Jorge Sampaoli chegou ao Flamengo há duas semanas e iniciou uma jornada que tanto almejava na carreira: comandar a equipe rubro-negra. Em 15 dias no clube, o treinador argentino mudou uma atmosfera cabisbaixa e de desconfiança interna para um ambiente focado na reconstrução. 

Conteúdo, intensidade e repetição. Três palavras que ajudam a definir esse começo de Sampaoli no Flamengo. Após a saída conturbada de Vitor Pereira e a sequência de derrotas que só expuseram a falta de sincronia do trabalho passado, o objetivo de Sampaoli era potencializar o talento dos jogadores e colocar o grupo para trabalhar. 

A dois dias do jogo contra o Ñublense, o treinador teve pouco tempo no campo, mas compensou com conteúdos em vídeos com informações detalhadas sobre os adversários, uma prática comum a de Sampaoli e que foi bem aproveitada pelos jogadores. Os relatos são de que o elenco estava sentindo falta de receber conteúdos táticos com explicações minuciosas, como o treinador e sua comissão passam. 

Assim que assinou contrato com o Flamengo, Sampaoli solicitou informações sobre cada área do departamento de futebol e também recebeu mapeamento sobre todos os jogadores da base. O treinador utiliza atletas das categorias inferiores em, praticamente, todos os treinos do profissional e deseja contar com os jovens que estão se destacando. 

No campo, Sampaoli chama atenção pela intensidade exigida e pelo apreço com a posse de bola. O argentino e sua comissão intensificaram a parte física e passaram a trabalhar em valências que Vitor Pereira não tinha. Sampaoli gosta de trabalhar com os jogadores aproveitando muito mais o espaço do gramado, campo aberto. Já com VP, o treino era trabalhado em campo reduzido. 

Diferentemente do português, Sampaoli não faz mistério com a escalação para os jogadores. O treinador argentino intensifica o trabalho com a equipe titular antes do jogo, priorizando sempre a repetição e posicionamento do elenco. Já Vitor Pereira treinava mais o sistema sem definir a equipe nos treinos.

Ligado nos 220V, Sampaoli busca recuperar o potencial do elenco que ele conhece há muito tempo. Em constante comunicação com todos os jogadores, é comum ver Sampaoli após o treino no campo com um atleta fazendo ajustes sobre a atividade. E os jogadores sentiram falta dessa cobrança. Muitos reclamavam que Vitor Pereira falava pouco. 

Um dos primeiros atletas que teve uma longa conversa com o argentino foi Gerson. Recém-chegado, o volante acumulava atuações ruins por uma confiança abalada e mudança no posicionamento. Atuando como primeiro volante e mais recuado, Gerson não conseguiu entregar bom futebol e foi muito cobrado pela torcida. 

Porém, Sampaoli, que trabalhou com o atleta no Olympique-FRA e considerava Gerson o melhor jogador do futebol brasileiro, injetou confiança e acertou o lugar do camisa 20 no campo. Mais avançado, Gerson marcou dois gols em quatro jogos de Sampaoli no comando. Um trabalho que se expande para fora das quatro linhas. 

Os primeiros 15 dias de Sampaoli empolgam não só a torcida, mas os jogadores. Internamente, o elenco tem gostado da metodologia de trabalho e confiam que o trabalho tem potencial para dar títulos que Sampaoli almeja conquistar à frente do Flamengo.

- O jogo é contundência, e vamos seguir trabalhando para isso. Organização, estrutura. É assim que eu trabalho - disse Sampaoli depois da derrota por 3 a 2 para o Botafogo no último domingo (30).