Embora a Justiça tenha citado o
Cruzeiro
a indenizar os empresários que investiram na contratação do zagueiro
Dedé
, o caso se arrastará por muito tempo nos tribunais. O principal objeto da discussão é o valor da cobrança -
R$330 milhões
-, quase três vezes superior à receita do clube em 2020, em torno de R$120 milhões, e equiparado ao faturamento recorde de 2018, de R$329 milhões.
A quantia estratosférica pleiteada pelos empresários que detinham participação nos direitos de Dedé supera até mesmo grande parte do patrimônio declarado pela Raposa. No demonstrativo financeiro do exercício de 2020, por exemplo, o clube contabilizou
R$98,4 milhões
em bens intangíveis (direitos econômicos e federativos de atletas, softwares, patentes e marcas) e
R$213,7 milhões
imobilizados (terrenos, edifícios e construções, móveis, utensílios e equipamentos, veículos e obras em andamento).
Se negociasse os imóveis e também os jogadores pelo valor inserido no balanço, o Cruzeiro receberia
R$312,1 milhões
- saldo insuficiente para cobrir os R$330 milhões requeridos pelo grupo de investidores. O clube entrou com embargos contestando as cifras, e não terá de direcionar qualquer quantia aos reclamantes num primeiro momento. É provável, aliás, que esse imbróglio se arraste para além da gestão do presidente Sérgio Santos Rodrigues, que se encerra em dezembro de 2023.
Advogados ouvidos pela reportagem explicaram que no período da contratação de Dedé, em 2013, era comum investidores inserirem no contrato multas equiparadas à cláusula indenizatória desportiva. A medida funcionava como uma forma de proteção ao credor, que corria o risco de perder todo o valor aplicado caso o jogador saísse a "custo zero" por culpa do clube - como uma rescisão indireta em decorrência de dívidas salariais.
Ainda de acordo com especialistas, o montante pretendido pelo grupo de empresários não corresponde necessariamente ao valor a ser sentenciado. O caso será analisado de forma minuciosa pelo juiz, que poderá considerar a pedida desproporcional e abusiva. Ou seja, os investidores sairiam vitoriosos na causa, porém embolsariam uma quantia bastante inferior, dentro das possibilidades de pagamento da agremiação.
Em abril de 2013, os investidores pagaram R$14 milhões ao Vasco por Dedé e o colocaram no Cruzeiro, que, por sua vez, teria direito a uma taxa de vitrine em uma transferência do atleta para outro clube. Os direitos econômicos do defensor estavam divididos da seguinte forma -
Grupo DIS - 51,91%; GT Sports - 6,5%; Marcus Vinícius Sanchez Secundino - 30,5%; e Giscard Salton - 11,09%
.
Em seu auge técnico e físico na Raposa, Dedé ganhou prêmios de destaque de competições e foi convocado à Seleção Brasileira. Em várias entrevistas, o jogador revelou ter recebido propostas da Europa, casos de Lyon, da França (2018), e Juventus, da Itália (2014). O Flamengo também sinalizou uma oferta de R$30 milhões em 2019, porém o então vice-presidente de futebol, Itair Machado, descartou a venda citando a multa de R$330 milhões.
Em oito anos, Dedé conquistou sete títulos pelo Cruzeiro: dois Campeonatos Brasileiros (2013 e 2014), duas Copas do Brasil (2017 e 2018) e três Campeonatos Mineiros (2014, 2018 e 2019). Ele esteve em campo em 188 oportunidades e marcou 15 gols. Sua sequência foi prejudicada por lesões nos dois joelhos, a ponto de atuar apenas 12 vezes de 2015 a 2017.
Após acionar a Justiça do Trabalho em virtude de pendências de salários, férias, 13º e Fundo de Garantia (FGTS), Dedé chegou a um acordo para rescindir com o Cruzeiro em 1º de julho de 2021. Ficou definido que o clube pagará ao ex-camisa 26 R$16,6 milhões ao longo de cinco anos, contados partir de janeiro de 2022 - 60 vezes de R$276.666,66. O valor inicial do processo superava R$35 milhões.
Ainda sem clube após sair da Toca, Dedé não disputa uma partida oficial desde 19 de outubro de 2019, quando a Raposa venceu o Corinthians por 2 a 1, em São Paulo, pela 27ª rodada do Brasileirão. Na ocasião, ele machucou o joelho e precisou ser substituído por Cacá. Posteriormente, tentou tanto o tratamento conservador quanto o cirúrgico, porém não alcançou as condições ideais para regressar aos gramados.
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