Wagner Pires de Sá na presidência do Cruzeiro em 2019 (Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Trata-se de um pedido de reconvenção em uma ação na Justiça do Trabalho em que Humberto Pires de Sá cobra R$ 127.557,42 do Cruzeiro. Originalmente, o filho de Wagner cobra indenização referentes a salários, férias, recolhimento de FGTS e multas pelo fim do contrato. A partir de 1º de março de 2018, atuou como assessor da presidência - cargo que deixou em 6 de janeiro de 2020, depois de o pai sair do clube.
No pedido de reconvenção formalizado em 30 de setembro e ao qual a reportagem teve acesso, o Cruzeiro não apenas requer o não pagamento da quantia cobrada por Humberto Pires de Sá, como exige a restituição dos valores a ele pagos durante o período de trabalho. "A contratação do Reclamante (Humberto) se deu unicamente pelo fato de que o mesmo é filho do ex-presidente do clube, sendo fato que nenhum serviço era prestado ao Clube", lê-se no documento da defesa celeste.
"É imperioso destacar que o Reclamante jamais presto qualquer serviço ao Clube, tendo sua contratação o objetivo único e exclusive de remunerar o filho do dirigente, repita-se, sem prestar sequer nenhuma atividade laborativa a favor do clube reclamado", prossegue.
Ao longo do pedido, o Cruzeiro fala em "abuso de direito, fraude e desvio da finalidade desportiva" no processo de contratação de Humberto. O clube alega que os principais responsáveis pela crise financeira e esportiva vivenciada desde 2019 são Wagner Pires de Sá e o ex-diretor de futebol, Itair Machado.
As partes envolvidas no processo vão se encontrar em uma audiência no dia 22 de maio de 2022. Na primeira sessão, não houve acordo.
O processo
Cruzeiro: clubes que viveram grandes crises
La Coruña vive grande crise e hoje disputa a Segunda Divisão B, equivalente à Terceira Divisão no Brasil
Foto: Divulgação
Nas últimas oito temporadas, o Nuremberg esteve na Série B em sete
Foto: Divulgação
O Fluminense chegou a cair para a Série C, mas ficou apenas dois anos longe da elite, sendo beneficiado com a criação da Copa João Havelange em 2000
Foto: Reprodução
O Rangers viveu algo ainda mais dramático do que o Cruzeiro, decretando falência em junho de 2012. Hoje, já está de volta à elite
Foto: Divulgação
Antes de receber grande investimento, o City era um clube médio da Inglaterra. As dificuldades eram tantas que o time acabou na Terceira Divisão em 1998/1999
Foto: AFP
O Tottenham já viveu temporadas duras na Série B nos anos 1920, quando ficou cinco anos na divisão de acesso. A última vez que disputou a Segundona foi em 1977
Foto: AFP
O Chelsea ficou várias temporadas na Segunda Divisão. A última vez que caiu foi nos anos 80, quando ficou de 1980 a 1983 - vencendo a competição em 1983/84 - e 1988/89, temporada na qual também ergueu o troféu
Foto: AFP
O Arsenal há tempos não disputa a Segunda Divisão. A última vez que isso ocorreu foi nos anos 1910. Após a Primeira Guerra Mundial (1914/1918), o Arsenal voltou à Primeira Divisão e não caiu mais
Foto: AFP
O Liverpool jogou a Segunda Divisão em 11 temporadas. A última vez que esteve no segundo nível do futebol inglês foi por um longo período, de 1954/55 a 1961/62
Foto: AFP
O Manchester United já viveu dias de dificuldades, com alguns rebaixamentos nas décadas de 1930 - quando amargou quatro anos seguidos na Série B - e 1970
Foto: AFP
Clube tradicional da Inglaterra, o Leeds já passou pela Segunda Divisão algumas vezes, como aconteceu com todos os times do país. A equipe do Elland Road ficou 16 anos longe da Primeira Divisão, jejum encerrado em julho de 2020
Foto: AFP
O ex-funcionário, que trabalhava na Toca da Raposa I e foi contratado em 1º de março de 2018, logo depois da posse do pai, alegou que exercia o cargo de assessor da presidência. Ele ainda solicitou pedido de justiça gratuita, justificando que não dispõe de recursos financeiros para arcar com as custas processuais. De acordo com a petição, Humberto recebia salário de R$ 12.639.
"A Reclamada (Cruzeiro) não pagou as verbas rescisórias a tempo e modo, não recolheu corretamente o FGTS, estando diversas competências em aberto, bem como não pagou corretamente o décimo terceiro e férias vencidas, conforme abaixo discriminado. Na tentativa de minimizar o prejuízo, a Reclamada voluntariamente forneceu ao Reclamante listagem de todas as verbas em aberto e não pagas, vide anexo. Isto posto, ante o descumprimento pela Reclamada da legislação laboral pátria concretiza-se a necessidade de buscar a tutela jurisdicional pela presente reclamação trabalhista", detalhou a ação trabalhista.
Na petição, Humberto Pires de Sá alega que o Cruzeiro não pagou as verbas rescisórias. Ele cobra R$ 2.527,80, valor referente ao saldo de salário, R$ 10.532,50 de férias proporcionais, R$ 3.861,92 como 1/3 das férias, R$ 13.902,90 de indenização por aviso prévio, R$ 1.053,25 por 13º salário proporcional ao aviso prévio, além de R$ 1.053,25 pelas férias sobre aviso prévio indenizado.
Ele ainda alegou na petição que o Cruzeiro não recolheu devidamente o FGTS durante o período do contrato, e que não recebeu do clube os salários de novembro de 2019, além do 13º de 2019 e o de dezembro do mesmo ano. O ex-funcionário pede multa de 50% caso os débitos não sejam quitados até a data da primeira audiência.
Wagner Pires de Sá presidiu o Cruzeiro de janeiro de 2018 a dezembro de 2019. Além da pífia campanha que levou o clube ao inédito rebaixamento à Série B do Brasileiro, a gestão ficou marcada por escândalos e denúncias de irregularidades administrativas, com a participação de empresários. Ele é investigado pela Polícia Civil após denúncia oferecida pelo Ministério Público, por falsificação de documentos, falsidade ideológica, apropriação indébita, organização criminosa e lavagem de dinheiro.