Arena do Jacaré passou por revitalização para receber jogos do Cruzeiro pela Série B (Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A. Press)

Depois de um quase ano e seis meses com restrições impostas pela pandemia de COVID-19, o interior de Minas volta a viver a expectativa de contar com público nos estádios em um jogo oficial. Diante da proibição de torcedores nas partidas em Belo Horizonte, a cidade de Sete Lagoas, na Região Central do estado, será a casa do Cruzeiro nos dois próximos jogos como mandante, pela Série B do Campeonato Brasileiro: diante da Ponte Preta, no sábado, às 11h, e contra o Operário, dia 16, às 19h, ambos transferidos para a Arena do Jacaré. Apesar do maior controle nos índices da doença no município de 240 mil habitantes, a liberação para a presença de torcida divide os sete-lagoanos.




prefeitura entende que o protocolo é eficaz e não há risco de uma nova explosão de casos e internações. A cidade recentemente voltou à onda verde do programa Minas Consciente - iniciativa do Estado que estabelece medidas para a retomada gradual das atividades - e adotou uma série de ações que acredita serem suficientes para a segurança, dentro e fora do estádio.

Arena do Jacaré poderá receber 30% da capacidade total de público. Hoje, isso equivale a 3,9 mil torcedores, mas esse número tende a ser ampliado para até 6 mil, com a liberação de mais um setor nas arquibancadas, que estava interditado.

O receio entre os moradores é que a partida cause aglomeração nos bares da cidade e no próprio estádio, entre outros desrespeitos a normas de prevenção à COVID-19 - como ocorreu na capital, no duelo entre Atlético e River Plate, pela Copa Libertadores, e entre Cruzeiro e Confiança, pela Série B, ambos no Mineirão, no mês passado.



Foi justamente por causa do descumprimento dos protocolos que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) voltou a vetar a presença dos torcedores nos estádios de BH.

Boa parte dos moradores e trabalhadores de Sete Lagoas acha prematura a volta do futebol com público. Cruzeirense, a operadora de telemarketing Rhayane Gabriele Matias, de 23 anos, não cogita a possibilidade de ir à Arena do Jacaré: "A cidade não está preparada. Acho que a secretaria de Saúde está colocando a população em risco ao liberar público. Virão muitos torcedores de outras cidades, o que aumenta o perigo de transmissão do vírus. E ainda temos muitos casos na cidade. A doença ainda nos causa muito medo".

O mesmo pensamento tem o engenheiro civil Marcos Antônio da Silva, de 47, que mora em Pedro Leopoldo, mas vai diariamente a Sete Lagoas por motivos de trabalho: "O futebol quer voltar a todo custo. Acho que é momento de concentrarmos forças para vencer definitivamente o vírus. O esporte não é tão importante se comparado às escolas, que ainda não tiveram seu retorno completo. As variantes são perigosas e, enquanto não houver mais estudos e definição sobre seu potencial de contaminação, tudo deveria ser mais cauteloso".

A depiladora Juliene Campos, de 42, teme uma infecção em massa: "Não é momento para aglomerações. Num estádio, as pessoas se descuidam muito, nunca respeitam as regras. Aglomeram e transmitem o vírus".




Já o motoboy Felipe Santos, torcedor da Raposa, tem opinião diferente. Ele concorda com o retorno do público, mas destaca a necessidade de obediência às regras: "Se as pessoas forem ao estádio com máscara, não haveria problema. E tem que haver mais fiscalização para que os torcedores não aglomerem".

Felipe ainda não está certo, contudo, de que vai ao jogo. Mas não por temer a COVID-19: "Já fui a muitos jogos na Arena do Jacaré, mas hoje os ingressos estão muito mais caros. Ainda não decidi se vou. Vai depender de quanto dinheiro terei".

venda de ingresso do jogo contra Ponte Preta, para o público geral, começa na quarta-feira e vai até sexta-feira, por R$ 60, sendo a meia-entrada ou o ingresso solidário a R$ 30, mediante doação de 1kg de alimento não-perecível. Para os sócios-torcedores, o valor varia entre R$ 30 e R$ 60, dependendo da categoria do associado. Os torcedores deverão portar o ticket impresso ou a versão digital. Para o jogo contra a Ponte, segundo o clube, o cartão de sócio valerá como ingresso.



VOLTAR ATRÁS

Caso o protocolo não seja cumprido, o secretário municipal de Saúde de Sete Lagoas, Flávio Pimenta, admite que a cidade pode seguir o exemplo de BH e voltar a proibir público nos estádios. "A prefeitura entende que existe o momento para restringir e o momento para flexibilizar e liberar gradativamente todas as atividades, inclusive esportes e entretenimento. Obviamente, caso haja mudança nos índices e evolução da doença, novas medidas restritivas serão adotadas, como foi feito no passado."

As normas discutidas pelo comitê formado pela Secretaria Municipal de Saúde, forças de seguranças, prefeitura e representantes de Cruzeiro e Democrata-SL (administrador do estádio) preveem obrigação de testagem até três dias antes da partida (caso o torcedor não esteja vacinado com as duas doses) e do uso de máscaras, além de proibição de aglomeração fora do estádio, restrições ao consumo de bebida alcoólica e de alimentação.

ACORDO ENTRE OS CLUBES

Gramado da Arena do Jacaré recebeu cuidados especiais para recuperação antes de jogo do Cruzeiro (Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A. Press)



Sem receber jogos desde que o Democrata-SL encerrou a participação no Módulo II do Campeonato Mineiro, a Arena do Jacaré vem passando por reformas há duas semanas para receber os dois jogos do Cruzeiro.



Além da limpeza completa do estádio, funcionários vão concluir a troca de lâmpadas dos refletores e do gramado nos próximos dias. As obras são custeadas pela Raposa, que fez parceria com o clube de Sete Lagoas.

O Democrata costuma cobrar aluguel em torno de R$ 6 mil para ceder o estádio (R$ 2 mil para jogos amadores), mas a taxa deve ser amortizada em virtude da reforma. As diretorias podem se reunir nas próximas semanas para buscar novo acordo, caso a Raposa se interesse em continuar atuando na cidade.

O presidente do Jacaré, Renato Paiva, afirma que os dois clubes têm a ganhar com o Cruzeiro jogando em Sete Lagoas: "No fim das contas, será positivo para todos. O Cruzeiro terá um custo mais baixo com estádio se comparado a Mineirão ou Independência, além da proximidade com a torcida, já que a arquibancada é perto do campo. E o Democrata ganha visibilidade e aproximação com o Cruzeiro, além de aumentar a receita. Temos uma relação boa com a diretoria deles".




Segundo o dirigente, a Arena do Jacaré tem total condição de voltar a receber público: "A diminuição dos casos de COVID-19 é nítida. Certamente, existe uma preocupação muito grande com relação ao protocolo, mas o Cruzeiro e a Secretaria Municipal de Saúde e a prefeitura estão muito conscientes em cumprir as medidas. Muitas pessoas vão trabalhar na partida para orientar os torcedores".