Em busca da classificação às oitavas de final da Copa do Brasil, o Cruzeiro enfrentará a Juazeirense nesta quarta-feira, às 19h, no estádio Adauto Moraes, em Juazeiro (BA), pelo confronto de volta da terceira fase. A tendência é que Felipe Conceição escale a equipe no 4-3-3, com três volantes, dois atacantes de velocidade pelas pontas e um atleta de referência na grande área. Esse foi o esquema utilizado pelo técnico em boa parte dos 18 jogos da temporada.
Em 2021, os cruzeirenses se acostumaram a ver Adriano como cabeça de área, Matheus Barbosa na meia direita e Rômulo caindo pelo lado esquerdo. No ataque, Conceição observou por mais vezes Bruno José, Airton e Rafael Sobis. A formação animou a torcida com a vitória por 1 a 0 sobre o Atlético, em 11 de abril, no Mineirão, pela nona rodada do Campeonato Mineiro. Contudo, a eliminação para o América nas semifinais do estadual e o início na Série B com derrotas nas duas primeiras rodadas evidenciaram a vulnerabilidade defensiva e colocaram em xeque as escolhas do comandante.
Enquanto isso, jogadores com características de armação, casos de Marcinho e Claudinho, perderam espaço no elenco, a ponto de ficarem fora até mesmo do banco de reservas. No grupo ainda há o jovem Marco Antônio, de 20 anos, observado pelo atual treinador por apenas 15 minutos em um compromisso oficial - derrota por 1 a 0 para o Pouso Alegre, em 18 de abril, pela 10ª rodada do estadual, no castigado gramado do estádio Manduzão, no Sul de Minas.
Dos três, Marcinho foi o que mais recebeu oportunidades no Cruzeiro. Em 12 jogos - oito como titular -, marcou um gol na vitória por 2 a 0 sobre a URT, em 6 de março, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, pela 3ª rodada do Mineiro. Quanto ao posicionamento, o jogador apresentou dificuldades para atuar aberto pelo lado esquerdo e perdeu espaço para Rômulo, que compreendeu rapidamente as orientações de Felipe graças à experiência acumulada durante quase uma década em clubes tradicionais da Itália (Fiorentina, Verona, Juventus, Napoli, Genoa e Bari).
Insatisfeito, Marcinho ficou fora dos planos de Conceição e chegou a comunicar à diretoria que gostaria de ser negociado. Ele manteve conversas com o CSA, cujo executivo de futebol era Rodrigo Pastana. Com a contratação de Pastana pelo Cruzeiro para o lugar de André Mazzuco, que acertou com o Santos, a comissão técnica concordou em dar uma nova chance ao meio-campista. A expectativa é de que haja alguma variação no esquema tático, de modo que o atleta possa render da mesma forma que em 2020, quando marcou oito gols e deu cinco assistências em 37 jogos pelo Sampaio Corrêa na Série B.
Marcinho entrou em campo pela última vez no Cruzeiro no revés para o América, em 9 de maio, por 3 a 1, no Independência. Quem também participou desse compromisso, saindo do banco de reservas aos 44 minutos do segundo tempo, foi Claudinho. Revelação da Ferroviária, de São Paulo, o jovem de 20 anos que atua preferencialmente pelo centro também não se adaptou à meia-esquerda. Integrante do elenco celeste há mais de um ano, o atleta não balançou a rede nas 22 partidas que disputou. Com Felipe Conceição foram oito presenças (duas como titular).
Mesmo com a preferência de Conceição por três volantes no meio-campo, o Cruzeiro negociou com Yeison Guzmán, do Envigado, em meados de abril. O jogador de 23 anos aceitou a proposta e chegou a ser anunciado pelo clube, porém desistiu da mudança para Belo Horizonte por influência de seu empresário, Kormac Valdebenito. Na Colômbia, Yeison é avaliado como um armador de transições rápidas, com boa visão de jogo e desequilibrador no um contra um. Segundo o Soccerway, o camisa 10 disputou 132 jogos e marcou 28 gols pelo clube que também revelou o astro James Rodríguez.
