Wagner Pires de Sá e Itair Machado em reunião com pai de Estevão, Ivo Gonçalves, em 2018 (Foto: Divulgação / Cruzeiro)

Pai do jogador Estevão Willian, o Messinho, de 14 anos, que deixou o Cruzeiro e acertou com o Palmeiras, Ivo Gonçalves acionou o clube celeste na Justiça do Trabalho. Ele era funcionário da Raposa e cobra R$ 162.811,00 por salários atrasados, férias, verbas rescisórias e 13º salário não pagos.



 
Ivo tinha salário de R$ 15 mil no clube. Segundo a ação, o Cruzeiro chegou a iniciar uma negociação de parcelamento com um representante de Ivo, mas o "reclamante recebeu um comunicado de que, caso quisesse receber algo, ajuizasse uma ação".

Considerado uma promessa da base, Messinho deixou o Cruzeiro em maio deste ano. Ele assinou um contrato de formação com o Palmeiras, já que ainda não tem idade para ter vínculo profissional.

Relatório feito pela Kroll, empresa de investigação corporativa contratada para auditar o período da gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá (2018 a 2019), revelou um contrato de prestação de serviços de Ivo com o Cruzeiro. Por meio da empresa EW10 Sports LTDA, ele recebia remuneração de R$10 mil mensais. Depois, o salário aumentou. O documento aponta que, entre junho de 2018 e abril de 2019, o pai de Messinho embolsou R$ 102.961,00.



Estevão foi um dos temas de reportagem exibida pelo Fantástico, da TV Globo, em maio de 2019. Na ocasião, a emissora revelou que o Cruzeiro, então administrado por Wagner Pires de Sá, cedeu 20% de supostos direitos econômicos da criança ao empresário Cristiano Richard dos Santos Machado.

A comercialização dos direitos econômicos da criança não poderia ter acontecido. Inicialmente, porque a Fifa determinou, em 2015, que apenas clubes e jogadores podem ter partes de direitos econômicos. Depois, porque revelações só podem assinar contratos profissionais com os clubes a partir dos 16 anos. Até lá, só existe o contrato de formação, sem direitos federativos ou econômicos.

Mesmo após a repercussão extremamente negativa sobre a comercialização desses 'direitos', o Cruzeiro voltou a negociar, em 1º de junho de 2019, outros 15% do 'passe' da criança. A transação foi feita com o Estrela Sports Ltda, do então conselheiro Fernando Ribeiro de Morais. Posteriormente, os negócios foram desfeitos.



Com a saída do atleta, o Cruzeiro divulgou uma nota criticando o empresário André Cury, que agencia a criança, o pai do garoto, Ivo Gonçalves, e o gerente do Centro de Formação de Atletas do clube paulista, João Paulo Sampaio.

O Cruzeiro disse que foi uma "ingrata surpresa" "a saída do jovem Estevão Willian, guiada de maneira bastante questionável pelo seu estafe, que faltou com respeito e profissionalismo para com a instituição, dando um mau exemplo para o próprio garoto, que como muitos outros sonham em trilhar uma carreira de sucesso no futebol e em se tornarem referências positivas".

O Cruzeiro ainda lembrou que "Ivo Gonçalves, pai do garoto, é réu em um dos processos dos quais o Cruzeiro é vítima, sendo investigado pelo crime de falsidade ideológica".

A nota também traz ataques a André Cury. O clube fez questão de informar que o empresário, que faz parte do estafe da promessa, foi "supostamente um dos alvos da recente operação de busca e apreensão da Polícia Civil, de acordo com informações veiculadas por alguns veículos de imprensa".