Guardiola celebra mais um título de Champions League: a terceira taça dele (Foto: IconSport)


 
É justo afirmar que no futebol atual todos ganham por causa do dinheiro, inclusive Pep Guardiola. Mas ele não está sozinho.




Dentre os campeões da Tríplice Coroa na Europa, talvez tenhamos que voltar a 1988, numa era pré-Lei Bosman, para encontrar um cenário em que cada país ainda conseguia segurar suas estrelas, salvo raras exceções.

Naquela ocasião, o PSV de Guus Hiddink papou a Copa da Europa (antiga Liga dos Campeões), o Campeonato Holandês e a Copa da Holanda com basicamente holandeses e nórdicos no elenco. E nenhum nome extremamente famoso – o craque Ruud Gullit havia sido vendido ao Milan no ano anterior, enquanto Romário ainda estava para chegar.

Acontece que o futebol mudou drasticamente desde então.
 
Dugout
 

E na mais recente das transformações, clubes foram adquiridos por fundos de investimentos de países na tentativa de limpar sua imagem perante o mundo. Aconteceu com o Manchester City, comprado pelos Emirados Árabes a partir de 2008. PSG e Newcastle também passaram pelo mesmo processo.




Sim, é verdade que o City está entre os clubes que mais investiram nesse período. Mas não é o único. E o sucesso que não pode ser medido apenas através da quantidade de Champions mostra que o dinheiro precisou ser meticulosamente bem aplicado.

O City construiu do zero o seu maravilhoso CT de treinamento, expandiu o estádio e entregou o futebol nas mãos de quem sabe: Ferran Soriano e Txiki Begiristain. Guardiola chegou anos depois para completar o pacote e só permaneceu tanto tempo (já são sete temporadas completas) porque confiava na direção.

Desde 2016, quando assumiu o City, Guardiola conquistou 5/7 Premier Leagues, 2/7 Copas da Inglaterra e 4/7 Copas da Liga. Além, é claro, da tão aguardada Liga dos Campeões há alguns dias. Sem eles o resultado não teria sido igual.



 
 
Dugout

E, sim, ele as ganhou porque tinha muito dinheiro por trás – é importante deixar isso bem claro para vocês não acharem que a ideia aqui é outra. Até porque o City infringiu mais de 115 regras de Fair Play Financeiro da Premier League e por muito pouco não foi banido de competições europeias pela Uefa há três anos. Não é uma história de mocinhos e esse é um importante asterisco.

O problema do debate é condicionar a grana como única e exclusiva premissa e ignorar que, também desde 2016, Manchester United (903 milhões de euros) e Chelsea (805 milhões) gastaram ainda mais na relação compra/venda de jogadores (o que os ingleses chamam de net spend).
 
 

O City é o terceiro da lista, com 666 milhões de euros negativos entre atletas comprados e negociados. Nesta temporada, inclusive, mais arrecadou do que gastou em transferências com as saídas de Sterling, Gabriel Jesus e Zinchenko.




Logo abaixo dele vem o Arsenal (643 milhões), que só voltou a se classificar para a Liga dos Campeões agora após cinco temporadas jogando a Liga Europa e precisou se contentar em disputar o título da Premier League.

Em quinto está o PSG (581 milhões), que tem a maior folha salarial do mundo há duas temporadas e sequer conseguiu passar das oitavas da Champions, enquanto conseguiu a proeza de perder o título francês duas vezes desde 2016/17 (para Monaco e Lille), mesmo com outro patamar de investimento.

Aliás, é difícil encontrar um exemplo tão perfeito quanto o PSG para derrubar a tese. Definitivamente não basta ter dinheiro e uma Torre Eiffel na cidade sem a governança adequada.



 

Guardiola levou o Manchester City ao primeiro título da Champions League (Foto: IconSport)

 

O sexto da lista é o Barcelona (453 milhões), que não conseguiu manter e, depois, recontratar o maior ídolo da sua história por problemas financeiros, enquanto ainda junta os cacos de anos pessimamente administrados.

E por aí vai... A lista é extensa, e todos, em muitos momentos, falharam com dinheiro em mãos. O City, menos.

Guardiola e sua equipe souberam enxergar talento e espaço para evolução de atletas que, no momento da contratação, não pertenciam a um grupo de elite. Podemos citar Stones, Gündogan, Ederson, Bernardo Silva, Grealish, Rodri, Rúben Dias, Aké, Akanji... Ou seja, mais de 80% do time que iniciou a final contra a Inter de Milão.

As exceções são De Bruyne, contratado um ano antes de Pep, e Haaland – esse, sim, um dos melhores de sua posição quando chegou.

Guardiola gastou, mas fez todos terem a sensação de, hoje, valerem mais. E, no meio desse caminho todo, com seu time empilhando 150 gols por temporada e colecionando atuações memoráveis, ainda faturou um bocado de taças.

Ele é muito mais do que dinheiro. Procurem outro argumento!