Revelado como jogador pelo Cruzeiro em 1993, Ronaldo Fenômeno deixou sua marca no clube também em 2022, agora, como gestor (Foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)


Costumam dizer que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas Ronaldo apareceu como um 'Fenômeno' em duas oportunidades no Cruzeiro. Brilhante como atleta, nos anos 1990, o ex-camisa 9 voltou ao clube que o revelou para o mundo e, em dezembro de 2021, anunciou a aquisição de 90% das ações da SAF. 



A partir dali, uma nova era começava na Toca da Raposa. Com salários em dia, mudanças certeiras no departamento de futebol e comissão técnica renovada, o time celeste conseguiu prosperar nesta temporada e alcançar o seu grande objetivo: voltar à Série A após três anos.

Um dia antes do seu aniversário de 46 anos, celebrado nesta quinta-feira (21/9), Ronaldo pôde comemorar junto com os cruzeirenses o acesso. O empresário foi um dos quase 60 mil torcedores presentes no Mineirão na vitória por 3 a 0 sobre o Vasco, que garantiu o retorno do Cruzeiro à elite do futebol brasileiro.

O passo a passo de Ronaldo até a oficialização da compra


O acordo entre Ronaldo e Cruzeiro veio a público em 18 de dezembro, quando o bicampeão mundial realizou uma transmissão virtual ao lado do presidente Sérgio Santos Rodrigues e do head da XP Investimentos, Pedro Mesquita.




A negociação ocorreu de forma sigilosa e sem alarde na mídia, intermediada pela corretora financeira. No momento do anúncio, o Fenômeno prometeu investir R$ 400 milhões no clube ao longo dos próximos cinco anos. 

Apesar do acordo, a compra só foi oficializada em abril deste ano, após o Conselho Deliberativo atender a algumas demandas de Ronaldo.
 

Primeira grande mudança de Fenômeno no Cruzeiro


Ronaldo iniciou sua gestão com mudanças radicais no departamento de futebol. Além de nomear novos executivos, o Fenômeno dispensou o técnico Vanderlei Luxemburgo e toda sua comissão, que, mesmo com aproveitamento mediano em 2021, contavam com a aprovação de boa parte da torcida.

O sucessor de Luxemburgo foi o até então desconhecido Paulo Pezzolano, uruguaio indicado pelo diretor esportivo Paulo André, com quem havia atuado no Athletico-PR nos anos 2000. Antes de chegar ao Cruzeiro, o treinador acumulava passagens pelo Pachuca, do México, e por clubes modestos do seu país natal. 




Pezzolano caiu no gosto do torcedor rapidamente. Com uma campanha avassaladora na Série B, o novo comandante precisou de apenas 31 rodadas para marcar seu nome na história e levar o clube de volta à elite do Campeonato Brasileiro.


Saída de Fábio, redução orçamentária e salários em dia 


As grandes dívidas contraídas pelo Cruzeiro atrapalharam e muito o seu rendimento nos últimos anos. A falta de dinheiro para quitar débitos de toda ordem gerou problemas dentro e fora de campo: insatisfação de atletas, transfer ban, ações na Justiça e até perda de pontos na Série B.

Uma das primeiras iniciativas de Ronaldo foi promover uma redução drástica no orçamento para 2022, que era de R$90 milhões antes da venda da SAF. A canetada do sócio majoritário baixou a previsão de gastos para R$35 milhões.




Para adequar os salários à nova realidade do Cruzeiro, a gestão da SAF fez cortes no elenco. Jogadores anunciados como reforços para esta temporada, como o goleiro Jailson e o lateral Pará, foram dispensados. O zagueiro Maicon deixou a Toca poucas semanas após ser contratado, mesmo sendo pela-chave de Pezzolano no começo do ano. 

Mas o grande baque foi a decisão de Ronaldo e seu estafe de interromper a história do goleiro Fábio no Cruzeiro. Sem acordo pela renovação contratual, o ídolo deixou o clube após 17 anos e magoado com os novos dirigentes. A decisão gerou comoção nos torcedores, que protestaram por sua permanência.

Apesar de controversa, a saída do goleiro se mostrou coerente do ponto de vista econômico. Sem grandes medalhões, o Cruzeiro passou a pagar os salários em dia e montou um elenco competitivo mesmo sem grandes investimentos na Série B.




Contratações dentro da nova realidade financeira


Além do novo treinador, outras movimentações acertadas do departamento de futebol de Ronaldo foram as contratações de jovens jogadores por empréstimo, como o zagueiro Lucas Oliveira, o lateral Matheus Bidu, o volante Neto Moura e o atacante Jajá. 

A redução orçamentária limitou o alcance do Cruzeiro, mas fez o clube explorar mercados e possibilidades que se encaixassem dentro de sua nova realidade econômica. Agora, a diretoria busca formas de manter esta base de atletas para a próxima temporada. 

Desse quarteto, os primeiros a renovar foram Lucas Oliveira, comprado ao Atlético-GO por R$ 4 milhões, e Neto Moura, que pertencia ao Mirassol e custou R$1,5 milhão. 




Outro destaque da campanha na Série B que seguirá na Toca será o goleiro Rafael Cabral. Seu contrato será renovado de forma automática até 2025.
 

Ronaldo gera lucros para o Cruzeiro apenas com sua imagem


Símbolo desta nova era do Cruzeiro, o Fenômeno atrai holofotes e engaja torcedores e investidores apenas com sua presença no clube. A maior prova foi o crescimento do número de sócios de 10 mil para quase 70 mil de janeiro a setembro.

Em 2023, o Cruzeiro ainda terá a chance de se associar a um novo consórcio para gerir o Mineirão caso o governo de Minas cumpra o desejo de romper o contrato com a operadora Minas Arena. Seria essa a próxima jogada fenomenal de Ronaldo?