No ranking do banco com as maiores dívidas dos clubes brasileiros, Cruzeiro ocupa a quinta posição (Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)



O economista Cesar Grafietti, do Itaú BBA, divulgou esta semana o relatório anual sobre as finanças dos clubes brasileiros com base nos dados oficiais de 2020. Diferentemente de outros estudos e dos balanços oficiais, que analisam a dívida total das agremiações, o levantamento feito pelo banco desconsidera dívidas decorrentes de ações trabalhistas e cíveis. Justamente por isso, a Raposa teve endividamento estimado em R$ 662 milhões. Por sua vez, o demonstrativo contábil publicado pela direção cruzeirense em abril mostrou dívida total de R$ 897 milhões.



Emebed


No ranking do Itaú BBA das maiores dívidas, o Cruzeiro ocupa a quinta posição, atrás de Atlético (R$ 1,21 bilhão), Corinthians (R$ 916 milhões), Vasco (R$ 725 milhões) e Botafogo (717 milhões).

Na avaliação do Itaú BBA, a recuperação do Cruzeiro “é um caminho muito longo”.

A avaliação sobre o Cruzeiro tem que partir da premissa de que é um clube em reconstrução, e como tal merece ser analisado como tal. Ou seja, precisamos entender se os esforços foram feitos na direção correta ou o clube continuou um percurso equivocado. A boa notícia é que vemos uma evolução. Se não é revolucionária, ao menos os movimentos foram corretos: redução de custos, reestruturação de dívidas com alongamento de prazos, melhora na qualidade das informações divulgadas. Ainda que os investimentos tenham vindo acima do ideal, dentro do todo não chega a ser um problema.

Como tudo tem dois lados, a condição do clube era tão complicada que o grande esforço parece ter significado pouco. E foi. Mas é um processo que demanda tempo e paciência. Se alguém esperava soluções mágicas e resoluções de problemas ao estalar de dedos, infelizmente estava totalmente equivocado. O processo ainda levará uns bons anos. Mas se for feito da maneira como começou, o resultado virá. Aí mora o maior risco: a ansiedade.



Avaliação Geral
2020: Neutro/Negativo

2021: Expectativa neutra/negativa (receitas continuarão baixas, precisará reduzir ainda mais os custos, pressão por pagamento de dívidas, ausência de fontes adicionais de recursos)".

Em outro ponto, o estudo fez uma análise do impacto da queda do Cruzeiro para a Série B.

Jogar a Série B fez as receitas despencarem: foram 60% menores que em 2019. Exceto pelo crescimento de Publicidade, todas sofreram grande impacto, agravado pela pandemia. Reduções de custos e despesas costumam ser mais lentas, e em 2020 o clube conseguiu uma diminuição de 44%. Mas como a base era superior às receitas, ainda assim, a geração de caixa (EBITDA) foi negativa em 2020”.

Em mensagem enviada à sua diretoria, o presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, avaliou de forma positiva o estudo feito pelo Itaú BBA sobre as finanças do clube no exercício 2020.

Leia a seguir:

"Boa tarde! 

O Itaú BBA soltou sua importante publicação anual analisando a situação financeira dos clubes.




Muito interessante a conclusão sobre nosso Cruzeiro: “O processo ainda levará uns bons anos. Mas se for feito da maneira que começou, o resultado virá”.

Ou seja, mais uma publicação de qualidade que reconhece o início de trabalho de gestão que vem sendo implantando, cujos resultados jamais serão imediatos.

Precisamos aliar isso com o resultado em campo e vamos batalhar por isso, mas como nossos problemas são MUITO maiores, é importante ver especialistas no assuntos reconhecendo o que foi feito em um ano.

Só não podemos deixar a ansiedade e o imediatismo julgarem que está tudo errado. Sempre há correções a serem feitas e serão, mas os primeiros passos estão sendo dados pra consertar o trajeto.

Continuaremos trabalhando muito e contamos com seu apoio!

Abraço"

Balanço financeiro de 2020


Em 28 de abril, o Cruzeiro informou que a Moore Auditores e Consultores aprovou sem ressalvas o balanço financeiro do exercício de 2020. O clube registrou déficit acumulado de R$ 921 milhões e uma dívida de R$ 897 milhões




De acordo com a Moore, “as demonstrações financeiras apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira do Cruzeiro Esporte Clube em 31 de dezembro de 2020, o desempenho de suas operações e seus fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil, aplicáveis às entidades sem finalidades de lucros (ITG 2002 (R1)) e às entidades desportivas (ITG 2003 (R1)), emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade”.

Em outro trecho do relatório, a empresa de auditoria chamou a atenção para a “incerteza significativa relacionada à continuidade operacional do clube” em razão dos “sucessivos déficits nos últimos exercícios”. O passivo a descoberto é de R$713,3 milhões - prejuízo acumulado de R$921,1 milhões, ante um patrimônio de R$207,8 milhões.
 
Essa condição indica a existência da incerteza significativa que pode levantar dúvida quanto à capacidade de sucesso das ações e medidas que estão sendo tomadas pela administração. As demonstrações financeiras foram preparadas com base no pressuposto da continuidade de suas operações. Nossa opinião não contém ressalva em relação a este assunto”, agregou a consultoria.




A gestão do presidente Sérgio Santos Rodrigues conseguiu diminuir o déficit do exercício de R$ 259,2 milhões, em maio, para R$ 226,5 milhões. O clube considerou a movimentação como “superávit de R$ 33 milhões”.
 
Com relação às receitas, o Cruzeiro faturou R$ 118,8 milhões líquidos em 2020, 57,7% a menos que os R$ 280,8 milhões em 2019. A baixa expressiva se deve à queda à segunda divisão do Campeonato Brasileiro, que impactou drasticamente em cotas de televisão - de R$ 102,5 milhões para R$ 40,3 milhões - e vendas de direitos econômicos - de R$ 108 milhões para R$ 23,45 milhões.

Nas despesas, o custo com futebol caiu de R$ 438 milhões, em 2019, para R$ 250 milhões, em 2020 (43%) -, porém ficou acima de 2017, quando a Raposa se sagrou pentacampeã da Copa do Brasil - R$ 245 milhões. Chamou a atenção o aumento de R$ 36,4 milhões em "acordos e indenizações" (de R$ 16,8 milhões para R$ 53,2 milhões), em função da necessidade das rescisões de jogadores após o rebaixamento da equipe no fim de 2019. 



 
No quesito dívida, o clube celeste salientou a redução das obrigações em curto prazo, caindo 77% do valor total, em 2019, para 36,5%, em 2020. Da pendência de R$ 897 milhões, R$ 312 milhões fazem parte do "passivo circulante", com até 12 meses para quitação, e R$ 585 milhões compõem o "passivo não circulante", com vencimento superior a um ano.
 
Um dos pontos relevantes para essa diminuição foi o acordo de parcelamento de tributos com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. A dívida ativa de R$ 334,1 milhões caiu para R$ 182,3 milhões - o que representa uma economia de quase R$ 152 milhões. Além disso, o pagamento será feito em 145 meses contados a partir de outubro de 2020.
 
O Cruzeiro ainda renegociou prazos de empréstimos bancários e ganhou fôlego para liquidá-los no curto prazo, despencando de R$ 65,6 milhões, em 2019, para R$ 14,4 milhões, em 2020. Por outro lado, a direção terá de administrar um crescimento em obrigações trabalhistas e sociais do passivo circulante - de R$ 81,7 milhões para R$ 90,8 milhões. O campo "contas a pagar" também apresenta cifras vultosas: R$ 136,3 milhões.