O volante Henrique diz que tem gratidão pelo Cruzeiro e pelos torcedores celestes e revelou que não guarda mágoas de críticas que sofreu quando trocou Belo Horizonte pelo Rio de Janeiro, para defender o Fluminense. Em entrevista publicada pelo site "The Players Tribune", o jogador de 37 anos ainda comentou o acidente de carro que sofreu em 2020 e o rebaixamento da Raposa em 2019.
"Desde que saí do Cruzeiro, eu tenho escutado tanta coisa... 'Ah, o Henrique é mercenário'. 'O Henrique não tem gratidão'. 'O Henrique está acabado'. 'O Henrique é um traidor'. Antes que você me pergunte se eu não fico magoado com esses comentários, preciso deixar algo bem claro: eu sou muito grato ao clube e, principalmente, aos torcedores cruzeirenses. Sem o carinho, sem o apoio deles, nossa relação não teria dado certo por tanto tempo", disse.
"E é pelo respeito que tenho por cada torcedor que eu digo que não, eu não fico magoado com o que algumas pessoas dizem ou escrevem sobre mim. Que não compreendem as atitudes que eu tive de tomar. O ser humano é assim. Geralmente se apega a uma coisa ruim e se esquece de todas as outras coisas boas que alguém já fez na hora de julgar. Sei que nem toda a torcida do Cruzeiro pensa dessa forma, porque muitos ainda se lembram - e fazem questão de demonstrar isso - dos grandes momentos que vivemos juntos", acrescentou.
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Ao todo, Henrique disputou 524 jogos com a camisa do Cruzeiro (505 oficiais). Ele conquistou 10 títulos: dois Campeonatos Brasileiros (2013 e 2014), duas Copas do Brasil (2017 e 2018) e seis Campeonatos Mineiros (2008, 2009, 2011, 2014, 2018 e 2019). O volante, que chegou ao clube em 2008, não tem contrato com a SAF do Cruzeiro. Hoje, ele se recupera de uma lesão no joelho.
Henrique disse que soube que o Cruzeiro mudaria sua vida quando chorou após perder a Copa Libertadores de 2009 para o Estudiantes-ARG. "Só que ali, em 2009, naquela Libertadores, eu entendi duas coisas. Primeira: por futebol se chora, porque o sentimento da arquibancada é o mesmo de quem está em campo. Somos profissionais, mas também somos humanos. Também sentimos. Segunda: aquele choro me mostrava que o Cruzeiro tinha chegado pra mudar a minha vida", disse.
Quando foi para o Santos, em 2011, Henrique jogou ao lado de Neymar, Ganso, Elano e realizou um sonho de infância, já que era torcedor do time praiano. Contudo, ele disse que sentia falta do Cruzeiro.
"Veja como as coisas são. Eu torcia para o Santos quando era criança. Jogar lá era um sonho, ainda mais ao lado de Neymar, Paulo Henrique Ganso, Elano... Ganhei a Recopa e o Paulista, títulos importantes. Só que não tinha jeito. Eu sentia como se tivesse deixado uma parte de mim em Belo Horizonte", afirmou.
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"Quer dizer, jogar no Santos foi uma coisa ótima para a minha carreira, eu estava realizado, mas voltar... Foi o que Deus reservou para mim. Por mais que eu relutasse, Ele me colocou no futebol, depois me levou até o Cruzeiro mais uma vez", acrescentou.
Títulos
Henrique disse que o elenco de 2013 e 2014 estava muito comprometido. "Ninguém parava aquele time. O que tínhamos de diferente era a qualidade do elenco como um todo. Era até difícil de apontar quem era reserva e quem era titular. Quando um saía, entrava outro no mesmo nível. Além da qualidade do grupo, todos estavam muito comprometidos. Deu no que deu. Bicampeões brasileiros".
No bicampeonato da Copa do Brasil, Henrique já era o capitão do Cruzeiro. "Era trabalho em dobro ser capitão, uma responsabilidade grande, mas eu me orgulho, sabe? Depois daquilo, fomos campeões da Copa do Brasil em 2017 e 2018. Pouca gente pode dizer que ganhou duas Copas do Brasil como capitão. De forma consecutiva, então, eu devo ser o único", afirmou.
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Rebaixamento do Cruzeiro
No ano do rebaixamento, em 2019, Henrique disse que o time não estava tão comprometido e faltou gestão para Wagner Pires de Sá, Itair Machado e Sérgio Nonato, que são réus por supostamente terem cometido crimes contra o Cruzeiro.
"Só que tudo tem um lado bom e um lado ruim. Em 2019, a crise bateu forte. Como capitão, você fica exposto nesses momentos. Salário atrasado há dois meses, quem ia conversar com o elenco? Eu. Cobrar da diretoria? Eu. Dar satisfação pra torcida? Eu. Falar com a imprensa? Eu. Tudo certo, é do jogo, mas algumas situações começam a fugir muito do seu controle. No final, capitão é só um cargo simbólico, ele não tem a caneta pra decidir nada", disse.
"Em mais de 10 anos, eu nunca tinha tido salário atrasado, por exemplo. O Cruzeiro era um clube bem estruturado, mas, de repente, estava muito fragilizado e sem forças para reagir", acrescentou.
Dentro de campo, Henrique relembrou um jogo contra o Grêmio no ano do rebaixamento.
"Dentro de campo, nunca vi tanta falta de compromisso por parte de alguns atletas. Lembro do dia em que perdemos de 4 a 1 para o Grêmio, em pleno Independência. No fim do jogo, eu estava morrendo de raiva por dentro, mas tinha jogador do nosso time dando risada com os adversários, num clima tranquilo, como se a gente tivesse vencido a partida. Aquilo foi muito decepcionante. Trocar camisa, cumprimentar um ex-companheiro que está do outro lado? Beleza, isso é normal. Mas levar de 4 a 1 em casa e os caras saírem dando risada? Aí eu não podia aceitar", disse.
"Confesso que perdi a calma em várias ocasiões. Sei que o capitão do time precisa ser político, fechar os olhos para algumas coisas. Porém, eu estava no meu limite. Fui pro embate, confrontava outros jogadores, e acabei absorvendo para mim toda a carga negativa dos maus resultados. Foi um ano tão desgastante que dessa vez, no jogo do rebaixamento, nem consegui esperar chegar no vestiário. Comecei a chorar em campo mesmo, de tanta tristeza e revolta. A torcida do Cruzeiro não merecia isso", destacou.
Acidente de carro
Em junho de 2020, o volante sofreu acidente de carro, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O veículo do meio-campista despencou de um penhasco na altura do Mirante Jatobá, na estrada para o distrito de Casa Branca.
"Aí veio aquela noite. Até hoje eu não consigo lembrar do que aconteceu. Eu tava no carro sozinho, numa estrada que passa pela Serra do Rola Moça. Do nada, eu apaguei. Quando retomei a consciência, estava preso dentro do carro tombado", disse.
"Meu carro simplesmente despencou a 200 metros de altura, capotou morro abaixo. Os bombeiros me tiraram pelo teto solar. Inacreditável. Deus agiu de novo, e eu sobrevivi a uma queda brusca praticamente intacto, sem machucado algum, sem lesão cerebral, nada", acrescentou.
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