Montillo recebeu de Gilvan de Pinho Tavares uma homenagem por ser um dos maiores artilheiros estrangeiros da história do Cruzeiro (Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


O ex-meia Walter Montillo marcou época no Cruzeiro entre os anos de 2010 e 2012. Principal destaque ofensivo desde que chegou ao clube comprado junto à Universidad de Chile, o ex-camisa 10 se tornou ídolo da torcida, mas teve uma saída conturbada para o Santos no início de 2013.





À época, o presidente Gilvan de Pinho Tavares se mostrava contrário à venda, mas acabou aceitando oferta do Santos de 10 milhões de euros, dos quais o Cruzeiro ficou com 60%. A parte restante pertencia a dois investidores.

Gilvan alegou na ocasião que Montillo e seu empresário, Sérgio Irigiotia, pressionaram nos bastidores de todas as formas para o Cruzeiro fechar a venda, mesmo a contragosto. Mesmo com pendências salariais no elenco, era desejo do então presidente segurar o argentino na Toca da Raposa II.

Mas o martelo foi batido em 3 de janeiro de 2013, sem que Montillo ao menos se despedisse da torcida. Na negociação, o Cruzeiro ainda recebeu de volta o volante Henrique, que pertencia ao Santos e passara pela Toca entre 2008 e 2011.



Em entrevista exclusiva ao Superesportes para o quadro Por onde anda?, o meia argentino, hoje empresário e com 37 anos, detalhou sua relação tumultuada com o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares.
 

De acordo com o ex-atleta, o dirigente "inventou histórias" para colocá-lo contra a torcida cruzeirense. No período, Montillo recebeu muitas críticas da torcida e passou a ser chamado de 'mercenário'.

"Ele começou a mentir, começou a falar que a minha esposa já tinha ido para Santos para ver a escola do meu filho. E tudo isso para colocar o torcedor do lado dele. (...) No começo foi difícil, porque teve muito torcedor que comprou essas palavras que ele falou na imprensa. Mas acho que com o decorrer do tempo, das coisas que ele continuou fazendo dentro do clube, o torcedor começou a virar um pouquinho mais. Não precisei sair falando nada. As mentiras foram caindo aos poucos", disse o ex-meia.



Montillo lembra que, naquele começo de 2013, o Cruzeiro precisava muito de uma negociação vultosa para quitar salários e direitos de imagem atrasados com todo o elenco. O convite do Santos, que tinha Neymar como astro, uniu o útil ao agradável. O Peixe vinha das conquistas da Copa do Brasil de 2010, da Copa Libertadores de 2011 e do Campeonato Paulista de 2012.

"Nessa época, o Cruzeiro já começava com problemas financeiros. O salário estava atrasado, neste momento, há três meses. Então, eu sabia que o Cruzeiro precisava de dinheiro para poder investir novamente em um time. (...) Falando com o Fábio, com os caras aí, era uma oportunidade boa para mim, eu não vou negar. Tinha a possibilidade de jogar ao lado do Neymar, desse Santos que tinha ganhado a Libertadores e tudo mais. E também, eu poderia ajudar os meus companheiros que estavam com salário atrasado. Acho que foi um pouquinho de tudo", contou Montillo.
 

Propostas

 

Sendo eleito o melhor meia do Campeonato Brasileiro em 2010 e 2011, Montillo despertou o interesse de clubes do futebol nacional. Entre os times que sondaram a contratação do meia estavam Corinthians e São Paulo.




O Timão, inclusive, apresentou uma proposta formal ao Cruzeiro no fim de 2011. Após não obter uma resposta por parte do Cruzeiro, a equipe paulista encerrou a negociação.

Montillo lembra que sua venda ao Corinthians, por 10 milhões de dólares, esteve perto de ser concluída pelo então presidente Zezé Perrella. Mas Gilvan, ao assumir o comando do clube na sequência, descartou logo a transação.

"Chegou uma proposta para mim. O Zezé tinha falado que iria dar certo, porque o Cruzeiro precisava de dinheiro também. Mas aí teve a troca do presidente. Ele (Gilvan) falou que eu não iria sair, porque tinha contrato. Aí, eu fiquei quieto, fiquei tranquilo. Mas foi no ano seguinte que deu a briga com ele", contou Montillo.




