida, o que muitas casas de apostas não consideram.
O zagueiro está afastado dos Santos, mas ainda pode treinar separadamente no CT Rei Pelé. Ele chegou a usar a camisa do clube em uma chamada de vídeo com os apostados.