Rodriguinho atuou pelo Cruzeiro de 2019 até o início de 2020 (Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


O Cruzeiro alegou nesta sexta-feira (24/2) que a dívida com o Pyramids, do Egito, pela contratação do meia Rodriguinho é de responsabilidade da associação civil, e não da Sociedade Anônima do Futebol - que tem o ex-jogador Ronaldo Fenômeno como acionista majoritário. O prazo para pagamento do débito estimado em US$ 6 milhões (R$ 31 milhões) venceu nessa quinta-feira (23), gerando o risco de punição esportiva na Fifa, como a impossibilidade de registrar contratações no Boletim Informativo Diário da CBF.



De acordo com a diretoria da SAF celeste, o plano de recuperação judicial prevê "suporte financeiro total à associação" na ordem de R$ 491 milhões em 12 anos. "Valor e prazo ainda podem ser alterados com base nas tratativas e negociações em curso com os credores", explicou a gestão de Ronaldo, por meio de nota oficial.

Leia a nota do Cruzeiro


O Cruzeiro EC-SAF esclarece que a dívida junto ao Pyramids, clube do Egito, relativa à compra do jogador Rodriguinho, é de responsabilidade exclusiva do Cruzeiro EC (Associação), sendo que a participação da SAF em eventuais negociações com o clube credor se dá nos estritos termos do suporte financeiro previsto no Acordo de Investimento da SAF, firmado entre a Associação e o Investidor. 

Com base no Plano de Recuperação Judicial, a SAF estima que o suporte financeiro total à Associação envolverá cerca de R$ 491 milhões, em 12 anos. Valor e prazo ainda podem ser alterados com base nas tratativas e negociações em curso do Cruzeiro EC e seus respectivos credores.




Ressalta-se que a aprovação das condições de pagamento seguirá as previsões legais da Lei 11.101/05 em Assembleia Geral de Credores, em data a ser definida.

Ronaldo tentou resolver imbróglio


Ronaldo já havia tentado resolver o "caso Rodriguinho" em encontro com Salem Saeed Al Shamsi, presidente do Pyramids. O investidor do Cruzeiro revelou detalhes das conversas ao jornalista Jaeci Carvalho, colunista do Estado de Minas e do Superesportes, durante a Copa do Mundo do Catar.

"A gente tem uma dívida com o Pyramids, do Egito, de US$ 6 milhões que a gestão, não sei qual foi que fez, não pagou. Compraram o Rodriguinho e não pagaram, deixaram essa herança aí para mim. A gente está negociando com ele (presidente do Pyramids) para não chegar um transfer ban", disse o ex-centroavante, em 29 de novembro de 2022.



Contratação de Rodriguinho


Rodriguinho foi contratado pelo Cruzeiro em janeiro de 2019 num negócio estimado em US$ 7 milhões - R$ 26 milhões na época - diluídos em três anos. A gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá pagou apenas uma espécie de entrada, de R$ 3,85 milhões, no dia 25 daquele mês.

As demais parcelas deveriam ter sido quitadas em novembro de 2019 (US$ 500 mil), fevereiro de 2020 (US$ 500 mil), maio de 2020 (US$ 1 milhão), agosto de 2020 (US$ 500 mil), novembro de 2020 (US$ 500 mil) e a última em janeiro de 2022 (US$ 3 milhões), quando o contrato de Rodriguinho já teria se encerrado.

À época, o Superesportes obteve acesso a documentos que apontavam que o Cruzeiro se comprometeu a desembolsar, ao longo de 36 meses de contrato, uma fortuna de R$ 53 milhões. 

O valor total incluía aquisição de direitos econômicos (R$ 26,3 milhões), remuneração do jogador ao longo dos 36 meses (R$ 14 milhões), direito de imagem (R$ 9,3 milhões) e comissões de intermediários (R$ 3,4 milhões).



 
O montante poderia ser ainda maior se o Cruzeiro conquistasse, em 2019, 2020 ou 2021, o Campeonato Brasileiro, a Libertadores ou o Mundial de Clubes - ou mesmo se Rodriguinho atuasse em 70% dos jogos nessas competições. O contrato previa bônus de mais R$ 650 mil caso o meia alcançasse alguma dessas 'metas'.

Rodriguinho, entretanto, jogou pouco pela Raposa, uma vez que lidou com uma lesão crônica na região lombar no segundo semestre de 2019. Em 22 partidas, marcou oito gols e deu duas assistências. Em 2020 e 2021, o meia defendeu o Bahia. Desde 2022, ele atua pelo Cuiabá.

Reclamação do Pyramids


Em 24 de abril de 2020, o Pyramids acionou a Fifa exigindo 3 milhões de dólares do Cruzeiro referente às parcelas dois, três quatro, cinco e seis. O clube ainda solicitou a aplicação de 10% de multa por cada atraso e 6% ao ano de juros de mora.



Em 8 de dezembro do mesmo ano, a entidade máxima do futebol aceitou os pedidos do clube egípcio e incluiu a solicitação de multa de 300 mil dólares. 

Um mês depois, o ex-time de Rodriguinho notificou o Cruzeiro quanto à última parcela da venda, junto do pagamento de 300 mil dólares. Foi concedido um prazo de dez dias para a quitação, o que não foi cumprido. Segundo a ação, o Pyramids avisou à Fifa sobre a inadimplência em 31 de janeiro de 2021.