Estádio Mané Garrincha, em Brasília, recebeu torcedores em jogo do Flamengo na Libertadores (Foto: Adriano Machado/AFP)

Após 15 meses, os torcedores podem estar perto de se reencontrar com as arquibancadas. Nas últimas semanas, os clubes e a CBF têm discutido um planejamento para efetivar o retorno parcial dos fãs aos estádios, movimento que tem previsão para o segundo turno do Campeonato Brasileiro e para as quartas de finais da Copa do Brasil, no início do mês de setembro.




Mas como isso irá impactar na atual rotina dos clubes? Programas de sócio-torcedor, bilheteria, ativações em estádio e reaproximação com a torcida são os principais fatores que serão explorados pelas entidades após a concretização do retorno. Para cada equipe, porém, a volta tem um significado diferente.

O Cuiabá, por exemplo, disputa a Série A pela primeira vez em sua história, e o estado do Mato Grosso volta a ter um representante no Brasileirão depois de 35 anos. Para Cristiano Dresch, vice-presidente do clube, além da possibilidade de receber o incentivo da torcida, a bilheteria será um fator importante no orçamento financeiro do Dourado.

"Para o mato-grossense, não poder ir ao estádio neste momento é difícil, ficamos 35 anos sem ter um time do estado na Série A, era um sonho de todos. A programação da CBF é que tenha uma flexibilização a partir de setembro, se tivermos um cenário mais tranquilo em relação à pandemia. Ter o torcedor próximo é importante para nós, e a arrecadação de bilheteria agregaria de maneira significativa na nossa receita. A expectativa é de termos em um futuro breve a presença e o apoio da nossa torcida", declarou Cristiano.




A ausência de bilheteria, inclusive, afetou de forma significativa o orçamento dos times brasileiros. Para se ter ideia, no Brasileirão de 2019, último em que tivemos a presença de torcida, a receita bruta resultante da venda de ingressos dos clubes da Série A foi de aproximadamente R$270 milhões.

Com a segunda maior média de público do torneio naquele ano, o Fortaleza foi uma das principais equipes afetadas pela falta de bilheteria. De acordo com Marcelo Paz, presidente da agremiação, a volta do público aos estádios traz esperança não só para os torcedores, mas para toda a sociedade.

"A gente sempre teve no nosso DNA um contato muito próximo com a torcida, então esse momento com portões fechados foi um desafio enorme. A volta do público aos estádios traz esperança de dias melhores para toda a população, porque ela certamente será acompanhada de segurança sanitária. Assim que o retorno for concretizado, ao analisarmos as regras que serão impostas, nós iremos priorizar o acesso aos sócios-torcedores, que mesmo sem poder ir ao estádio permaneceram ao lado do clube durante esse período", assegurou o mandatário.




Com filosofia semelhante a do Leão, o Juventude também definiu que irá dar preferência aos sócios-torcedores no retorno da torcida ao estádio Alfredo Jaconi. Segundo Fábio Pizzamiglio, vice-presidente de marketing do clube, "o planejamento quanto ao retorno de público é que, enquanto for parcial, daremos acesso somente aos sócios. Caso tenhamos acesso superior a 50% da capacidade, liberaremos a venda de ingressos".

"Temos que reforçar nosso apoio ao sócio, principalmente pela ajuda que eles nos deram em todo o período de pandemia, se mantendo adimplentes e apoiando o clube em todos os momentos", completou Pizzamiglio.

Nas próximas semanas, a CBF deve emitir um documento sobre o retorno dos torcedores, e uma comissão irá definir os moldes do projeto para a retomada. A tendência é que a CBF busque, junto às equipes, um aval das autoridades estaduais para que as partidas sejam realizadas com público parcial.




De acordo com Victor Grunberg, vice-presidente de administração do Internacional, será necessário que haja um consenso entre os órgãos em relação aos protocolos sanitários.

"Com o avanço da vacinação e diminuição no número de internações a gente começa a planejar o retorno do público aos estádios, mas é preciso garantir que as coisas sejam feitas com segurança. Os clubes, órgãos governamentais e a CBF precisarão estar alinhados, com protocolos compartilhados e fiscalização rígida no cumprimento das medidas. É preciso minimizar os riscos envolvidos nesse processo para que o futebol seja um ambiente seguro", disse o dirigente.

Uma das imposições que podem ser feitas pela CBF aos torcedores é a apresentação de um comprovante de imunização para ter acesso às partidas. Pensando nisso, a empresa Mooh!Tech desenvolveu um sistema denominado "Chronus i-Passport", um passe livre digital que permite a qualquer torcedor imunizado ou testado negativo estar apto a participar da partida, minimizando os riscos de propagação da covid-19.




A Federação Pernambucana de Futebol (FPF), a FCF (Federação Cearense de Futebol) e clubes como Náutico, Fortaleza e Ceará anunciaram a adesão da nova tecnologia. Para o retorno do público aos estádios em Pernambuco e no Ceará, os torcedores precisarão validar seus i-Passport com teste RT/PCR de até 48 horas ou com o comprovante de vacinação.

E um fato curioso sobre a volta do público aos estádios é que o retorno parcial pode devolver ao futebol uma realidade muito parecida com a vivenciada antes das paralisações. No Brasileirão de 2019, a média de ocupação das arquibancadas foi de 47%. Sendo assim, a liberação de 50% da capacidade dos estádios representa, para a grande maioria dos clubes, receber uma quantidade média de torcedores parecida com a de temporadas anteriores à pandemia.