"Era uma boa proposta para o clube, e para mim também. O Corinthians estava se arrumando e foi o time que saiu campeão da Libertadores, campeão Mundial em 2012. Então, estava tentando arrumar um time bom para brigar. Eu tinha uma idade que, nesses valores, era difícil vender mais pra frente. Eu estava com 28, 29 anos. Passar um outro clube brasileiro nos valores que estavam falando, de 10 milhões de dólares, não era fácil", completou o ex-jogador.
 

Relação com a torcida


Ao sair do Cruzeiro rumo ao Santos, Montillo deixou magoada parte da torcida cruzeirense, que sentiu falta de uma despedida do jogador. Passados nove anos, o argentino vê aquela reação como natural, mas sabe do carinho que tem dos cruzeirenses até hoje graças à trajetória com bons números pela Toca.

"Eu acho que faz parte também do folclore do futebol. Tem torcedor que gosta de mim, mas tem torcedor que fica bravo. Eu sempre falei: nunca jogaria em um time que seria o rival do outro. Por exemplo, eu vi jogadores saírem do Cruzeiro e irem para o Atlético, e eu acho que as vaias não foram iguais às minhas", disse.




Apesar das críticas, Montillo sabe que foi um dos grandes camisas 10 da história do Cruzeiro e preserva muito carinho pelo clube e pela torcida. Ele chegou a afirmar que logo espera vir a Belo Horizonte para acompanhar um jogo no Mineirão.

"Nunca faltou respeito ao torcedor. Então, eu posso ir ao estádio assistir ao jogo. Talvez vai ter algum que não goste de mim, como jogador, como pessoa, mas eu posso olhar nos olhos de todo mundo, porque nunca falei nada errado do clube, nada errado de ninguém. Então, eu quero ir assistir a um jogo lá no Mineirão", contou.
 
Devido às reformas feitas no Mineirão para a Copa do Mundo de 2014, Montillo não teve a oportunidade de atuar pelo Cruzeiro no Gigante da Pampulha. À época, o clube mandou jogos na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, e outras cidades do interior de Minas.



Posição de Gilvan


Em contato com a reportagem após a publicação da matéria, o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares relatou sua versão dos fatos sobre Montillo. Ele disse que tem uma grande admiração pelo ex-jogador, mas que sempre priorizou os interesses do Cruzeiro.

"Eu sempre fui um admirador do Montillo, sempre o elogiei dentro de campo, porque ele foi um atleta fantástico, dedicou-se muito e ajudou demais o Cruzeiro naquele período conturbado entre 2011 e 2012. Ele se entregava demais e era o melhor jogador do Cruzeiro. Não poderia vendê-lo antes, porque estava interessado em preservar os interesses do Cruzeiro", disse.

Mesmo com salários atrasados no clube, Gilvan entendia que era necessário permanecer com Montillo até conseguir uma proposta mais vantajosa. "Na entrevista, Montillo admite que estava doido para ir para o Corinthians, que estava montando um time fantástico, que foi campeão, inclusive. Na realidade, eu não poderia vendê-lo, porque ele era o melhor jogador e o valor era abaixo do preço de mercado, porque o Cruzeiro só tinha 60% dos direitos. O Corinthians ofereceu 10 milhões de dólares, mas a gente ficou com ele, que foi importante em campo no ano que a gente escapou do rebaixamento, foi valorizado e vendido por 10 milhões de euros para o Santos", disse Gilvan.




O ex-presidente relembra de Montillo insatisfeito na Toca da Raposa II. "Um dia, na Toca II, ele quase me desrespeitou. Eu estava explicando as dificuldades do Cruzeiro para os jogadores, e ele estava reclamando que poderia ter sido vendido e que resolveria o problema financeiro. Eu queria que ele ficasse por mais tempo, porque a gente ia precisar. Houve esse atrito, mas eu não queria prejudicá-lo, eu só queria olhar o lado do Cruzeiro, que era mais importante naquele momento".