Plano de recuperação judicial dará mais fôlego para o Cruzeiro sanar suas dívidas (Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

O Cruzeiro conseguiu reduzir seus custos operacionais durante a temporada de 2022, que resultou no acesso da equipe à Série A do Campeonato Brasileiro. Apesar da boa notícia, a dívida do clube cresceu no período, impulsionada pela soma dos débitos da associação e da SAF. É importante ressaltar que a Raposa fez uma reestruturação dos débitos via recuperação judicial, o que interfere no resultado final.



Os dados são do Relatório Convocados, produzido pela Galapagos Capital juntamente com a Outfield. O economista Cesar Grafietti orientou o estudo.

O time celeste saiu de uma dívida total de R$ 723 milhões em 2021 para R$ 800 milhões em 2022. Apesar disso, a alavancagem de curto prazo do endividamento caiu. O de longo prazo subiu, é verdade, mas impulsionado pela recuperação judicial, o que estava dentro dos planos da diretoria do Cruzeiro. Foram consideradas as dívidas da SAF, adicionadas das dívidas da Associação que foram indicadas em notas explicativas que são de responsabilidade da SAF.

Para se ter ideia, os impostos/acordos — que são como foram nomeadas as dívidas da Associação que a SAF terá de liquidar — passaram dos R$ 312 milhões de 2021 para R$ 730 milhões em 2022. Por outro lado, as dívidas onerosas e líquidas caíram, respectivamente, de R$ 129 milhões e R$ 289 milhões para R$ 42 milhões e R$ 43 milhões.
 
 

Perfil das receitas


As receitas do Cruzeiro se mantiveram estáveis em 2022, com relação ao ano de 2021. A receita total corrigida foi de R$ 150 milhões, contra R$ 162 milhões do ano anterior. Os valores foram bem menores que os de 2019, último ano da equipe na Série A, que foram de R$ 352 milhões.




O estudo apontou ainda que a receita recorrente corrigida ficou em R$ 134 milhões, contra R$ 130 milhões de 2021 e R$ 221 milhões em 2019. As receitas do clube foram impulsionadas principalmente por publicidade e bilheteria/Sócio Torcedor. O primeiro ano com possibilidade de utilização total dos estádios após a pandemia e o bom desempenho da equipe teve impacto preponderante no resultado. Veja:

  • Direito de transmissão – R$ 47 milhões (2021) e R$ 29 milhões (2022)
  • Publicidade e marketing – R$ 40 milhões (2021) e R$ 43 milhões (2022)
  • Negociação de atletas – R$ 33 milhões (2021) e R$ 16 milhões (2022)
  • Sócio-torcedores e bilheteria – R$ 9,6 milhões (2021) e R$ 62 milhões (2022)

Por outro lado, percebe-se que o Cruzeiro lucrou bem menos com negociação de jogadores no ano de 2022 do que havia lucrado em 2021.

Perfil dos investimentos


No que diz respeito aos investimentos, o Cruzeiro aumentou os gastos com formação de elenco e estrutura. Assim como em 2021, não houve nenhuma movimentação em prol das categorias de base.




  • Formação de elenco – R$ 12 milhões (2021) e R$ 31 milhões (2022)
  • Categorias de Base – R$ 0 (2021) e R$ 0 (2022)
  • Estrutura – R$ 0 (2021) e R$ 5 milhões (2022)
  • Total – R$ 12 milhões (2021) e R$ 36 milhões (2022)
 

Geração de caixa negativa


Por mais que o Cruzeiro tenha reduzido custos, a geração de caixa foi negativa. Isso porque os gastos seguiram acima das receitas. Enquanto o clube teve receita total corrigida no caixa de R$ 120,6 milhões, a temporada custou R$ 130,9 milhões. Deste valor, R$ 84,3 milhões foram para gastos com pessoal e R$ 46,6 milhões para outros tipos.

A geração de caixa teve déficit de R$ 10,3 milhões e a geração de caixa recorrente foi deficitária em R$ 26,5 milhões.
 

O que funcionou e o que não funcionou


De acordo com o relatório, destacou-se positivamente na temporada 2022 o desempenho esportivo da equipe, com o retorno à Série A, e o controle de custos já citado. O Cruzeiro não precisou gastar além da conta para subir de divisão, mesmo já estando na terceira temporada consecutiva na Série B.




Por outro lado, o clube segue sofrendo com as altas dívidas, que estão em reestruturação via recuperação judicial e voltaram a crescer. As receitas do time também se mantiveram estáveis, visto que a Raposa jogou a Série B, não conseguiu chegar longe na Copa do Brasil e não participou de competições internacionais.
 
 
Dugout
 
 

O relatório indica, ainda, que as contas foram fechadas com aporte de capital (R$ 50 milhões) e novas dívidas (R$ 20 milhões).

O relatório foi concluído com ressalvas, dizendo que “alguns aspectos são positivos,como observar os aportes e ver que a SAF conseguiu se financiar no mercado. O ideal seria uma divulgação pro-forma, considerando todas as obrigações que a SAF terá com relação às dívidas da Associação.”

A avaliação final dada para o Cruzeiro foi D. O Flamengo, por exemplo, recebeu AA. As SAFs de Botafogo e Vasco da Gama receberam E, assim como o Atlético-MG.