Toca da Raposa II foi transferida para a SAF de Ronaldo (Foto: Luiz Henrique Campos/EM D.A Press)


O Cruzeiro informou ter “recebido” R$ 209 milhões pela venda das Tocas da Raposa I e II à Sociedade Anônima do Futebol. Na prática, a associação civil não recebeu nenhum valor, mas se viu livre de arcar com a dívida tributária e previdenciária, desde 2022 sob responsabilidade da gestão de Ronaldo, dono de 90% das ações do clube-empresa.




Ao celebrar acordo com a Fazenda Nacional, em outubro de 2020, a Raposa obteve desconto de 50% do passivo original, de quase R$ 420 milhões para cerca de R$ 210 milhões.

  • Débito fiscal: de R$ 370,3 milhões para R$ 183 milhões (145 parcelas até 2032);
  • Débito previdenciário: de R$ 49,4 milhões para R$ 27 milhões (60 parcelas;

Em 2022, a SAF liquidou sete prestações de cada natureza (R$ 7,8 milhões). Nos anos seguintes, continuará destinando recursos até zerar a conta. A estimativa é de R$ 260 milhões em longo prazo, levando em conta juros e correção monetária.

Ronaldo condiciou a inclusão das Tocas para evitar penhoras dos patrimônios e garantir os locais de treinamento ao time principal e à base do Cruzeiro. O empresário ainda afirmou que não pretende alienar os imóveis. Se o fizer, será com anuência da associação civil.



Dívida do Cruzeiro


Os R$ 209 milhões dos centros de treinamento estão inseridos em “contas a receber”. No campo “receitas a apropriar”, o número é de R$ 40 milhões.

Somados os dois valores, são R$ 249 milhões de “crédito” para redução do endividamento de R$ 1,045 bilhão. Isso faria o passivo líquido ficar abaixo de R$ 800 milhões.

Circulante - R$ 346,7 milhões


  • Fornecedores - R$ 13,8 milhões
  • Empréstimos e financiamentos - R$ 23,5 milhões
  • Obrigações trabalhistas e sociais - R$ 103,1 milhões
  • Obrigações fiscais correntes - R$ 8,4 milhões
  • Obrigações fiscais e sociais parceladas - R$ 39,2 milhões
  • Contas a pagar - R$ 157,8 milhões
  • Outras contas a pagar - R$ 973 mil

Não circulante - R$ 657 milhões


  • Empréstimos e financiamentos - R$ 94 milhões
  • Obrigações fiscais e sociais parceladas - R$ 184 milhões
  • Contas a pagar - R$ 115,4 milhões
  • Partes relacionadas - R$ 33,5 milhões
  • Provisão para contingência - R$ 230,1 milhões

Recuperação judicial


Em seu plano de Recuperação Judicial, o Cruzeiro estipulou um passivo de R$ 512 milhões com 709 credores. São quatro classes: 1) trabalhistas; 2) direitos reais e garantia; 3) quirografários; 4) microempresa e empresa de pequeno porte.




  • Classe 1 - trabalhistas
  • R$ 216,2 milhões (505 credores)

  • Classe 2 - direitos reais e garantia
  • R$ 43,1 milhões (1 credor)

  • Classe 3 - quirografários (sem preferência)
  • R$ 220,3 milhões (106 credores)

  • Classe 4 - microempresa e empresa de pequeno porte
  • R$ 32,4 milhões (97 credores)

Em ofício enviado à Justiça de Minas Gerais, o Cruzeiro projetou verba de R$ 90 milhões da gestão de Ronaldo em 2023 para amortização de dívidas. Em 2024, o aporte seria de R$ 29,4 milhões. No ano seguinte, de R$ 58,4 milhões. Até 2033, as quantias chegariam a R$ 394 milhões. Em 18 anos (2041), alcançariam R$ 682 milhões.

Cruzeiro – evolução da dívida de 2017 a 2022


  • 2022: R$ 1,045 bilhão*
  • 2021: R$ 970 milhões
  • 2020: R$ 898 milhões
  • 2019: R$ 804 milhões
  • 2018: R$ 533 milhões
  • 2017: R$ 371 milhões

*A SAF arcará com a dívida tributária da associação civil, estimada em R$ 210 milhões. Portanto, o passivo do Cruzeiro cairia para R$ 836 milhões (sem considerar os R$ 40 milhões de receitas a apropriar).

Receitas do Cruzeiro


Apesar de a operação do futebol ter sido cedida a Ronaldo, o Cruzeiro embolsou valores referentes à atividade desportiva. O clube inseriu no balanço receitas de publicidade e transmissões, bilheterias e sócio-torcedor, bem como ganhos de seu quadro social. A soma foi de R$ 38,6 milhões.




  • Publicidade e transmissões – R$ 14,4 milhões
  • Patrocínios e royalties – R$ 1,75 milhão
  • Sócio-torcedor – R$ 8,75 milhões
  • Sociais e esportes amadores – R$ 4,3 milhões
  • Associados/escolinhas – R$ 6,21 milhões
  • Patrocínios e royalties (clube social) – R$ 2,46 milhões
  • Outras receitas – R$ 802 mil

SAF de Ronaldo


Ronaldo se tornou sócio do Cruzeiro em abril de 2022, quando adquiriu 90% das ações por R$ 400 milhões. Ele aportou R$ 50 milhões de entrada e se comprometeu a investir os R$ 350 milhões restantes com recursos próprios e/ou receitas incrementais, considerando a média de arrecadação do clube de 2017 a 2021.

Receitas do Cruzeiro com futebol de 2017 a 2021


  • 2021: R$ 115.729.000,00
  • 2020: R$ 116.123.000,00
  • 2019: R$ 267.554.320,00
  • 2018: R$ 318.857.150,00
  • 2017: R$ 283.382.276,45
  • Média: R$ 220.329.149,00

Conforme a negociação, se a administração de Ronaldo elevar os ganhos do Cruzeiro para R$ 300 milhões, será como acrescentar R$ 80 milhões além da média de R$ 220 milhões.

Para 2023, a previsão é de R$ 212 milhões. Em 2032, o clube estipula uma receita de R$ 430 milhões. Os números foram revelados pelo diretor financeiro Raphael Vianna à revista Forbes, em outubro de 2022.

Por lei, a Sociedade Anônima do Futebol precisa destinar 20% de sua receita bruta anual à associação civil para o abatimento das dívidas do Cruzeiro.