As conversas para a retomada da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta pela Assembleia Legislativa para investigar a Minas Arena, responsável pela administração do Mineirão, ganharam corpo por causa de um mal-estar envolvendo o Cruzeiro. A concessionária não autorizou que o clube comercializasse os 62 mil assentos do estádio. Razões operacionais fizeram a carga máxima de ingressos para o duelo contra o Brusque (SC), pela 35° rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, ser de 35 mil. O confronto ocorre nesta terça-feira (9/11).
Em meio ao imbróglio, que gerou a insatisfação da diretoria celeste e de torcedores, há quem defenda, no Legislativo mineiro, o "desengavetamento" da CPI, autorizada a funcionar ainda em 2019. Um dos defensores da ideia é o deputado estadual Professor Cleiton, do PSB. Ele tenta convencer outros parlamentares cruzeirenses a apoiar a empreitada.
"A desculpa para não liberar a carga total de ingressos para o Cruzeiro por não ter condições de conseguir segurança não cola. Isso acende na Assembleia a necessidade de resgatarmos a CPI da Minas Arena, para identificarmos a quem essas atitudes interessam", diz Cleiton.
Há dois anos, os deputados coletaram as assinaturas necessárias para abrir a CPI sobre a empresa. Apesar disso, o comitê de inquérito sequer chegou a funcionar - para isso, é preciso que haja sessão inaugural, para instalar o grupo e escolher presidente, vice-presidente e relator. É a partir deste ponto que, se houver sucesso nas articulações, será necessário retomar as atividades.
Quando o comitê foi aberto, a justificativa era apurar as circunstâncias da entrega do Mineirão à iniciativa privada. A concessão ocorreu em meio à reforma feita no estádio por causa da Copa do Mundo de 2014.
Léo Portela (PL), ex-integrante da atual direção do Cruzeiro, foi o primeiro a assinar o pedido para a criação da CPI. O deputado chegou a sugerir que o impasse em torno dos bilhetes para o duelo contra os catarinenses pode fazer a Minas Arena ter que prestar esclarecimentos à Comissão de Obras Públicas da Assembleia.
"O contrato safado que fizeram com o estado nos obriga a pagar por seus prejuízos e mesmo assim, querem impedir a torcida do Cruzeiro, povo mineiro, donos do estádio, de usufruir de um bem que é público", disparou, no Twitter.
Nesta segunda (9), até mesmo o presidente cruzeirense,
Sérgio Santos Rodrigues, falou sobre o descontentamento que a decisão de liberar lotação parcial causou em deputados estaduais
.
"Já vi vários parlamentares manifestando, também, essa indignação, já que o Mineirão é um equipamento que pertence ao povo de Minas Gerais. Não é de uma empresa ou de um clube. O povo de Minas Gerais quer ir ao jogo amanhã", pontuou.
Mineirão fala em decisão conjunta
A Minas Arena afirma que a decisão de liberar a venda de 35 mil bilhetes é fruto de conversas com o Cruzeiro. O clube, por sua vez, fala em "desrespeito" - palavra utilizada por Sérgio Rodrigues para resumir o caso.
Segundo os responsáveis pelo Mineirão, a pandemia de COVID-19 fez diminuir o rol de trabalhadores que dão apoio operacional às partidas de futebol. "Hoje, há uma carência de aproximadamente 600 vigilantes com a reciclagem em dia. Dentro das exigências legais para rodar operações maiores e sequenciais como é o caso desta semana", lê-se em trecho de nota enviada à reportagem, cuja íntegra pode ser vista ao fim deste texto.
A concessionária afirmou, ainda, que a Raposa não pagou parte dos custos por jogos feitos no Gigante da Pampulha nesta temporada.
A carga de tíquetes posta à venda pelo Cruzeiro já se esgotou. A equipe do técnico Vanderlei Luxemburgo está na 12° posição da Segunda Divisão, com 43 pontos. A quatro rodadas do fim do certame, o time enxerga a partida em casa como oportunidade para espantar, definitivamente, o "fantasma" do rebaixamento à Série C.
O Brusque, rival desta terça, tem objetivo semelhante. Em 16° lugar, os visitantes somam 38 pontos.
Nota do Mineirão sobre a partida entre Cruzeiro e Brusque
O Mineirão informa que, em conversas com o Cruzeiro, decidimos, em conjunto, realizar o jogo desta terça-feira, 9, para a capacidade de 35 mil pessoas.
Em função da pandemia, as empresas que trabalham com eventos foram desestruturadas após meses sem trabalhar e milhares de profissionais ficaram sem emprego, até trocando de profissão. Alguns fornecedores de eventos abriram falência durante o período. A restrição operacional é necessária para que o Mineirão preste um serviço, que garanta a segurança e experiência positiva das pessoas. Disso não abrimos mão.
Para resolver o problema a empresa de segurança está com recrutamento de vigilantes aberto. Hoje, há uma carência de aproximadamente 600 vigilantes com a reciclagem em dia. Dentro das exigências legais para rodar operações maiores e sequenciais como é o caso desta semana.
O Mineirão cumpre seus compromissos contratuais, como no caso dos jogos do Atlético que foram contratados em pacote de jogos até o fim do ano, garantindo previsibilidade no planejamento.
O Cruzeiro, ao entrar em contato conosco, sabia das possíveis limitações de agenda e de efetivo. As negociações com o clube celeste sempre foram feitas de maneira conjunta e construtiva, para as tomadas de decisões.
Para a resolução do problema, estamos juntos com a empresa responsável pela segurança, recrutando novos profissionais para trabalhar em nossa operação e aumentando o efetivo capaz de atender a demanda. Publicaremos no nosso site www.mineirao.com.br as informações para que os profissionais interessados nas oportunidades de trabalho se candidatem a recompor os quadros de colaboradores.
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