Afinal, o time precisa ou não de um armador?
A discussão sobre a necessidade de o Cruzeiro contratar ou não um armador (ou mudar o esquema e aproveitar as peças disponíveis no elenco) não fica apenas em conversas de torcedores nas redes sociais. Em participação na live do canal Clube Ligados, em 18 de maio, o presidente Sérgio Santos Rodrigues ressaltou que não existe essa carência no grupo para a disputa da Série B do Brasileiro.
“Muita gente comenta futebol sem conhecer futebol. Às vezes fala, ‘ah, no Cruzeiro está faltando um camisa 10’. Mas no estilo de jogo dele (Conceição) não tem camisa 10. O Felipe joga no 4-3-3, com um volante fixo e dois volantes batendo e voltando o tempo inteiro. Ele prefere jogadores de intensidade, igual a gente fala, que corram muito, que cheguem e façam o gol, e voltem para marcar, do que você ter um camisa criativo. Então, são perfis diferentes de estilo de jogo. E joga como a gente quer, com posse de bola, atacando muito”.
Por outro lado, o ex-jogador Dirceu Lopes - camisa 10 do time campeão da Taça Brasil de 1966 e segundo maior artilheiro da história do Cruzeiro, com 228 gols - ressaltou a carência de um armador com características de construção de jogadas e bom arremate.
“O que me chamou atenção foi a necessidade de um famoso camisa 10, um pensador do time. Apesar disso, vejo evolução no time. Antes, não tinha absolutamente nada. Hoje, consigo ver mais organização. Estão surgindo revelações, mas tem um grande defeito no setor ofensivo”, disse Dirceu, ao Superesportes.
“O Cruzeiro precisa de um pensador, de um camisa 10. O Rômulo é bom jogador, mas atuar como armador não é a função dele. Acho que é o que vocês da imprensa têm observado, os torcedores também”, complementou o ídolo celeste.
Conforme ressaltado por Dirceu Lopes, Rômulo é quem mais se aproxima do perfil de camisa 10, graças à leitura de jogo e à qualidade no passe, nas cobranças de faltas laterais e nos escanteios. Na Itália, o veterano de 34 anos quase sempre jogou em uma linha com quatro no meio-campo, em função um pouco diferente da desempenhada no Cruzeiro.
Já Matheus Barbosa é menos efetivo na distribuição de jogo, embora viva um bom momento na parte ofensiva ao despontar como artilheiro do elenco em 2021, com quatro gols (três de cabeça) em 18 partidas. Por fim, Adriano é seguro para efetuar passes verticais e na condução de bola, mas tem a finalização como principal fundamento a ser aprimorado.
Experiências
Em clubes anteriores, Felipe Conceição já “abriu mão” do armador. No América que terminou a Série B de 2019 em quinto, com 61 pontos, ele definiu um meio-campo padrão com Zé Ricardo, Juninho e Willian Maranhão, enquanto Matheusinho, Felipe Azevedo e Júnior Viçosa integravam o trio de ataque. No Bragantino, em 2020, o técnico chegou a deixar Claudinho (que viria a marcar 18 gols no Brasileirão) no banco de reservas no Campeonato Paulista.
No Cruzeiro, Conceição arriscou uma espécie de 4-1-4-1 na partida contra o CRB, domingo, no Mineirão. Ele colocou Flávio como volante de contenção e deixou Rafael Sobis flutuando como armador ao lado de Rômulo. Airton e Bruno José cumpriram suas funções habituais de pontas, enquanto Guilherme Bissoli foi o centroavante.
Ofensivamente, o Cruzeiro correspondeu às expectativas com 22 finalizações (nove em direção à meta) e marcou com Airton, Ramon e Matheus Barbosa, além de exigir grandes intervenções de Diogo Silva, goleiro do CRB. Contudo, o time cometeu muitas falhas na retaguarda e foi vazado quatro vezes - Lucas França não fez uma defesa sequer. A derrota por 4 a 3 aumentou a pressão por resultados sobre Felipe Conceição e deixou a equipe na lanterna da Série B, com nenhum ponto somado.
Saiba mais
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