Um funcionário da Asociación de Fútbol Argentino (AFA), chamado Fernando Ariel Batista, foi o responsável por preencher e falsificar as Declarações de Saúde dos Viajantes (DSV) dos jogadores da Seleção Argentina que tinham passado pela Inglaterra nos últimos 14 dias e que não poderiam atuar contra o Brasil pelas Eliminatórias da Copa, no domingo (5/6), em São Paulo.
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Ainda que indiretamente, os jogadores que prestaram informação falsa no documento foram Emiliano Martínez, Emiliano Buendía, Cristian Romero e Giovani Lo Celso. Apenas Buendía não entrou em campo contra o Brasil.
O documento da Anvisa que informa o nome do funcionário da AFA e a falsificação foi divulgado pelo jornalista Octavio Guedes, em seu blog no portal G1.
Durante o desembarque no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de São Paulo, na última sexta-feira (3/6), Fernando Ariel Batista não informou no DSV dos atletas que eles estavam na Inglaterra antes do jogo contra a Venezuela pelas Eliminatórias da Copa.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os jogadores descumpriram a portaria nº 655, de 23 de junho de 2021, que estabelece as regras de entrada de estrangeiros no Brasil durante a pandemia de COVID-19.
O parágrafo sétimo da portaria federal determina que "o viajante que se enquadre no disposto no art. 3º, com origem ou histórico de passagem pelo Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, pela República da África do Sul e pela República da Índia nos últimos quatorze dias, ao ingressar no território brasileiro, deverá permanecer em quarentena por quatorze dias."
Os quatro jogadores argentinos atuaram em partidas do Campeonato Inglês entre os dias 28 e 29 de agosto. Martinez e Buendía jogam pelo Aston Villa, enquanto Lo Celso e Romero integram o elenco do Tottenham. Por isso, a entrada deles no país foi considerada ilegal, e a Anvisa notificou a Polícia Federal orientando medidas que impeçam a circulação dos argentinos.
Ao preencher a ficha do quarteto durante o desembarque no Brasil, Fernando Ariel Batista omitiu a passagem deles pela Inglaterra nas duas últimas semanas no campo "histórico de viagens" do DSV.
O documento da Anvisa obtido pelo jornalista do G1 traz as seguintes informações:
"Informamos ainda que todas as declarações foram preenchidas por uma única pessoa - Senhor Fernando Ariel Batista - Associação de Futebol Argentina - AFA".
No sábado, alertada pela Anvisa, a Coordenadoria de Controle de Doenças do Estado de São Paulo alertou a CBF que os quatro jogadores deveriam cumprir a quarentena ou deixar o Brasil. Logo, não poderiam estar em campo no domingo na Neo Química Arena para o jogo válido pela sexta rodada das Eliminatórias da Copa".
A CBF, por sua vez, comunicou a Confederação Sul-Americana de Futebol e a AFA.
"Às 10 horas do dia 4 de setembro (sábado), a equipe da vigilância epidemiológica e a Coordenadoria de Controle de Doenças do Estado de São Paulo reuniram-se com a equipe da CBF para informar o ocorrido e realizar a devida articulação com os responsáveis pela partida, a Conmebol.
O chefe de equipe da seleção argentina, assim como membros da Conmebol e CBF foram notificados sobre a ocorrência, tendo recebido a orientação de que os 4 jogares em questão deveriam permanecer nos seus referidos quartos, não podendo participar do treino na Arena Neo Química, previsto para as 18h30 de sábado", diz o documento.
No sábado, a vigilância em saúde do estado de São Paulo solicitou reunião para as 17h com CBF, Conmebol e AFA. Estavam presentes ainda autoridades, a equipe técnica do Ministério da Saúde, o Ministro da Saúde em exercício, além da equipe técnica da Vigilância Epidemiológica e Sanitária e a Coordenadora de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Na reunião, a Conmebol e a AFA foram orientadas a formalizar um pedido de excepcionalidade para que os quatro jogadores argentinos pudessem treinar no sábado e jogar no domingo. A Anvisa pediu urgência à entidade argentina para que a análise da documentação fosse viável antes da realização do jogo. O pedido teria que ser analisado pelo Ministério da Saúde e pela Casa Civil. Apesar de orientada, a AFA não tomou essa providência.
No domingo, mesmo ciente da determinação da Anvisa, a delegação argentina seguiu para o estádio com os quatro jogadores. Emiliano Martínez, Cristian Romero e Giovani Lo Celso começaram, inclusive, como titulares. O jogo foi interrompido aos quatro minutos, quando funcionários da Anvisa e policiais federais entraram no gramado da Neo Química Arena para exigir a deportação dos quatro atletas argentinos.
No hotel e no vestiário, a Anvisa já teria feito tentativas para impedir a participação do quarteto no jogo das Eliminatórias. Apesar disso, foi impedida por integrantes da delegação argentina.
O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, afirmou à TV Globo, no domingo, após a suspensão do jogo, que os jogadores da Seleção Argentina cometeram "uma série de descumprimentos" desde o desembarque no Brasil.
"Chegamos a esse ponto porque tudo aquilo que a Anvisa orientou desde o primeiro momento não foi cumprido. Por exemplo, quando a situação foi identificada, esses jogadores tiveram a orientação de permanecer isolados para aguardar a deportação. Esse isolamento poderia ser feito inclusive no hotel, onde eles deveriam estar. O que ocorre? Isso não foi cumprido, eles se deslocam ao estádio. E chegando ao estádio, eles entram em campo. Houve uma série de descumprimentos.
"Demos ciência à Polícia Federal logo de manhã a respeito de que essa situação se encontrava em andamento e seria necessário verificar o cumprimento do regulamento sanitário de manter em isolamento, já que o anterior - de falar a verdade na declaração de saúde do viajante - foi descumprido. Então nós acionamos a Polícia Federal, que se deslocou ao hotel acompanhada de agentes da Anvisa, e constatou que a equipe completa já tinha se deslocado para o estádio. Fomos para o estádio, o resto vocês transmitiram ao vivo", explicou Antônio Barra Torres.
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